O mito do torcedor violento

Pesquisas sustentam: demonizar torcidas organizadas é parte da elitização do futebol e visa limitar pobres à TV

 

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Pesquisadores sustentam: demonização das torcidas organizadas é parte da tentativa de elitizar o futebol e restrigir pobres a meros telespectadores

Por Irlan Simões, colaborador de Outras Palavras

Em maio de 2010, após intensas discussões entre o poder público, a Polícia Militar e presidentes de clubes, o estado de Sergipe tornou-se pioneiro em um processo que avança sobre o futebol brasileiro: a criminalização das torcidas organizadas (ou T.O.s). Uma mestranda do núcleo de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal de Sergipe, Klecia Renata de Oliveira Batista, animou-se a avaliar tal fenômeno.

Durante dois anos, a mestranda sergipana acompanhou o funcionamento interno da torcida Trovão Azul, adepta do Confiança, interessada em estudar a violência no meio.  Intitulado “Entre torcer e ser banido, vamos nos (re)organizar: um estudo psicanalítico da torcida Trovão Azul”, a tese tornou-se um documento inédito sobre a criminalização das torcidas organizadas a partir da realidade sergipana. “Foi um processo fundamental para o meu trabalho, justamente quando eu estava tentando mapear a pressão que a torcida vinha enfrentando no momento”, afirma Klecia.

Defendido em 27 de maio último, o trabalho de Klecia aponta: a “modernização” do futebol brasileiro visa na verdade adequar o jogo aos interesses do mercado; ela está sendo imposta mesmo que as transformações custem a perda dos valores culturais embutidos no futebol. “O que se vê hoje é a torcida organizada enquadrando-se ao que alguns historiadores chamam de torcidas-empresa, rendendo-se a uma lógica organizada pelo capital”, afirma a pesquisadora.

O Estado como protagonista

Visando explicar o fenômeno, a mestranda recorreu ao referencial psicanalítico de Sigmund Freud. Ela sugere que, na busca de uma adequação dos estádios e do jogo ao que se entende pelo “ideal da ordem, limpeza e beleza da Modernidade”. Justifica assim as medidas punitivas que têm sido tomadas contra as torcidas organizadas.

Segundo a pesquisadora, estes coletivos cumpriam papel de resistência a esse processo. “Hoje, não há mais margem de sobreviver no futebol fora desse padrão de “modernidade”. Dessa realidade, a única coisa que tinha sobrado eram as torcidas, que agora também estão sendo ameaçadas”, afirma. Para ela, a violência no futebol não se restringe às torcidas organizadas. Na realidade, a violência é própria da vida do homem em sociedade e as torcidas constituem, no âmbito futebolístico, um microespaço no qual essa violência se torna presente.

“O novo Estatuto do Torcedor é o carro-chefe desse processo de modernização”, afirma Klecia Renata, questionando o papel que o projeto aplicado pelo ministério dos Esportes vem cumprindo. Para ela, a lei sancionada em 2010 é responsável pelas ameaças de banimento, proibição da entrada nos estádios, venda de materiais padronizados e criminalização dos torcedores organizados. Ainda segundo a pesquisadora, a reorganização das T.Os tem gerado elitização de seu corpo de integrantes, uma vez que a concepção de que o torcedor mais pobre é o causador da violência é o que tem imperado no senso comum.

Panorama nacional

Além da orientação do professor Eduardo Leal Cunha e da presença de Daniel Menezes Coelho, ambos da UFS, a defesa da dissertação teve como convidado o historiador Bernardo Borges Buarque de Hollanda, doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da Faculdade Getúlio Vargas (CPDOC-FGV). Estudioso do assunto há mais de dez anos, Bernardo reforçou, no seu comentário como integrante da banca da defesa da dissertação, a ligação entre o “ideal da ordem e limpeza da Modernidade” e o processo de elitização do público torcedor do futebol, traçando paralelos com os processos ocorridos em outros países, como a Inglaterra.

O pesquisador, que também estudou o histórico das torcidas organizadas no Brasil, lembra que criminalizar os torcedores uniformizados é parte do mesmo projeto que busca excluir o torcedor mais pobre dos estádios. “Isso é uma forma de elitizar o espectador, e essa vai ser a tendência. O “telespectador” vai ser o lugar das classes populares”, afirma. Bernardo justifica sua hipótese mostrando como os estádios têm diminuído, após sucessivas reformas, a sua capacidade de público e aumentado o valor dos ingressos buscando atingir apenas um público consumidor de classe média-alta.

Um aspecto também ressaltado pelo estudioso é a movimentação das torcidas organizadas buscando frear tal processo. No Rio de Janeiro, foi fundada a Federação das Torcidas Organizadas, a Ftorj, enquanto no âmbito nacional a Confederação das Torcidas Organizadas (Conatorg) dá os primeiros passos. “É sempre muito difícil uma representação das torcidas organizadas porque existem muitos conflitos internos e entre elas. Mas já é um sinal de que há um avanço, uma possibilidade de declamar direitos. Não apenas deveres, como querem os dirigentes”, afirma.

Quando questionado sobre como o senso comum brasileiro tem apoiado tal processo de modernização, Bernardo é enfático: “É muito desigual essa transmissão de mensagens”. Para ele há grande dificuldade em explicar como esse processo vai excluir os próprios torcedores que aprovam tais medidas.

O avanço do processo de criminalização

Em 13 de junho de 2011, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro acionou as torcidas organizadas para uma audiência pública. Estavam presentes representantes de 36 torcidas, do ministério do Esporte, da Polícia Militar, da secretaria de Estado de Esporte e Lazer, da superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj) e da Federação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro (Ftorj).

Todos os convidados tiveram de assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que operacionaliza o Estatuto do Torcedor. Entre as exigências, estão a proibição de diversos artigos, como bandeiras, faixas, e materiais que possivelmente ocasionariam o ferimento dos presentes no estádio e a penalização da Torcida Organizada em caso de descumprimento de algumas normas por parte de algum dos seus integrantes.

Ao fim da Audiência, Flávio Martins, presidente da Ftorj, lamentou que apenas as torcidas organizadas fossem responsabilizadas pelo esvaziamento dos estádios. “Muito se fala da violência promovida pelas torcidas, mas nunca se questiona a condição do transporte público que tem sido disponibilizado, nem o valor dos ingressos e nem o horário dos jogos”, afirmou.

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10 comentários para "O mito do torcedor violento"

  1. Adilson Camacho disse:

    Também achei confuso o artigo! O estudo faz um recorte da modernização das relações socias em geral e, especificamente, no futebol (…), sem considerar as cenas reais de confronto e violência com os correspondentes códigos de comunicação (provocações, combates agendados e ao acaso), e consequências (hospitalizações e óbitos!). E mesmo que haja participação majoritária de jovens pobres, há aqueles de maior renda! É preciso considerar dimensões mais gerais da referida modernização, desde a estrutura fundiária urbana com perda de espaço para a prática esportiva, interesses dos cartolas, das emissoras de televisão, da FIFA – que não é bom exemplo de jeito nenhum! Isso já foi bastante estudado por historiadores na década dos 80 e vem sendo detalhado por procuradores e politólogos. Também o Juka Kfouri não cansa de tocar no assunto, de modo correto! Cuidado com patrulhamento! Expressão é importante quando não é cega! Esses jovens precisam ter acesso à escolarização formal de verdade (estudarem idéias e dissecarem ética, econômica, política, cultural e geografiamente os fatos sociais ), o que é deficitário, mesmo quando forem ricos e de boas escolas.

  2. Gabriel disse:

    Acho que a reportagem tem um grande mérito e uma grande falha.
    Começando pelo pior, a falha, está em ser condescendente com as torcidas organizadas. Há muito de povão nas organizadas mas também há de elite. Os dirigentes das TOs são em sua imensa maioria classe média pra cima. Pior, de um modo geral, são oriundos dessa classe média os que começam e/ou incentivam as brigas.
    Por tudo isso, acho dizer que o combate às torcidas organizadas faz parte da tentativa de elitização dos estádios é uma meia verdade.
    O mérito da reportagem está em denunciar esse processo de verdadeira “higienização” dos estádios – uso essa palavra porque é uma verdadeira limpeza sócio étnico cultural, muito embora não use de violência direta e extermínio.
    Está mais que na cara que o estatuto do torcedor, ingressos caros, diminuição da capacidade de público são medidas cruéis e discriminatórias, travestidas de responsabilidade e segurança.
    As TOs estão muito longe de serem santas, mas acabam por ser bode expiatório e como a reportagem mostra bem, acaba sendo um desvio de foco de problemas como transporte e segurança pública. Temos que reagir a esse processo de “higienização”, pois está bem implícito nele o preconceito de que a violência é causada pelos pobres e supostamente “incivilizados”.

  3. Fillipe Soares Romano disse:

    Após ler todos esses comentários, eu tenho algumas coisas a pontuar, eu faço parte de torcidas organizadas a 8 anos da (independente do SPFC), e tenho um pai que fez parte da Gaviões por 21 anos, sou graduando na USP, e faço estudo sobre o mesmo assunto em minha monografia.
    Pois bem, eu sou torcedor organizado, mais não sou burro muito menos mentiroso, todos nós sabemos que a violência no futebol sempre foi grande, o que foi acirrada em 1995 após a tragédia no Pacaembú (em São Paulo), o que me pego pensando é que dessa época até os anos +/-2000 que voltaram as torcidas organizadas…
    Houve decréscimo ou manutenção nos níveis de violência?
    Ou na verdade continuou a aumentar?
    Após essas datas, houve uma série de mudanças, dentre elas a criação do estatuto do torcedor, que já foi modificado com a intenção de fechar com as mesmas…
    Os torcedores organizados estão pedindo apenas que haja liberação para uma maior festa dentro dos estádios, ou seja, liberação de bandeiras de bambú, liberação de bexigas, papéis picados, papel higiênico e toda e qualquer forma de festa dentro do estádio, Diminuição no preço dos ingressos, a não-modernização de lugares tradicionais (NÃO SÓ PARA TORCIDAS ORGANIZADAS) como por exemplo, a Geral do Maracanã e afins, proposta essa levantada a CBF para adotar o projeto existente na Alemanha, onde 30% do estádio é separado para o povão…
    Apenas isso…
    Considerações finais…
    Concordo que a violência aumentou, não só entre as torcidas de futebol, como na sociedade em que vivemos;
    Quem diz que a violência aumentou por causa das torcidas organizadas, estão completamente equivocados, em São Paulo, não existe briga nas redondezas dos estádios desde 2007! (visto que no estatuto do torcedor caracteriza brigas a 5km de distância do estádio)
    Brigas entre torcidas organizadas sempre existiram e podem proibir que elas vão continuar a existir em pontos distantes dos estádios, como Itaim Paulista, Capão Redondo, Grajaú, Carapicuíba por exemplo
    Elitização do futebol acaba com a maior tradição existente dentro do nosso país, os setores populares não podem deixar de existir, o direito de ver o jogo EM PÉ como tradicionalmente deverá existir, mesmo que seja em parte do estádio
    PIROTECNIA nunca foi e nunca será crime!!! Afinal todos esperamos o final do ano chegar para ver os “fogos para brindar o começo do ano”, porque não podemos levar aos estádios?
    Se alguém quiser argumentar, por favor…
    E lembrando, não joguem a culpa do futebol nas torcidas organizadas, não generalize, pois algumas torcidas sim são como vocês estão descrevendo, mais existem outras que lutam pelo futebol como ele deve ser… FUTEBOL DO POVO!!!!
    AS ARQUIBANCADAS PEDEM LIBERDADE!!!
    Fillipe Romano
    Torcida Tricolor INDEPENDENTE

  4. Leonardo disse:

    Parei de ler em
    “rendendo-se a uma lógica organizada pelo capital”

  5. Rogério Santos disse:

    Que texto mais bizarro!! O autor deste artigo faz uma confusão de conceitos desgraçada. Primeiro: dizer que a violência é parte da condição humana é um disparate absurdo. Quer dizer que todos somos intrinsecamente violentos, e que toda e qualquer iniciativa de acabar com a violência será infrutífera uma vez que eliminar a violência seria o mesmo que eliminar a vida em sociedade? Não há nenhuma possibilidade de vivermos sem agredir e matar os outros? É isso mesmo ou eu entendi tudo errado?
    Afirmações desse tipo só servem para reforçar e naturalizar essa cultura de violência em que vivemos. A violência não é natural, mas fruto de uma construção social. Ninguém nasce violento; as pessoas APRENDEM a ser violentas. Qualquer estudo sério comprova isso.
    Outra coisa: quem disse que as torcidas organizadas são formadas apenas por pessoas pobres? Não sei se isso acontece aí em Sergipe, mas não é bem isso que eu vejo aqui em Salvador e em outras regiões que eu tive a oportunidade de conhecer. Você precisa se informar um pouco mais.
    Podem dizer o que quiserem a meu respeito, mas eu sou a favor da extinção das torcidas organizadas mesmo. Deixei de frequentar os estádios aqui em Salvador por conta da violência absurda existente dentro e fora dos estádios protagonizada por esses bandidos travestidos de torcedores. No final da década de 1990, eu fui algumas vezes ao antigo estádio da Fonte Nova, assisti a jogos junto dos torcedores do Vitória (eu sou torcedor do Bahia) e ninguém me disse nada; a rivalidade existia, mas tudo ficava no campo da gozação. O máximo que o pessoal fazia era paródias para sacanear o torcedor adversário quando o time deste perdia o jogo. E não passava disso.
    Hoje (quer dizer, há cerca de dez anos), eu não me atrevo mais a sair às ruas vestido com a camisa do Bahia. A camisa que eu tinha ficou toda mofada e enferrujada após muito tempo pendurada no cabide dentro do armário que a minha mãe pegou e jogou no lixo. Nunca gostei e nem fiz parte de torcida organizada nenhuma, mas coitado de mim se por acaso eu me bater com alguns membros d’Os Imbatíveis (torcida organizada do Vitória). A mesma coisa acontecerá com um torcedor do Vitória que der de cara com membros das organizadas do Bahia: Bamor, Tricoloucos ou Terror Tricolor (isso é nome de torcida ou de gangue?).
    Além de brigar com os torcedores do time adversário, não é raro ver membros de uma torcida organizada brigarem com membros de outra torcida organizada do mesmo time. Tudo porque esses grupos disputam poder entre si, e por isso cada um tem que defender o seu espaço com unhas e dentes.
    A elitização dos estádios é outra coisa. É fato que os torcedores mais pobres estão sendo gradativamente expulsos das arquibancadas, mas não é a manutenção das TOs que vai barrar esse processo. Isso é fruto de um processo mais amplo (a lógica do capital, a mercantilização dos clubes, a transformação dos estádios em shoppings centers…), que só poderá ser detido com outras estratégias. As TOs inglesas tentaram barrar a mercantilização do futebol na Inglaterra, e deu em alguma coisa? Eles foram bem-sucedidos nisso? Não, pois eles não tem poder nenhum para interferir nesse processo.
    Ficarei por aqui. Vou almoçar.

  6. hilson mergulhão breckenfeld filho disse:

    a pesquisadora tem uma certa razão – tentativa de elitizar, não só o football, mas qualquer espetáculo – entretanto não se pode fechar os olhos para o fato de que realmente entre os ditos torcedores organizados formou-se vandalos que usam o fato jogo para extravasar tensões particulares e afastam do estádio pessoas que gostam do jogo como arte e entretenimento.

  7. Joel Bueno disse:

    Futebol é autodegradação, masoquismo e facismo? Haja paciência!…
    Lembro o velho João Saldanha, no tempo da ditadura. Parte da esquerda dizia que o futebol era um instrumento do regime militar. O Saldanha, comunista, topou ser técnico da seleção. E disse:
    – Futebol não segura o regime. O que segura o regime é tanque de guerra.

  8. vera vasouras disse:

    Finalmente uma iniciativa de explicitar o avanço do mercado e a demonização do futebol. Remeto os interessados ao artigo de Carlo Frabetti, publicado no LaHaine “Fútbol, toros y fascismo”, do qual traduzo apenas umas frases:
    “Aniquilação simbólica da equipe perdedora no caso do futebol, tortura e aniquilação real da besta totêmica, no caso dos touros” …
    “Futebol e touros, ferozes ritos de submissão e destruição de uma sociedade enferma; aniquilação simbólica da equipe perdedora no primeiro caso, tortura e aniquilação no segundo…. Pura degradação. Puro sadomasoquismo. Puro fascismo.”
    E nós, que sabemos a origem e a maquinaria que envolve o espetáculo manipulador das massas, indústria, controle social, lamentávamos que ninguém ainda tivesse denunciado a criminalização das torcidas após anos de trabalho da imprensa para sua formação. Posteriormente, importaram o espetáculo da barbárie das torcidas européias ao Brasil.
    Fui a um campo de futebol e vi a maquinaria troglodita do Estado em filas intermináveis de militares prontos para bater, quebrar e prender torcedores.
    Nos campos de futebol as torcidas estão proibidas de se manifestar, todavia as corporações têm total domínio do local, principalmente os bancos, os cartões de crédito, os refrigerantes e todo o tipo de consumismo que não aparece nos intervalos, pois são omitidos pelas câmeras de TV, enquanto os torcedores são bombardeados com propaganda num espetáculo indecente protegido por militares fardados, pagos com o dinheiro do contribuinte.
    Realmente, todos os envolvidos na criminalização dos jovens torcedores visam especificamente a mercantilização do chamado esporte e a transformação das torcidas organizadas em empresas de consumidores de marcas, incluindo-se as marcas dos times e excluindo-se os jovens pobres que não podem comprar as fantasias nem os altíssimos ingressos.
    No campo de futebol observei a energia dessa juventude manipulada que aceita passivamente não ir às aulas para enfrentar a violência promovida por grupos organizados pelo próprio Estado e pelos interessados na demonização dos torcedores.
    A única coisa que se permite nos campos e falar palavrões, uns mais obscenos que outros, única forma de expor suas paixões psicóticas formatadas por especialistas em psicose coletivas.
    A indústria do futebol, como toda a indústria capitalista quer, descaradamente, e com a colaboração das instituições, transformar os adeptos do esporte em meros “telespectadores” ou criminosos, afugentando as famílias dos campos e impedindo a socialização e, portanto, a transformação do negócio em mudanças sociais.
    Os jovens são suas principais vítimas; e os herdeiros da psicose coletiva, as futuras gerações, enquanto as famílias reais e seus súditos roubam, institucionalmente, o dinheiro e a inteligência dos chamados torcedores.
    Vera Vassouras

  9. Joel Bueno disse:

    Acho que essa pesquisadora nunca foi num estádio. Ou então, lá em Sergipe é diferente.
    As torcidas organizadas não são feitas de pobres desvalidos. A maioria é formada por torcedores profissionais. Muitos são de classe média. Ganham ingressos e passagens de graça. Intervêm na política dos clubes. Invadem campo de treino para agredir profissionais. Tocam o horror no estádio, brigando entre si – torcidas do mesmo time – e intimidando o torcedor comum. Marcam encontros com as torcidas adversárias, pela internet, para consumar conflitos de rua.
    É gente que anda armada. A crônica policial carioca (e a paulista) está cheia de casos: homicídios, tentativas de homicídio, lesões corporais, com armas de fogo ou armas brancas. Fora os atentados contra ônibus de torcidas de fora, usando rojões, bombas de fabricação caseira, etc.
    Eu frequentava o Maracanã, nos jogos do Flamengo. Na hora da saída, todo mundo se encaminhando em paz para a rampa, a “Torcida Jovem” rompia a multidão numa correria desvairada, gritando palavras-de-ordem aterrorizantes, empurrando quem estivesse na frente, homens adultos, idosos, mulheres, crianças, tanto faz. Ai de quem reclamasse! Certamente seria espancado por uma dúzia de “corajosos”…
    Sim, há exceções. Quem sabe, em Sergipe só há exceções. Eu falo do comportamento que salta aos olhos. Não precisa de estudo psicanalítico. Não tem nada a ver com “elitização”. Quem já segurou um filho pequeno no meio da correria causada por uma briga desses moços sabe como é.
    Para terminar: o Estatuto do Torcedor é o quê? Carro-chefe de uma modernização elitista? Ter direitos de consumidor, poder comprar ingresso sem cambistas, saber com antecedência data, hora e local dos jogos, entrar e sair do estádio sem confusão, não enfrentar superlotação do estádio, ter seu lugar marcado na arquibancada para não ter que chegar 4 horas antes de um grande jogo… isso é elitização?

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