O poder dos não eleitos

“Chamam-na democracia. E não é”, disse alguém. Igualamento dos partidos, vigilância e xenofobia ameaçam constituir um totalitarismo pós-moderno

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Da Redação

O ano de 2011 foi particularmente trágico ao promover o avanço da democracia em algumas parte do mundo enquanto, em outras regiões, encolhia a participação dos cidadãos na definição dos rumos políticos de seus países. Nos últimos 12 meses, vimos ditadores africanos renunciarem ao poder após intensas demonstrações populares. Os maiores expoentes da chamada Primavera Árabe foram os cidadãos tunisianos e egípcios. Já na Europa, o sistema democrático colheu reveses importantes de legitimidade, sobretudo na Grécia e na Itália, onde governos eleitos pelo povo foram destituídos e substituídos por homens escolhidos pelo mercado financeiro para tirar seus países da crise.

Outras Palavras acompanhou de perto a maneira como os grandes bancos e as agências de classificação de risco — agora mais do que nunca personificadas na autoridade do presidente francês, Nicolas Sarkozy, e da chancelar alemã, Angela Merkel — foram revelando-se como os verdadeiros proprietários da democracia europeia ao autointitularem-se detentores da estabilidade do euro e do bloco econômico que nele se sustenta. Só é possível entender o grito dos jovens espanhóis por Democracia Real se entendemos os instrumentos pelos quais os governos do Velho Mundo foram, um a um, cooptados pelos ditames do mercado — que nem a crise de 2008, por eles provocada, conseguiu mitigar. Pior que isso, o hiperindividamento de que padecem os Estados europeus hoje em dia são, em grande medida, consequência dos pacotes de socorro que destinou dinheiro público para as instituições financeiras em bacarrota.

Por isso é que prestamos atenção no alerta de Ignacio Ramonet para a ascensão do que o intelectual franco-espanhol chama “democraduras”, ou seja, regimes com aparência de democracia, mas onde os cidadãos comuns pouca influência exercem. O direito ao voto também parece haver-se transformado em mero detalhe em países como a Espanha, que passou por eleições gerais em pleno cataclismo, fabricando taxas estratosféricas de desemprego — e desesperança — numa nação que, antes da crise, possuía a nona economia mais poderosa do mundo. Fosse qual fosse o partido a vencer o pleito, as mesmas medidas de austeridade seriam aplicadas: tudo já havia sido decidido há tempos, bem longe de Madri.

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Um comentario para "O poder dos não eleitos"

  1. Sandro disse:

    Acredito que o termo correto seja ” bancarrota”, e não “bacarrota”. Ótimo artigo.

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