Ler Primeiro: Literatura de Várzea

Praguejou o reinado da ignorância e fugiu da polícia antes da imposição de penas e grades. Carne viva, sarna ardendo

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Por Paloma Klis(y)s | Jean-Michel Basquiat, Francesco Clemente e Andy Warhol

Algo pariu a ira na penumbra do quarto. A ira fechou os punhos, quis destruir um a um os elementos do cenário. Deu berros horrendos incomodando a vizinhança e saiu às ruas para fincar as unhas em olhos apavorados. Cuspiu toda a fúria em rostos desfigurados modificando a composição dos corpos que encontrava.

Praguejou o reinado da ignorância e fugiu da polícia antes da imposição de penas e grades. Comendo cascas de ferida. Carne viva. Sarna ardendo nos lombos dos cães abandonados. De onde emergem os delírios, abri janelas inexistentes. Alguém corria lá fora com um pedaço de madeira cheio de pregos enferrujados numa das extremidades, ameaçando aniquilar qualquer impulso contrário ao pensamento de morte.

Corroendo o teor das embalagens. Nem tudo se passa lá, onde a criança chora e a mãe não ouve. Saco com 500 gramas de corações de galinha na vitrine do açougue. Anistia para torturadores. Condecorações e bônus de um país sem memória. Cresce a venda de anti-depressivos conforme a omissão de efeitos colaterais, via de regra e receitinhas. Faça já o seu cadastro. Escolha já o seu cabresto. Aliene-se de si mesmo ganhando descontos nas melhores farmácias. Fora da programação pay per view, a escada do morro tingida com o sangue que escorreu da cabeça da criança famigerada que jamais passaria no teste do casting da agência de publicidade. Virou notícia que não desce o asfalto.

Operações de captura. Máquinas Paranóicas. Máquina atormentada por um desejo de abolição. Estudar composição das intensidades desterritorializantes. Variável aleatória fora do desvio-padrão. Esquartejar ópticas, contradições, paradoxos. Perspectivas. Realidades paralelas, cruzadas, conflitantes. “Ô tia dá uma moeda pra mim comprar um lance. Eu tô com fome, tia. Ô, tia, tô com frio, a senhora pode me dar uma brusa?” MENINA NUA DE LINGERIE SABOR ARTIFICIAL CUPUAÇU TRANSGÊNICO PATENTEADO: processos de tomada de consciência, estados superiores de ser e de sentir, combinações harmônicas, tabela periódica de frequências galácticas, estruturas vibratórias, portais de energia, grafologia dos textos estelares, cargas afetivas contagiosas, mutação existencial coletiva ZZZZZZZZZzzzzzzzzz

Nada necessariamente. Zero ponto a n-1. Fotofobia da vida sem colírio comprando óculos escuros. Imagem não é nada, edição é tudo. Ânsia do transe, os limites da língua.

Matou a poesia e recitou versos disformes. Acordes dissonantes na exploração de freqüências sonoras. Arquiteturas provisórias em colapso. Limpou a bunda, disse três palavrões, puxou três vezes a descarga e chutou a porta. Ficou na lacuna entre peixes e animais terrestres.

palomaklis(ys)paraoutraspalavras

Paloma Klis(y)s é escritora, poeta e artista transmídias. Paloma é uma das fundadoras do projeto O Autor na Praça, idealizadora do projeto de arte interdependente Literatura Nômade e do projeto multimídia Inflexos Transcorpo. Transita entre diversos coletivos como Poesia Maloqueirista e Membrana Experimental Fiat Lux. Faz parte da Rede Tranzmídias e está lançando seu terceiro livro de poemas “Qualquer coisa entre um cigarro e um lugar que não existe”. http://entreumcigarroeumlugarquenaoexiste.blogspot.com.br/

O livro, publicado em parceria entre a autora e o Selo Edições Maloqueirista, será lançado em São Paulo no dia 29/03 no projeto O Autor na Praça e dia 04/04 na festa underground de rua Vaca da Galáxia.

Vale a pena ler primeiro é seção de Outras Palavras dedicada à literatura. Foi criada e é editada por Fabiano Alcântara. Jornalista especializado em cultura, repórter de Música do portal Virgula, e colaborador de diversas publicações – como Valor Econômico e os sites das revistas TRIP e TPM –, Fabiano é também músico, baixista das bandasMercado de Peixe e Lavoura e curador de festivais.Para ler edições anteriores da coluna, clique aqui.

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Um comentario para "Ler Primeiro: Literatura de Várzea"

  1. literatura maloqueirista pura, misto de baque, crise e estorvo, a certeza entre peixes e ancestrais extraterrestres, aqui estamos todos! citando o Zé da Cachorra (5xfavela) “acabou a cerva, acabou o assunto!” Valeu Paloma!! bjs

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