Ipiranga, 895

“Outras Palavras” lança webdocumentário sobre ocupações de prédios em São Paulo e define seminário Jornalismo de Profundidade na Era Digital

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“Outras Palavras” lança webdocumentário sobre ocupações de prédios em São Paulo e convida para  seminário “Jornalismo de Profundidade na Era Digital” 

 

 

Lançamento de Ipiranga, 895:

Sábado, 1º/10 — das 16 às 22h

Colúmbia Palace Hotel

Av. São João, 588

São Paulo

Em 30 de setembro de 2010, a redação de Outras Palavras vivia uma noite literária e política. O escritor e poeta cubano Félix Contreras comandava um sarau de poesias e discutia a Revolução, suas conquistas e dívidas. Perto do final, o jornalista Breno Castro Alves interrompeu a sessão para um anúncio-convite. Outras Palavras realizaria uma experiência nova, para a qual todos estavam convidados: a produção de um webdocumentário, algo ainda pouco comum no jornalismo brasileiro.

A cena é retrato de uma dimensão de Outras Palavras ainda pouco conhecida pelos leitores. Desde o início de 2010 o site anima, também, um Ponto de Cultura. Seu papel é investigar o uso das novas tecnologias de comunicação compartilhada, desenvolvendo o jornalismo de profundidade que procuramos praticar. No ano passado, ele teve viés principalmente teórico (em 2011 será diferente, como se verá ao final). Cerca de trinta pessoas participaram de oficinas sobre o tema, realizadas às noites de quinta-feira durantes um semestre de encontros.

Realizar o webdoc proposto era um passo a mais. Permitiria dar vida prática ao que fazia parte da pauta de debates desde maio. Estimulados pela convergência digital, que barateou ao extremo a produção e edição de vídeos, fotos e áudios, os webdocs estão se multiplicando como proposta de linguagem genuinamente digital. Cada vez mais fica claro que a programação é fundamental para a construção de conteúdo na web: é ela que permite realizar a fusão entre estas mídias eletrônicas e o texto escrito, construindo peças de mídia inovadoras e possibilitando tratar realidades complexas de modo mais vivo e atraente. Produzir experimentalmente webdoc, articulando os diversos saberes dos participantes do Ponto de Cultura, parecia um desafio instigante.

Foi fácil escolher, poucos dias depois, o tema do trabalho. Na madrugada de 3 de outubro, véspera das eleições presidenciais, centenas de famílias sem-teto ocuparam quatro edifícios abandonados, no centro de São Paulo. As ações, que se estenderam por várias semanas (e ainda prosseguem, nas ocupações São João e Prestes Maia), reivindicavam o direito à cidade e punham em xeque o apartheid social que ainda marca o Brasil, apesar dos avanços dos últimos anos.

A especulação imobiliária empurra os pobres para as franjas distantes das metrópoles – cada vez mais longe. Nos últimos anos, eles passaram a reivindicar com força crescente o direito à cidade, inclusive a seus núcleos centrais, servidos por redes excelentes de água, saneamento, transporte público, eletricidade, internet.

Outras Palavras mergulhou no quotidiano de um dos edifícios ocupados – o que fica na Avenida Ipiranga, quase na esquina emblemática com São João. Durante mais de um mês, os participantes do Ponto de Cultura conviveram com os novos moradores. Somos partidários da isenção, mas não da imparcialidade. Sabemos qual é nosso lado. Defendemos a reforma urbana; apoiamos ativamente a ocupação e suas reivindicações até dia 25 de novembro de 2010, quando a Polícia Militar cumpriu ordem judicial e desocupou o prédio.

Tomar partido não significa produzir panfletos. Estamos convencidos de que nossos textos, vídeos, fotos e áudios permitem um mergulho duplo. Primeiro, no quotidiano do prédio, transformado pelos habitantes inusuais. Segundo, em alguns aspectos da segregação que marca as metrópoles brasileiras e no debate das formas de superá-la. O leitor pode agora avaliar os resultados e tirar suas próprias conclusões.

Como editor de Outras Palavras, tive a satisfação de coordenar o Ponto de Cultura no ano passado. Os méritos pelo webdoc cabem a uma grande equipe, formada por participantes do seminário e por outros ativistas da comunicação que se uniram ao trabalho. Em especial, Breno Castro Alves, o editor. Ele não é daqueles que se contentam com suas próprias ideias inovadoras. Mergulhou, ao longo de meses, em sua concretização meticulosa. Da produção de algumas das peças à participação na pauta de quase todas. Da coordenação de inúmeras reuniões de balanço, em 2010, à adptação de tecnologias que permite apresentar, agora, o webdoc.

Por uma coincidência feliz, o fim de semana escolhido para lançamento do webdoc marcará, também, a retomada das atividades presenciais realizadas pelo Ponto de Cultura que Outras Palavras anima. Vencidos os sobressaltos causados pela crise do ministério da Cultura, elas voltam, agora em nova fase, ainda mais voltada para a prática. O site formará um grupo aberto de colaboradores, que serão responsáveis por acompanhar temas específicos e produzir material jornalístico de qualidade a respeito. Um blog coletivo reunirá esta produção. Ela será discutida em oficinas semanais de avaliação e pauta, a partir de 6 de outubro.

Todo o projeto será apresentado num seminário teórico e prático sobre Jornalismo de Profundidade na era Era Digital. Ocorrerá em 1º e 2 de outubro (sábado e domingo, das 9 às 16h), em nossa redação (Rua Augusta, 1239, São Paulo), e será transmitido via internet.

No sábado (1º/10), faremos o seminário e iremos em seguida ao lançamento do webdoc. Será uma oportunidade de ligar duas iniciativas relacionadas à nova era que se abre ao jornalismo. Ela expressa o declínio de um modelo (a velha mídia, com suas relações mercantis e ultra-hierarquizadas) e o surgimento de outro. Queremos ser parte dessa construção e desejamos sua companhia.

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2 comentários para "Ipiranga, 895"

  1. gleci disse:

    Acho que as pessoas que não tem moradia devem ir com calma, pois quem conseguiu comprar um imóvel foi com muita luta e suor do rosto .digo”TRABALHO”, NÃO É JUSTO.
    Enquanto a maioria procura trabalhar e comprar um imóvel os desocupados querem de graça.
    Eu mesma e outras pessoas já tivemos nossos imóveis invadidos porque tivemos que trabalhar em outros estados. Esperando alugar invadiram os mesmos e ai tivemos que entrar na justiça para desocupar.
    Enquanto isso ficamos com despesas extras de advogados,alugueis etc até passando necessidade esperando a decisão da justiça que pode levar anos.
    Eles lá dentro usufruindo como se fosse os donos.
    Não é assim que se adquire algo com dignidade.
    A quem tem mais de um imóvel que é rico e não precisa.
    venda num preço justo.
    Principalmente os que pertencem aos órgãos públicos em vez de deixa-los abandonados.
    Com certeza a cidade ficará bem mais bonita.
    Evitarão invasões e depredações que tanto custo traz; a classe trabalhadora.

  2. Marina Barros disse:

    Oi Antonio.
    Estarei com vocês on line acompanhando aqui do Rio.
    A cada dia me identifico mais com a proposta de vocês. A crença em um “jornalismo de profundidade” é antes de tudo, a crença de que é possível promover a compreensão de pessoas ou grupos de mundos partidos a partir da comunicação.
    Esta reportagem é um exemplo disso, Habermas ficaria orgulhoso! Acho que vocês estão conseguindo promover a compreensão de um tema super delicado e polêmico até por quem está do outro lado da mesa, ou seja, os proprietários amedrontados, que se sentem ameaçados diante da “barbárie”.
    Vida longa ao Outras palavras!
    beijo!

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