O Equador (muito além) de Rafael Correa

Livro de Tadeu Breda desfaz mitos sobre governo e ajuda a decifrar processo de transformação no país e América Latina

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Livro de Tadeu Breda desfaz mitos sobre governo e ajuda a decifrar processo de transformação no país e América Latina

No próximo dia 5 de maio, o jornalista Tadeu Breda lança em São Paulo um extenso livro sobre o Equador antes, durante e depois da ascensão do presidente Rafael Correa e sua Revolução Cidadã. Porém, O Equador é verde – Rafael Correa e os paradigmas do desenvolvimento não fala apenas de política: questões econômicas, sociais e ecológicas permeiam as 320 páginas que constroem o que é talvez retrato mais estimulante já publicado em língua portuguesa sobre a história recente do país vizinho.

O livro aborda a transição reformista que vem ocorrendo no Equador e os conflitos produzidos no seio da sociedade. Tadeu Breda acompanhou de perto as eleições de 2009 e conversou pessoalmente com os principais candidatos: Lucio Gutiérrez, Álvaro Noboa e, claro, Rafael Correa, que se venceua peleja.

Igual atenção foi dada ao movimento indígena, principal força social do país e ponta de lança das transformações políticas, econômicas e sóciais que estão acontecendo por lá. Uma delas é a nova Constituição Plurinacional, que ocupa posição de destaque no livro. A Carta Magna equatoriana foi a primeira na América Latina a reconhecer direitos à natureza e adotar um princípio indígena (Sumak Kawsay ou bom-viver) como modelo de desenvolvimento.

O autor também dedicou suas atenções para as influências ideológicas que definem o governo da Revolução Cidadã. Assim, pôde trazer elementos que ajudam a compreender porquê Rafael Correa fala tanto em Simón Bolívar e o que significa Socialismo do Século XXI.

Os desafios ecológicos estão presentes no tocante relato sobre um dos maiores desastres ambientais de que se tem notícia – e que aconteceu na Amazônia equatoriana quando a companhia estadunidense Chevron-Texaco despejou na floresta milhões de galões de petróleo e outros elementos tóxicos. O resultado foi a contaminação do ar, da água e do solo devido às piscinas negras que há mais de 30 anos permanecem a céu aberto em meio à mata. A população sofre diretamente os efeitos da tragédia: os índices de câncer são os mais altos do país; o desenvolvimento humano, o mais baixo.

O livro termina com um texto aprofundado sobre a tentativa de golpe de Estado (ou teria sido motim policial?) que, em setembro de 2010, manteve Rafael Correa sequestrado e à mira de pistola durante horas – e quase lançou o país novamente na instabilidade institucional.

Fruto do que pretendia ser uma grande reportagem, o trabalho de Tadeu Breda ultrapassou o almejado pela qualidade das questões e análises sobre o que vem acontecendo no Equador”, opina Maria Helena Capelato, titular de História da América Latina na Universidade de São Paulo.

O Equador é um país que historicamente esteve distante do noticiário brasileiro. Aliás, todos os vizinhos latino-americanos têm sido alvo de nosso esquecimento. A situação mudou um pouco com a ascensão dos presidentes de esquerda, mas a cobertura dos meios de comunicação, muitas vezes superficial, acaba não contribuindo para a compreensão do que de fato está acontecendo nestes países”, explica o autor.

Os episódios narrados no livro devem ser encarados como parte de um processo cujas engrenagens estão em pleno movimento. Nada está definido no Equador. Por isso, mais que jogar luzes sobre o futuro do país, busquei entender o que aconteceu no passado e o que está acontecendo no presente. Espero que essa tentativa ajude a desfazer mitos e preconceitos sobre a realidade equatoriana e consiga informar o leitor interessado em decifrar o momento vivido pela América Latina neste alvorecer de século e (já não tão) novos governos.”

Tadeu Breda nos convida para uma viagem irresistível: percorrer os marcos visíveis e os subterrâneos de uma sociedade em turbulência há mais de uma década”, escreve o pesquisador Gilberto Maringoni no prefácio do livro, lembrando que o Equador chegou a ter sete presidentes diferentes em dez anos. “O autor realiza com rara competência um exame deste que é um dos pontos luminosos do processo de reação continental à aventura ultraliberal que varre a América Latina desde o final dos anos oitenta.”

Rafael Correa foi eleito em 2006 na esteira de três golpes de Estado civis e militares . Abdalá Bucaram foi derrubado em 1996, Jamil Mahuad, em 2000 e Lucio Gutiérrez, em 2005. Em comum, todos eles traficaram com a esperança do eleitorado: foram eleitos com uma plataforma nacionalista que prometia desenvolvimento e bem-estar, mas, uma vez na Presidência, não hesitaram a adotar políticas neoliberais pautadas pela privatização e pelo corte nos investimentos sociais (educação, saúde e subsídios).

A subserviência ao FMI e ao Banco Mundial chegou a tal ponto que, em 1999, o país abandonou sua moeda nacional (sucre) e adotou o dólar estadunidense. Até hoje, os equatorianos compram e vendem com notas retratando Benjamin Franklin, George Washington e Abraham Lincoln “Talvez nenhum outro país da região tenha ido tão longe na aplicação dos processos de ajuste estrutural”, pontua Maringoni.

A chegada de Rafael Correa virou a mesa. Quando assumiu o poder, o presidente equatoriano contava com um cenário geopolítico favorável: Hugo Chávez, Evo Morales, Michelle Bachelet, Tabaré Vázquez, Néstor Kirchner e Lula governavam Venezuela, Bolívia, Chile, Uruguai, Argentina e Brasil. O Equador passava a integrar, assim, a chamada “esquerda sul-americana”.

As políticas neoliberais, também fruto da crise capitalista e da globalização, trouxeram consequências muito negativas do ponto de vista social, e as reações contra a pobreza, desemprego e desequilíbrio econômico começaram a surgir”, contextualiza a professora Maria Helena Capelato. “Assim foram se consolidando governos com projetos políticos que visavam mudar o rumo das políticas vigentes.”

Serviço

O Equador é verde – Rafael Correa e os paradigmas do desenvolvimento, de Tadeu Breda.

Lançamento: 5 de maio, das 20 às 23 horas.

Sede do Projeto Cala-boca já morreu – Av. Henrique Schaumann, 125, Pinheiros, quase esquina com a Av. Rebouças. São Paulo.

Ficha

O Equador é verde – Rafael Correa e os paradigmas do desenvolvimento

Autor: Tadeu Breda

Prefácio: Gilberto Maringoni

Apresentação: Maria Helena Capelato

Fotos: Raoni Maddalena

Projeto gráfico: Bianca Oliveira

Editora Elefante

320 páginas, R$ 25

 

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