“Lulu”, machismo invertido?

Novo aplicativo permite às mulheres compartilhar informações sobre homens com quem saem. Por que defendê-lo. Quais seus reais problemas

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Por Marília Moschklovich, na coluna Mulher Alternativa

Certo dia, pula pra mim um anúncio no Facebook: “Avalie os garotos de sua cidade”, ou qualquer coisa do tipo. A identidade visual é toda trabalhada em roxo (cor-de-rosa não cola mais entre jovens e adolescentes, pelo jeito) e preto, com uma pegada moderninha. . O nome do aplicativo anunciado (vale um prêmio para a equipe de marketing) é “Lulu“.

“Lulu” evoca ela, aquela mesma, Luluzinha. Lembram dela? A personagem foi criada em 1935 por uma cartunista chamada Marjorie Buell, que continuou a comandar o Lulu-business mesmo depois de 1945, quando John Stanley assumiu roteiros e desenhos dos gibis individuais. Ao contrário do que possa parecer, contrariando a trajetória comum de tantas personagens femininas, Luluzinha não nasceu como coadjuvante de seu “oposto-semelhante” Bolinha. Lulu foi protagonista desde sempre.

“Luluzinha”, assim como o “Clube da Luluzinha” são sinônimos de grupos exclusivamente femininos, que em geral têm um tom forte de empoderamento numa sociedade machista. Não seria, então, uma contradição, que o aplicativo chamado Lulu reproduzisse justamente um comportamento tão criticado pelas feministas em grupos de homens – avaliar e rankear as mulheres segundo critérios autoritários do grupo? As mulheres no Lulu não estariam fazendo o mesmo que reclamam que os homens fazem com elas todos os dias? Me parece que não.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar, de novo, que o machismo e a opressão de gênero são estruturais em nossa sociedade (escrevi sobre isso aqui, de levinho). Isso significa que não dependem de ações individuais isoladas para existir. Somos todos socializados com uma maneira de pensar e ver o mundo que reproduz um esquema de dominação. Nenhum homem é isoladamente responsável pelo machismo estrutural, nem nenhuma mulher. Por isso é tão complicado combatê-lo.

Em segundo lugar, devemos ter em mente sempre, quando se trata de qualquer tipo de opressão, o conceito de “falsa simetria”. A falsa simetria é quando, querendo tratar tudo com “igualdade”, nós fingimos que a desigualdade de poder não existe. Por exemplo, a ideia de que precisaríamos ter um “Dia Internacional do Homem” porque existe o 8 de Março, é uma falsa simetria (assim como a falácia de que deveríamos ter “dia da consciência branca” e outras barbaridades e bobagens que escutamos e lemos por aí). Especialmente quando se trata de opressões estruturais, as desigualdades não podem ser ignoradas. Uma pergunta clássica e boba para ilustrar esse conceito, de falsa simetria: você avaliaria, numa prova de português, da mesma maneira uma criança japonesa que acaba de chegar ao Brasil e uma criança que já nasceu falando e ouvindo português como língua materna? Então! Avaliá-las da mesma maneira seria estabelecer uma falsa simetria. Quem sabe um dia eu escrevo um textão só sobre isso. Mas não agora.

Pois então, dado o machismo estrutural, é uma falsa simetria equiparar um aplicativo como o Lulu com as avaliações e rankeamentos constantes feitos sobre mulheres dentro e fora de redes sociais e gadgets. Nós, mulheres, somos avaliadas pela maneira como nos comportamos (sobretudo sexualmente) o tempo todo. Inclusive em questões como nossas carreiras. Somos avaliadas pela nossa aparência, inclusive como forma de medirem nossa competência. Esses são dois dos muitos critérios pelos quais somos constantemente julgadas – e não só em relacionamentos, ficadas e afins.

Ao que tudo indica, o tal Lulu é um espaço em que mulheres podem, se assim desejarem, compartilhar umas com as outras suas impressões sobre ficadas e rolos com certos caras. Podem também comentar sobre amigos. O algoritmo do aplicativo atribui, ele mesmo, as notas com base em perguntas (veja aqui como funciona). Isso não é, nem de longe, mais machista ou tão problemático quanto o julgamento ferrenho, constante e ostensivo que se faz sobre as mulheres todas, todos os dias (e que inclusive faz com que muitas tirem a própria vida, sofram violências diversas, etc).

O principal problema do aplicativo, ninguém parece ter notado: ele atrela, à identidade de gênero “mulher” a atração sexual por “homens”. Sem nem entrar na questão sobre identidades que fogem a esse binarismo, não parece a vocês um tanto quanto heteronormativo? Não invisibiliza as lésbicas e bissexuais, essa categoria tão numerosa de mulheres que todos os dias fingimos não existirem? Outro ponto questionável do Lulu, indo ainda mais longe: não seria também um machismo pressupor, como as perguntas do aplicativo pressupõem, que as mulheres heterossexuais se interessam apenas por questões emocionais, relações e coisas do tipo, em vez de falar direta e claramente em compatibilidade e desempenho sexual? Me parece que sim.

De qualquer maneira, há clubes e clubes de luluzinhas, com ou sem a existência do aplicativo, que compartilhavam, compartilham e compartilharão impressões sobre rolos, trepadas, ficadas e flertes, de maneira mais ou menos sexualmente explícita. A diferença é que esses clubes simplesmente não têm o poder de impedir que os homens cheguem a posições de poder político, ganhem os melhores salários, concentrem poder econômico, sejam assediados nas ruas, troquem de roupa ao saírem de casa com receio do que possam dizer (ou do que possa acontecer, assumindo que a culpa de qualquer coisa seja mesmo sua). Avaliar e rankear os homens com quem ficamos não faz com que 15 deles sejam assassinados por dia, nem com que 5 homens sejam estuprados a cada hora.

Então, não. Não é a mesma coisa!

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45 comentários para "“Lulu”, machismo invertido?"

  1. Alexandre disse:

    Marília, concordo em algumas coisas com vc e em outras eu discordo, esse tipo de discussão ao meu ver deveria entrar na categoria de futebol, politica e religão pq a gente nunca vai se entender, mas assim, vc sabia que um homem, simplesmente por nascer homem tem 5 vezes mais de chancer de ser assassinado ? de todos os assassinados do brasil quase 90% tem homem como vítima, então usar o argumento de que eu posso ser assassinada simplesmente por ser mulher por causa da sociedade machista não me parece nada verdadeiro, caso vc não concorde segue uma das milhares de fontes (http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/12/homens-sao-83-do-total-de-mortos-em-acidentes-e-homicidios-no-pais.html), sobre estupros concordo com vc, realmente a mulher precisa ser mais protegida nesse sentido mas vale lembra que esse é uma crime que infelizmente acontece no mundo inteiro inclusive em paises que não são absolutamente nada machistas, esses dias li uma matéria sobre estupros na suécia, que a coisa por lá está fora de controle, sobre violencia estrutural, eu também não concordo, uma vez que pelo que eu entendo sobre violencia estrutural, basicamente é dificultar o acesso a mulher a educação, trabalho e saúde simplesmente pelo fato de ser mulher, bom sobre isso, a mulher ja é maioria em toda cadeia de ensino, a mulher estuda mais que o homem, a mulher vive em média 8 anos a mais que o homem exatamente pq tem mais acesso a saúde, o cancer de prostata mata igualmente ao cancer de mama porém o governo investe 3 vezes mais na prevensão do cançer de mama, isso sem contar no fato da mulher vive 8 anos mais e se aposentar 5 anos antes, sobre emprego, realmente o homem ganha mais para exercer a mesma função, concordo com vc, porém existe alguns dados que precisamos levar em consideração, vc sabia que o homem paga um seguro de carro mais alto que a mulher exatamente porque o risco para segurada é maior com o homem ? isso porque estatisticamente falando o homem se envolve 2 vezes mais em acidentes do que a mulher, agora voltando para o salario, a mulher tem o dobro de chances de desenvolver qualquer disturbio mental, tem 6 meses de licença maternidade, até por ir mais ao médico falta mais no trabalho sem que isso seja descontado do salário já que levam atestado médico, na hora de contratar uma mulher o risco é maior e por isso a mulher recebe menos, sobre o lulu e o tubby, ao meu ver são iguais sim, obviamente o tubby com hastags mais ofensivas e vulgares, nem questiono isso, mas falo que é igual porque acho perca de tempo ou uma visão miope discutir hashtags, acho que o problema é antes, o fato das tags do lulu serem inofensivas não da o direito da mulher me expor em publico sem que eu se quer saiba o que foi dito e ainda sem se quer eu saiba que divulgou aqui, e apesar de serem mais inofensivas, vc gostaria de alguem divulgar pro mundo inteiro que vc tem #bafodamorte ? #não faz nem concegas ? filhinho de papai ? playboy ? por mais que sejam menos agressivas eu acho que eu é que tenho que decidir qual intimidade minha eu tenho que tornar pública, ou vc gostaria de ver um outdoor na rua assim, a Marília tem bafo ? para o mundo inteiro saber, mesmo que isso seja vdd, ninguem tem o direito de tornar publico uma intimidade de outra pessoa, sobre hashtags, não tem muito tempo uma mulher fez uma musica onde dizia que um tapinha não dói, eu cansei de ver mulheres na tv falando que gostavam de uns tapas, tags são valores individuais, não cabe a gente questionar se é pior ou não cabe a cada um tornar público aquilo que quer sobre suas preferencias, vc pode gostar de tapas mas não quer q todos saibam, é um direito seu, eu posso ter bafo, posse ter pau pequeno ( não fazer nem cocegas) e quero eu decidir se eu falo isso pra td mundo ou não, por isso que para mim defender a extinsão de um e não de outro não foi coisa de grupos FEMINISTAS e sim grupos FEMISTAS que isso sim é o oposto de MACHISTAS, qualquer pessoa feminista defenderia a exclusão dos dois.

  2. Curioso que tanta gente tenha comentado negativamente o texto, achei que aceitariam facilmente as ideias dele. Parece que independentemente de um discurso antifeminista, há certas questões que fazem com que elas adiram a posições que contrariem o discurso feminista, ao menos nesse caso. É o segundo texto com esse teor que eu leio e sinto o mesmo constrangimento: parece que a autora sente certa alegria dissimulada em ver a opressão atingir mais gente. Gosto dos seus textos Marília, mas acho que você tende a certos dogmatismos que te conduzem as mesmas conclusões e a defesas irracionais das coisas, como nesse caso, de certa postura pró-feminino.

  3. pra que lulu? disse:

    um tumblr coletando opiniões interessantes sobre o assunto: http://adeuslulu.tumblr.com/

  4. Igor Muniz disse:

    http://www.youtube.com/watch?v=hxH7ZPEgjY8
    Assistam e verifiquem que já está patético defender femismo travestido de feminismo nm país governado por uma mulher e que (Deus queira) será reeleita.

  5. Igor Muniz disse:

    Tudo é sempre culpa do macho. Que retórica furada. A mulher morre muito menos do que o homem em qualquer lugar e cultura principalmente em morte violenta. Esse aplicativo é nada mais que um reflexo dessa sociedade fast-food que trata o ser humano como objeto e vive lucrando com guerras entre opostos! Uma mulher que é bem resolvida vai depender de uma tolice dessas para se relacionar? Um homem maduro vai se incomodar com a existência de “lulu”?

  6. Raphael disse:

    Por que atribuir uma coisa ruim com o nome de machismo? Já indicando que coisa ruim quem faz é homem (macho)? Vamos ter mais consciência que os termos estão errados ai eim…

  7. O aplicativo em si parece ser inofensivo,porem,ja começa errado ao criar um perfil sem a permissão do usuário

  8. Dani Leme disse:

    Perfeito!

  9. Dani Leme disse:

    Impossivel saber quais serao os resultados do aplicativo. Ela e autora, (não gostei do artigo da feminista),,,no entanto, não será ela responsável pelo que será em uma sociedade que ainda nao tem os mesmos conceitos que ela na prática! Me parece bem colocado o Rafael!

  10. Pra mim, o problema maior não tá na questão do machismo ou etc. Mas sim na digitalização de coisas que deveriam ser pessoais, daquele grupo de amigos, etc. Não consigo entender o objetivo dessa exposição excessiva, acho anti-ético.

  11. Marcos disse:

    Muito bom!

  12. Marcos disse:

    Isso aê!

  13. VictorPS disse:

    Um aplicativo que torna informações íntimas públicas, que rompe com toda a construção ocidental da diferença entre público e privado, e a autora está mais preocupada em avaliar se o aplicativo é machista? Só reforça o tal machismo estrutural de que ela fala de maneira abstrata…
    Acho que antes de preocupar-se com isso poderíamos discutir por exemplo essa rede que expõe abertamente opiniões anônimas sobre figuras não-anônimas, e sobre a disparidade entre avaliador e avaliado.
    Tudo isso me lembra o panóptico de Foucault. Atualmente vivemos a realidade do: nunca erre, jamais faça nada de que possa se arrepender, ou a informação pode ser tornar pública. Sua vida pode ser decidida na simples transmissão de dados. A vigilância é rizomática, e Orwell ficaria estupefato… A polícia do pensamento já é quase real.
    O “Lulu” é só mais uma das diversas manifestações dessa conjuntura. Vivemos tempos loucos.

  14. Felipe Branco disse:

    Perfeito.
    O texto faz uma introdução longa pra no final apresentar o heteronormativo como vilão.

  15. Rodrigo disse:

    Na minha opinião esse aplicativo é ridículo pelo fato de vc dar uma nota para uma pessoa. A pior coisa do mundo é ser avaliado e ter sua nota divulgada, seja numa prova, exame, o que for. As mulheres podem falar o que quiserem dos homens entre elas, mas tornar isso um ranking público é errado. Quando eu era mais novo tinha muita esperança no movimento feminista, pois achava que as mulheres buscavam ter direitos iguais além de as acharem mais justas e humanas, ou seja diferente da maioria dos homens. Diferente do o que eu pensava, tenho visto é que a maioria está tendendo para o lado mais ridículo e fútil que antes era exclusividade dos homens, e que era duramente criticado por elas… Essa análise só comprova o que eu penso atualmente, homem e mulher é tudo farinha do mesmo saco…

  16. Eduardo disse:

    Em tempo, curioso seria o seguinte. Se fosse um aplicativo denominado “Bolinha” avaliando desempenho de mulheres aí seria machismo com certeza… machismo brabo… mas como são mulheres avaliando homens, sem problemas… isso não é machismo invertido, é só hipocrisia mesmo…

  17. Eduardo disse:

    É o segundo texto com uma temática feminista bobo que vejo nesse site. Quanta bobagem meu Deus. Um panaca qualquer faz um aplicativo tão bobo quanto quem o utiliza e a mulher já dá uma importância maior do que ele realmente merece, como se todos os homens do mundo pactuassem com isso e o objetivo fosse ferir mortalmente às mulheres e à causa feminista. Dá um tempo, que síndrome de inferioridade é essa que a faz sentir-se tão perseguida pelos homens do universo…

  18. Carla disse:

    Gosto muito desses dois textos para demonstrar como o machismo prejudica os homens:
    http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2013/11/guest-post-o-macho-conquistador-e.html
    http://papodehomem.com.br/sexo-dinheiro-forca-e-poder-as-prisoes-masculinas/
    Os homens sofrem muito com o machismo pela pressão de serem os melhores. Acho que devemos pensar muito a respeito dessas coisas, de como não se trata de uma guerra entre homens e mulheres, mas o machismo é uma estrutura violenta para ambos os lados, e isso muitas pessoas parecem esquecer.

  19. Luiz Fernando Resende disse:

    …Marilia…importantíssimo as polemicas…a civilização é machista mesmo…mas, será que não poderíamos dar uma pesquisada na formação dessa mesma civilização machista? …antes “disso”, quando não havia a Propriedade Privada, A HERANÇA, a relação entre homens e mulheres era igualitária…a mulher era a única reconhecida como mãe, porque ela tinha o direito e se relacionava afetivamente com quantos e qualquer homem que ela desejasse…o PAI não era conhecido e nem precisava…as relações e cuidado da “prole” era responsabilidade de todos…a utilização dos meios de sobrevivência…ou seja a NATUREZA era um BEM COLETIVO( veja que não falei propriedade coletiva)…mas…as relações foram se modificando…a partir do evento HERANÇA …PROPRIEDADE PRIVADA …criou-se necessidade da dinastia…de quem iria ficar com a herança…então…pode ser exagero meu, quando essa civilização que eu chamo de : Greco/romana/judaico/cristã/branca/ocidental se foi se estabelecendo, baseada na PROPRIEDADE PRIVADA DA NATUREZA…foi criado um anti-humanidade : A SAGRADA FAMILIA BURGUESA e seus personagens principais…o pai…a mãe …e os filhos e o pai como cabeça dessa família, porque daí seriam reconhecido os seus descendentes…criamos uma civilização que criou a grande farsa e destruiu as relações humanas, colocando as relações de poder e privilégio…nos pais e filhos e relegando a mãe a um papel,meramente reprodutivo…da mercadoria ora criada : a grande civilização supra citada… Luiz Fernando Resende

  20. Roberto Rogério Fratta disse:

    As avaliações do programa são sobre indivíduos e suas intimidades podem ser expostas ao público. É limitado considerar esse aplicativo somente à luz do machismo x feminismo.
    É uma exposição do indivíduo (e talvez de sua intimidade) ao público sem sua autorização. Isso sem contar ainda as possíveis difamações. O aplicativo fere gravemente o direito à intimidade e à vida privada das pessoas.
    Uma coisa é uma conversa com outra pessoa sobre nossas experiências; que é ainda uma conversa particular. Outra coisa é a exposição pública e sem autorização, como faz o programa.
    É quase como publicar notas numa revista semanal sobre as experiências sexuais que temos (verdadeiras ou não) com uma pessoa, revelando seu nome e estampando sua foto, sem que essa pessoa tenha permitido!
    Absurda essa defesa do aplicativo Lulu pela socióloga. Esse tipo de “feminismo” não me representa.
    Nossa Constituição nos dá direito à intimidade e à vida privada. Esse tipo de “feminismo” é um horror e chega a ser inconstitucional.
    Lamentável o posicionamento da socióloga. Lamentável.

  21. Samir disse:

    É com satisfação que eu vejo que o nível da maioria dos comentários é bem superior ao do texto. Acho que muitas pessoas – principalmente as mulheres – já disseram o necessário, mas acrescento: assim como não gostaria que um filho meu, se o tiver, tratasse mulheres como objeto, como é tão comum acontecer na sociedade atual, também não quero que minha filha reproduza esse comportamento nefasto em relação aos rapazes.
    Em tempo: é impossível sinceramente amar aquele que tomamos como objeto.

  22. Angélica disse:

    Realmente não é a mesma coisa e isso não muda o fato de que o aplicativo é a exposição de intimidades de outra pessoa que possivelmente não deu autorização para que esses detalhes fossem publicizados.
    O texto se preocupou tanto em responder se é ou não machismo invertido que esqueceu de pontuar um aspecto que pra mim é essencial:
    É ÉTICO? É RESPEITOSO?
    Esse podia não ser o objetivo do texto, ok! Mas, pra mim, simplesmente não tem como deixar de falar de respeito quando se fala de um assunto assim.
    Há feminismos e feminismos e a linha que a Marília tomou nesse artigo não é o feminismo que eu quero pra mim.

  23. Luis Filipe disse:

    Concordo com boa parte do que vc falou… Mas me parece que vc inverte o objetivo de luta da causa feminista, especialmente no final do texto.
    Não deve ser objetivo de luta da causa feminista e nem de nenhuma outra retirar ou diminuir o poder e as liberdades dos grupos dominantes… Mas sim dar aos grupos marginalizados poder e liberdade que nivelem as duas condições.
    No caso Homem X Mulher, eu acho errado impedir que os homens classifiquem, comentem e julguem as mulheres por seu comportamento, seja ele sexual ou de qualquer outro tipo. Porém, deve-se criar condições para que mulheres também possam fazê-lo, sem retaliamento por parte da sociedade.
    Da mesma maneira, eu não acho que deva impedir que homens cheguem ao poder político, ou que tenham empregos melhores. Deve-se porém, tentar levar mulheres à política, ou para o mercado empresarial em geral. E nunca, jamais, dar a mulher alguma vantagem, pelo fato único de ser mulher. Assim como isso não deve acontecer só pelo fato de ser homem.
    É isso, no geral foi um bom texto, interessantíssimo, ainda que eu não concorde com tudo… vou colocar um trecho dele que ilustra o que eu quis dizer… Espero que vc leia minha resposta!
    “A diferença é que esses clubes simplesmente não têm o poder de impedir que os homens cheguem a posições de poder político, ganhem os melhores salários, concentrem poder econômico”

  24. marcio ramos disse:

    … qd vc analisa o outro vc diz o que vc quer, o que gostaria de ter, o que pensa, como pensa, etc etc etc… tem otario e otaria pra tudo… o face é coisa de gente besta, de todas as classes, formação, etc… humano…
    …e dizem que é revolucionario, e que a consciencia e tal, e as manifestações e tal, e as revoluções e tal todas facebuquianas… isso passa, e quem participou se sentira uma coisa assim coisificada… tendeu?
    … a tecnologia faz arte – no meio tem vc – o artista faz dinheiro, mais ou menos assim…

  25. Denilson Marques Lopes Evangelista disse:

    parabéns!

  26. Aí está mais uma suposta feminista que sustenta seu próprio “rancor de gênero” como uma bandeira universal. No fundo, és tão sexista quanto teus algozes imaginários, querida. Vc mesma és sua maior opressora, mas precisa de um vilão para pôr a culpa. Supere esse complexo da castração e desenvolva um pouco de maturidade intelectual.

  27. Eu sinceramente fiquei mais satisfeita com os comentários do que com o texto. Acho que esta é a primeira vez que isto acontece.
    Eu acho que a regra básica sempre é “Não faça para os outros o que não gostaria que fizessem para você”. Eu não gostaria de receber uma nota, como um animal numa competição. Uma mulher “consciente” que usa esse app só pode ser chamada de hipócrita ~ minha opinião ~
    Os comentários também me fizeram pensar na situação do homem em relação ao machismo. Nunca havia parado para pensar que, realmente, muitos homens são vítimas do machismo.

  28. Angélica disse:

    Concordo com vc.

  29. Letícia Araujo disse:

    Olá Marília, gostei muito do texto. Mas acho que faltou falar de uma questão que pra mim é extremamente problemática: Em nenhum momento esses homens foram questionados se gostaria ou não de disponibilizar seus perfis para a “brincadeira” e muitos deles nem sabem que estão por lá…

  30. igor disse:

    Qual o objetivo final de um feminismo como o seu? Devemos repudiar as agressoes do sexo masculino ao feminino tanto quanto o oposto. Devemos buscar juntos uma sociedade mais humana e ponto. O resto eh extremismo. O texto tem argumentos validos mas se perde na hora de sugerir uma solucao ao impasse: qual o fim disso tudo? Entre distopias de machos medievais e de feminazis, prefiro so ser uma boa pessoa

  31. Clarissa disse:

    Li isso em um artigo da Ana Freitas: “A pergunta final, essa pra todo mundo, faz refletir sobre o mundo em que nós queremos viver no futuro: você quer um feminismo que quer que a mulher tenha todos os direitos do homem, tipo objetificar e assediar caras na rua (ou seja: ser babaca!), ou você quer um que acabe com qualquer objetificação e assédio?” Eu prefiro o segundo!!
    O fato de as mulheres sofrerem com julgamentos machistas o tempo todo não justifica ou legitima a existência do app Lulu. Adotar atitudes revanchistas só farão com que nós, mulheres, fiquemos cada vez mais parecidas com nossos opressores.

  32. fernando disse:

    Então tudo bem tratar um outro SER como algo a ser avaliado, classificado, rotulado etc, como uma mercadoria. Não ser tão impactante quanto o machismo histórico e estrutural que temos em nossa sociedade, não quer dizer que não seja impactante. Mas parece que para a autora isso não importa. “Não adianta o oprimido virar opressor”! O que é esse aplicativo se não mais uma ferramenta para nos classificarmos como mercadorias. Acredito que a socióloga conheça o polonês Bauman, mas fez questão de desconsiderar. Em tempo, recomendo: “Vida para consumo – a transformação das pessoas em mercadoria”, do autor supracitado.

  33. Eu achei sua análise interessante, principalmente por destacar a heteronormatividade e a falsa simetria. Mas não é por não haver simetria que o aplicativo não seja ruim. Primeiro que um app de avaliar pessoas já me parece uma coisa horrorosa, coisificante, etc. Um app não é uma conversa de bar, é uma tecnologia de larga escala. E heteronormatividade também pode é a normatividade masculina imposta aos homens, no sentido do que é esperado deles. Ser bom de cama, bem dotado, sei lá mais o quê. Isso não é “men tears” pq eu nem sou men, né, haha. Mas acho que essas coisas têm a ver com misoginia também, com o fato de que tudo que está fora do signo “homem hétero cis blablabla” ser visto como ruim.
    Resumindo: um app avaliador de desempenhos da função “homem” é machismo. É cissexista, heteronormativo e destoa da sociedade igualitária que almejamos.

  34. Marília, achei bem problemática sua análise. O machismo estrutural vitimiza homens, sim. São eles os que mais se suicidam, não são as mulheres. São os homens os mais mortos pelas polícias, não são as mulheres. São eles os mais prejudicados por “tabus” referentes a saúde sexual e reprodutiva, não são as mulheres. Enquanto em outros aspectos, sim, são as mulheres as maiores vítimas, tudo é uma questão de objeto de análise.
    As relações de gênero desiguais que construímos diz que homens devem ser fortes, viris, másculos, protetores, e etc. e as mulheres meigas, elegantes, recatadas, tímidas, etc…ou seja, vitimiza todos. Violências devem ser banidas, não copiadas ou diminuídas, pq “não é mesma coisa”. Esse app fere a privacidade e a intimidade de homens. Se a pretensão é construir uma sociedade melhor precisamos construir relações sociais respeitosas. Tipificar e taxar não é respeito. “Ahhh, mas é um mecanismo de proteção, sabermos de outras meninas se aquele menino é bom ou não”. Não, isso é infantilidade. Até pq essa avaliação é extremamente particular e subjetiva, e outra, as pessoas mudam constantemente, amadurecem, se arrependem de erros, se modificam e é isso que queremos, não? “eu conheci o cara há décadas atrás e ele foi um escroto”, qual a validade de meu julgamento sobre ele? Não seria apenas uma raiva infantil e a vontade de humilha-lo? Jogá-los em um calabouço e humilhá-los pq um dia erraram com alguém é simplesmente estapafúrdio, para qualquer sexo. É ficção, é sadismo puro.
    “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”, diz a nossa Constituição. Isso é um direito, violá-lo é um crime, seja cometido contra mulheres ou contra homens. Ficar defendendo (ou diminuindo) comportamento problemáticos femininos, ao mesmo tempo em que se repudia com violência comportamentos problemáticos masculinos, não nos levará a nada. Apenas faz popularizar esse anti-feminismo que cresce a passos largos (não é só o feminismo que se democratizou e dá cliques, trabalho com redes, textos anti-feministas dão mais cliques ainda)
    PS: São os homens os mais vitimizados pelos acidentes de trânsito tb (olha o fodão, aí). E com relação as mulheres, eles que possuem taxas inferiores de expectativa de vida. Não conseguiremos uma análise social acurada se olharmos apenas para nosso umbigo. O machismo mata homens e mulheres, lamentavelmente. Violências devem ser banidas, e se ontem repudiamos veementemente o “pornrevange” hoje devemos repudiar veementemente o app LULU. Se você acha que lá é uma violência e aqui não, tem a ver com privilégios, não é uma análise neutra.

  35. TheDigosin disse:

    É exatamente isso Rafael. A autora basicamente diz que independente do tipo de homem, não há problemas eles serem julgados pela aparência ou “aptidões sexuais”, afinal nenhum deles vai ser “oprimido” por isso, e como a sociedade costuma fazer isso com mulheres, qual o problema? É falacioso ao extremo.

  36. Eu entendo que não da para comparar o que as mulheres sofrem todos os dias com esse aplicativo, mas isso não significa que ele não seja um ‘machismo invertido’. As usuárias desse aplicativo estão fazendo justamente o que não querem que façam com elas, um tanto hipócrita, não acha?

  37. Natalia Veiga disse:

    Marília,
    Concordo com você que não há simetria possível e que sim, o app é heteronormativo, preconceituoso.
    Mas um argumento que me levou a “desgostar” do app foi a questão de “não faça com os outros o que não querem que faça com você”.
    Eu me sentiria desconfortável em ter meu “desempenho” (ainda que tenha sido só um beijo, uma ficada, por exemplo) avaliado por alguém e essa opinião pudesse atingir um sem-fim de pessoas. Sei que, por ser mulher, essa avaliação seria encarada de forma ainda mais negativa (em razão da sociedade machista, que já conhecemos), mas esse não é o ponto a que quero chegar.
    Não parece estranho que uma ex-namorada vingativa, possa avaliar super mal um rapaz, só de “vingancinha” e essa opinião possa atingir sabe-se lá quanta gente?
    Contar pros seus amigos sobre alguém que você ficou é ok. Espalhar a sua opinião (que atinge a intimidade alheia) num app com capacidade de atingir milhares de pessoas, com grande chance de ridicularizar esse outro alguém, já é outra história.

  38. Clarissa disse:

    Quer dizer que as mulheres podem avaliar, julgar, humilhar e se vingar dos homens por meio do app Lulu que está tudo bem, mas se houvesse um app Bolinha seria um absurdo, por conta da sociedade machista em que vivemos etc? Marília, vc não prevê uma relação direta entre o uso do app Lulu e um aumento do porn revenge? Acho que isso pode gerar um círculo vicioso perigosíssimo!!

  39. Maicon disse:

    Como se precisa de um aplicativo para mulher falar sobre o desempenho dos homens. Falam até mais que os homens e em muito mais detalhes. Heteronormativo? Agora todo serviço que for lançado têm que abraçar todas as orientações sexuais?

  40. TheDigosin disse:

    Alias, texto fundamentado exclusivamente na falácia “tu quoque”.

  41. Solange Garcia disse:

    Me parece que você passa uma boa parte do texto tentando defender que o aplicativo não é tão ruim porque há coisas piores. Sim, o aplicativo não faz homens serem estuprados, logo… logo o que, logo é bom? Logo qualquer coisa que não seja pior que o pior possível que os homens podem fazer é justificável? Enquanto mulher que sofre todo dia esse tipo de assédio e julgamento idiota eu só consigo pensar que o Lulu é mais um app servindo pra banalizar a relação entre todos, e nesse caso, pior, as mulheres.
    Não vou nivelar por baixo meu discurso feminista só porque nesse caso isolado somos nós as idiotas. Casos isolados e esse tipo de tolerância são o que vão criar a estrutura da sociedade que você comenta.

  42. Junot disse:

    Muito bom, Marília. Grande beijo!

  43. Renan disse:

    Não, não é mesmo. Bom texto. Só não é ótimo, pois tenta deixar de lado o aplicativo em ALGUNS PONTOS. Dizer que o maior problema é o fato heteronormativo me soa um tanto quanto limitado, apesar de ser sim um problema. O maior problema, ao meu ver, é sim julgar intimidades do próximo explicitamente, mesmo que isso tenha ocorrido, ocorre ou ocorrerá, seja homem (no caso do app) ou mulher. Ler esse tipo de coisa me faz pensar que existe um trauma que nunca sairá da cabeça de feministas, a concepção de que tudo tem uma explicação machista para existir, como se essa fosse a fonte dos problemas do mundo.
    Qualquer sensato sabe que o maior problema é o simples fato de julgar, não de ser heteronormativo.

  44. TheDigosin disse:

    Que texto babaca, tenta de forma inútil justificar um comportamento que se fosse praticado EXATAMENTE DA MESMA FORMA, só que por homens seria rapidamente execrado. Isso é muita hipocrisia. Não são vocês que não aceitam de forma nenhuma ser julgadas pelos homens? Agora, porque a sociedade é desigual em certos níveis, as mulheres tem o direito de serem babacas como os machistas que tanto criticam? Ah, ai do homem que comenta sobre o corpo ou o comportamento sexual de alguma mulher em algum aplicativo da internet. Avaliar mulheres da mesma forma que acontece com esse aplicativo faz com que elas sejam estupradas? O fato da “falsa simetria” não serve pra justificar babaquices ridículas como essa. Agora mulher pode bater no marido, afinal isso não faz que homens sejam assassinados e estuprados. Ah me poupe. Tua defesa desse lixo é hipócrita e nojenta…

  45. Rafael Neves disse:

    Esse aplicativo me parece seguir a mesma lógica de ranqueamento de mulheres e por isso ele é ruim. O app não colocará o homem na posição de oprimido mas nem por isso deve ser considerado inofensivo. Não é uma questão de simetria e sim uma questão de não perpetuar pensamentos que devem ser superados.

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