A nova política externa da Colômbia

Os tempos de Uribe podem ficar para trás, o novo presidente da Colômbia quer uma política externa que não dependa só de Washington

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Por José Miguel Sánchez | Tradução: Cauê Ameni

A polarização impressa por Alvaro Uribe Vélez na campanha presidencial que definiria seu sucessor, após oito anos de governo, contrastou com a proposta de Unidade Nacional apresentada pelo presidente eleito, Juan Manuel Santos, bem como com as posturas das oposições.

O professor Antanas Mockus, com quem Santos disputou o segundo turno, reconheceu o triunfo de seu oponente com um discurso mais próprio da semântica que da historia política colombiana: propôs “independência e deliberação” foi tão surpreendente quanto a fala do candidato Rafael Pardo, do Partido Liberal: frente ao novo governo teremos uma “posição reflexiva”. Já Gustavo Petro foi quem na representou os interesses da esquerda “estamos dispostos a falar com Santos com base em três pontos de nossa campanha: a propriedade da terra, a lei de atenção a vitimas e o estatuto da água”. Ante o rancor da direção do Polo Democrático, encantado pelo prazer de ser oposição por séculos, Petro se reuniu dois dias depois com o presidente eleito, tendo assim testemunha excepcional de congratulação a Santos por parte de Barack Obama.

As surpresas não terminaram por ai. Dois dias depois os presidentes Correa do Equador, e Chávez da Venezuela, manifestaram seus parabéns ao governo eleito.

Uribe, o presidente de saída, dedica boa parte de seu governo para minar a institucionalidade democrática do país por meio de um discurso e uma pratica que flertavam com o messianismo. Investiu, lance em riste; contra a Corte Constitucional, a Corte Suprema da Justiça e o sistema judiciário. Na semana seguinte a sua eleição, o presidente eleito se reuniu com as cortes e apoiou seu trabalho e sua independência.

O maior sinal de mudança se manifesta na capacidade de ter armado uma nova aliança de governo, na que figuram partidos e políticos abertamente opositores a Uribe.

Em política exterior, não são pouco os analistas que consideram possível uma mudança substancial em relação ao governo Uribe. Este optou por uma aliança privilegiada com os Estados Unidos e renunciou a historia econômica, política e cultural da Colombia com seus vizinhos e a com sua fronteira.

A nomeação de María Ángela Holguin para a Chancelaria no novo governo, é outra. Holguín renunciou ao posto de embaixadora na ONU no início do Governo de Uribe, denunciando publicamente as pressões do presidente para impor cotas burocráticas para políticos no exterior. A chanceler é uma diplomata com carreira relevante, amplamente reconhecida no país e se recorda especialmente das saudáveis relações entre Colômbia e Venezuela quando atuou ali como embaixadora. Assim conheceu o presidente Chávez.

Ao contrário da prática diplomática do governo que termina, com Holguin o presidente estreante poderia optar de novo pela diplomacia exterior como um bem público dos colombianos e não como um arsenal para prender, ameaçar e dispara contra vizinhos.

O postulado anterior despereceu da diplomacia colombiana no momento em que se impôs critério de “securitização”, característico nos últimos oito anos, em detrimento da ação natural da chancelaria. Significou que o presidente Uribe conduzisse a diplomacia colombiana como um comando de assalto, o que teve seu ápice (em março de 2008) no bombardeio a um acampamento das FARC em território equatoriano.

Tal como os seus homólogos na Venezuela e no Equador, Uribe conduz de maneira unipessoal o tema da relação exteriores, Porém, enquanto os últimos se defendem e denunciam a regionalização do conflito armado colombiano, a guarda de Uribe dedica sua maior energia em construir explicações nos fóruns e organismos internacionais.

A política exterior de Santos parece ir em outra direção. O novo presidente entende que seguir de costa para a comunidade regional internacional não tem sentido. As disputas com Equador e Venezuela estabelecidas nos microfones, por fora do debate e formas diplomáticas, custaram à Colômbia dezenas de milhões de dólares anuais.

A exigência internacional pela vigência e respeito do Estado colombiano, aos direitos humanos é permanente. A não assinatura do Tratado de Livre Comercio (TLC), é fruto dos baixos padrões deste compromisso de justiça denunciados pela bancada do Partido Democrata no Congresso estadunidense.

A relação com os vizinhos se assemelha a um saudação da bandeira “Manteremos uma visão solidária e de futuro compartido com os países vizinhos, dentro do respeito e a colaboração contra o crime e o terrorismo”.

É muito pouco o que se pode concluir de uma proposta eleitoral que não define rumos, mas busca votos. Existem outros documentos que marcam um roteiro que poderia seguir o presidente Santos. Veremos:

Às custas do atual chanceler, instalou-se a “Missão de Política Exterior Colombiana” 1 cujo relatório final esta datado de abril de 2010. O documento reconhece que a política exterior colombiana atravessa um de seus momentos mais difíceis em muito tempo. O país enfrenta um complexo panorama com alguns de seus interlocutores. No âmbito regional, a relação com Venezuela se deteriora cada vez mais, enquanto a ligação com o Equador está a emergir de uma crise profunda, que ainda não foi totalmente reparada. Outros países da região observam com receio a politica exterior colombiana, enquanto os mais próximo de posições nacionais mantêm uma prudência que parece indiferença. Enquanto isso, as relações com os Estados Unidos, principal referente internacional da Colômbia, estão entrando em uma etapa de ambígua incerteza.

Resenho algumas das propostas assinaladas pela Missão se levadas em conta pelo futuro governo, ajudarão a Colômbia a agilizar o seu percurso de encontro com a comunidade internacional e particularmente com seus vizinhos:

  1. A Colômbia deve ser mais plural em seus interlocutores e sua agenda, hoje reduzida aos Estados Unidos segundo a logica do terrorismo-narcotráfico.
  2. Para isso a Colômbia requer uma política externa de Estado, resultado de um consenso e não reduzida ao poder monopólico de agentes do governo de plantão, como na administração de Uribe.
  3. A Implementação de uma abrangente política integral dos direitos humanos, por vocação ética e aposta humanitária, distante de compromissos que visam apenas o lucro dos negócios internacionais.
  4. A Colômbia deve inserir-se em um papel protagonístico nos novos instrumentos regionais, para que se possa reconstruir sua relação com a Venezuela e o Equador.
  5. Parece ilógico que, enquanto o Brasil está emergindo como uma nova potência mundial, para o governo colombiano a fronteira com o gigante sul-americano não passa de uma anedota, enquanto o governo de Lula busca parceiros estratégicos para a implementação da IIRSA em sua enorme busca da saída ao Pacífico.
  6. Em sua busca pela segurança, a Colômbia, deveria esculpir caminhos regionais, que têm sido propostos desde a Unasul, sem prejudicar o relacionamento estratégico com EUA. O governo do presidente Obama parece não ser o mais interessado em materializar o acordo das sete bases norte-americanas na Colômbia. Articula uma conferência regional sobre a questão seria romper a barragem da desconfiança que foi construída sobre o assunto. Este poderia ser um tema adequado para a Cúpula das Américas que será realizada na Colômbia em 2012.
  7. A imensa biodiversidade colombiana deve ser tratada como bem estratégico da nação. O governo deve entender que os milhões de quilômetros amazônicos e pacíficos que embelezam a Colômbia são territórios para a conexão com o mundo e não meros teatros operacionais militares.
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