Irã, o alvo dos insanos

Robert Fisk escreve: “um ataque a Teerã seria loucura. Por isso mesmo, não exclua a possibilidade”

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Tradução: Vila Vudu

Se Israel atacar o Irã esse ano, Israel – e os EUA – darão prova de serem ainda mais doidos do que seus inimigos acreditam que sejam. Sim, Mahmoud Ahmadinejad, o presidente iraniano, é doido, mas Avigdor Lieberman, que parece ser ministro dos Negócios Exteriores de Israel, também é. Talvez queiram fazer favores um ao outro.

Mas por que Israel bombardearia o Irã, e atrairia sobre a própria cabeça a fúria simultânea do Hezbollah libanês e do Hamás — sem falar na Síria? E, isso, também sem lembrar que Israel atrairia para o fundo do mesmo buraco e para o mesmo tiroteio o ocidente – a Europa e os EUA.

Talvez seja porque vivo no Oriente Médio há 36 anos, mas pressento alguma tramóia no ar. Até Leon Panetta, nada menos que secretário de Defesa dos EUA, anda dizendo que Israel talvez ataque o Irã. E também a CNN – e seria difícil achar mais antiga criadora de tramóias –, e até o velho David Ignatius[1], que não está no Oriente Médio há uma ou duas décadas, repete que Israel talvez ataque o Irã, “informação” colhida, como sempre, de suas “fontes” israelenses.

Já esperava esse tipo de conversa, quando passava os olhos pelo The New York Times Magazine da semana passada – e não é propaganda, porque não quero que os leitores de The Independent percam tempo e energia lendo aquelas bobagens – e encontrei um alerta, escrito por um “analista” (nunca consegui entender o quê, exatamente, é um “analista”) israelense, Ronen Bergman, do jornal israelense Yedioth Ahronoth.

Eis aqui a isca de Bergman, bem no estilo da velha toada da velha propaganda de guerra: “Depois de falar com muitos [sic] altos líderes israelenses e comandantes [outro sic] militares e da inteligência de Israel, estou convencido de que Israel realmente atacará o Irã em 2012. Talvez na pequena e cada vez menor janela de tempo que ainda resta, os EUA decidam, afinal, fazer alguma coisa, mas do ponto de vista de Israel, a esperança já é quase nenhuma. Em vez de esperança, o que se vê é a mesma combinação, tão típica dos israelenses, de medo e tenacidade, a feroz convicção, certa ou errada, de os israelenses sempre têm de se defender sozinhos.”

Ora essa! Primeiro, qualquer jornalista que preveja ataque de Israel contra o Irã põe o próprio pescoço na guilhotina. Segundo, jornalista que preste – e há muitos em Israel – perguntaria a si mesmo, antes de escrever: Para quem estou trabalhando? Para o meu jornal? Ou para o meu governo?

Panetta, que já mentiu aos soldados dos EUA no Iraque, quando lhes disse que estavam lá por causa do 11 de Setembro, deveria saber jogar o jogo com mais competência. A CNN também. E Ignatius é para ser esquecido. Mas… que conversa é essa, em geral? Nove anos depois de invadir o Iraque – aventura muitíssimo bem sucedida, como não se cansam de repetir até hoje –, porque Saddam Hussein tinha “armas de destruição em massa”, lá estamos nós, aplaudindo que Israel bombardeie o Irã, por causa de outras “armas de destruição em massa”, ainda mais improváveis.

Não duvido de que, segundos depois de ouvir o noticiário, os redatores grotescos que redigem os discursos de Obama já estarão metendo mãos à obra para encontrar as palavras certas de apoio a um ataque israelense. Se Obama pode trocar a defesa da liberdade e dos direitos dos palestinos ao próprio Estado pela própria reeleição, não há dúvidas de que poderá apoiar a agressão israelense, na esperança de que o mantenha na Casa Branca.

Mas, se os mísseis iranianos começarem a chover sobre os navios de guerra dos EUA no Golfo – para não falar das bases norte-americnas no Afeganistão –, os redatores de discursos de Obama terão, aí sim, muito mais trabalho. Que, pelo menos, não deixemos que britânicos e franceses entrem nessa.

[1] David Ignatius é colunista norte-americano, muito conhecido por suas ligações com a inteligência israelense; aparece lembrado aí, por causa de matéria intitulada “Is Israel preparing to attack Iran?”, 2/2/2012, publicada no Washington Post, que foi comentada ontem em vários jornais do mundo, precisamente pelo tom de desabrida propaganda de guerra [NTs].

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10 comentários para "Irã, o alvo dos insanos"

  1. Pedro Santos disse:

    Há aqui um documentário sobre as armas nucleares israelitas. Legendado em português. Vale a pena!
    http://vimeo.com/39097216
    Abraço.

  2. marcelo disse:

    O quê que o Irã tem a ver com Israel. Se fosse um problema do Egito, Síria, Palestina com Israel poderíamos entender… mas Irã.
    Acho que estamos presenciando, mais uma vez, a história de um louco querendo dominar o mundo!

  3. pb12 disse:

    Sinceramente, muito sinceramente…
    O que vocês acham se as cosias não estão sendo conduzidas para que não ocorram eleições nos EUA….???
    Faz alguns minutos que vi que congelaram os ativos do irã nos eua…
    Pode ser uma ideia fora da casinha, mas ainda não descartei….
    Porque o candidato da situação por lá está pondo os pés pelas mãos….ou é burro …. ou ….

  4. lucas disse:

    Concordo que paises soberanos tem o direito de ter armamento de destruiçao massiva, porem, digamos que nós Brasil fossemos Israel, como nos sentiríamos se soubessemos que um pais (sem preconceito) que mata e morre pela religiao, onde o fanatismo e uma bandeira, onde o diálogo e dificil mas os atos sao justificados, a insegurança seria monstruosa…Mas…, mas, os EUA, e cia nao tem o direito de intervir da forma que bem acharem, e uma cituaçao bem delicada, o que eu acho bem interessante e que os EUA nao tem um dialogo como esses com paises como a Coreia do Norte, pois la sim o negocio e louco, basta uma palavra errada e uma chuva de artilharia cai sobre o sul, apesar que uma possivel arma nuclear vai servir como moeda de extorçao e troca.

  5. CELSO disse:

    ATÉ OS MARISCOS DA PRAIA DE SANTOS SABEM QUE OS EUA TÊM 5.000 OGIVAS NUCLEARES E ISRAEL, MAIS DE 200 BOMBAS ATÕMICAS ARMAZENADAS NO DESERTO DE NEGEV, FATO QUE AQUELE PAÍS NUNCA DESMENTIU. ALIÁS, NEM ASSINOU O TRATA DO DE NÃO-PROLIFERAÇÃO NUCLEAR. AMBOS ESTÃO PRONTOS PARA ATACAR O IRÃ, O QUE DESENCADEARIA CONSEQUENCIAS INIMAGINÁVEIS, CONFORME ADVERTE O JORNALISTA ROBERT FISK, COLABORADOR DO CONCEITUADO “THE INDEPENDENT”.. SERIA MAIS UMA GUERRA SUJA PARA GARANTIR O DOMÍNIO DO PETÓROLEO IRANIANO. VIDE A LAMBANÇA NO IRAQUE!!!

  6. pb12 disse:

    Esta cultura em que vivemos é paradoxal mesmo. De um lado exalta a vida, mas não qualquer vida, e sim, a vida produtiva. Leia-se produtiva como disciplinada, obediente, servil.
    Em qualquer debate sobre a eutanasia ou o aborto, aparecem os dogmas, os que definem a si próprios como legítimos defensores de algo, e condenam o debate. Exaltam a vida?
    Aquele que comete um crime é preso, mas o soldado que mata o inimigo é condecorado. Qual vida?
    Alguns condenam a guerra que os “outros” “poderiam” fazer, mas fazem guerra em nome da democracia, da liberdade, do humanismo. Tirânico eufemismo. Também já justificaram a guerra sob o nome de guerra santa. Talvez nossa cultura seja a que mais engana a si própria com histórias de humanismo, democracia, direitos humanos e ao mesmo tempo em que faz do genocídio uma constante.
    Desde os anos 90 ouço que o Irã tem a bomba. A mesma história…contada e recontada.
    Infeliz o povo que, em nome da liberdade, precisa da lei marcial. Em nome da liberdade dá carta branca ao estado para agir com força e violência. Infeliz o povo que, em nome da segurança, vive com medo da própria sombra. Medo inventado, medo criado, medo produzido. Infeliz o povo que acredita que precisa de inimigos. Antes um inimigo bem localizado geograficamente, agora um inimigo difuso, disperso. Inimigo inventado, inimigo criado.

  7. eduardo disse:

    MAIS UMA VEZ ESTAMOS ASSISTINDO ESSA VERGONHA, QUE É A PROPAGENDA ISRAELENSE E NORTE AMERICANA. OS IRANIANOS TEM O MESMO DIREITO DE ISRAEL E EUA DE POSSUIR ARMAS NUCLEARES, ASSIM COMO INDIA PAQUISTÃO E OUTROS MAIS CHEGADOS AO IMPERIALISMO. INCLUSIVE PARA USO NA MEDICINA. EMPURRAR O MUNDO PARA MAIS UMA GUERRA, É OBRA DE ISRAEL, MAIS UMA VEZ.

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