Entrando pelo Kahn

Em um furo mundial, o Chéri à Paris descobriu as três linhas da defesa que o ex-chefe do FMI pretende apresentar

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(Chéri à Paris, por Daniel Cariello)

O trocadilho é tão inevitável quanto besta, mas a sensação geral na França é de que Dominique realmente Strauss pelo Kahn. O agora ex-chefe do FMI e ex-favorito à sucessão de Sarkozy procura uma maneira de explicar a grande lambança que envolve o seu nome e o seu inominável. Em um furo mundial, o Chéri à Paris descobriu as três linhas da defesa que ele pretende apresentar.

Primeira linha

– Mas, seu juiz, eu não fiz nada de errado.

– Como assim? O senhor está sendo acusado de abuso sexual e diz que não fez nada de errado?

– Tudo aconteceu quando fui pagar a conta do quarto. Como gerente do dinheiro do mundo inteiro, prefiro pagar as faturas antes, porque aí a grana volta mais rápido pros cofres do FMI.

– Continue, senhor Kahn.

– Eu perguntei pro atendende quanto devia. Ele respondeu: “Cinco mil dólares”.

– Cinco mil por um quarto, senhor Kahn?

– Foi exatamente o que perguntei pra ele: “Cinco mil por um quarto?“

– E o que ele respondeu?

– Ele falou: “É, cinco mil dólares, mas todos os serviços estão inclusos”. Eu falei: “Por esse preço, ainda é pouco”.

– Realmente, é pouco.

– Então eu insisti, eu sempre quero mais. E aí ele completou: “E, é claro, todos os funcionários do hotel estarão à sua inteira disposição”. Viu? À inteira disposição. Foi ele mesmo quem disse!

Segunda linha

– Seu juiz, quando a camareira falou que sonhava em ver a minha eleição, eu entendi “ereção”. Como o senhor pode ver, é culpa do sotaque dela.

Terceira linha

– Seu juiz, a culpa é do Obama.

– Senhor Kahn, o que está tentando insinuar contra o nosso presidente?

– Acontece, seu juiz, que a camareira e eu estávamos tendo uma conversa amena sobre os Estados Unidos. E ela me confessou um grande orgulho em ser governada pelo senhor Obama.

– Todos nós temos muito orgulho, senhor Kahn.

– Ela me falava da campanha presidencial, da mobilização da população, do slogan.

– Continue…

– Ela disse em voz forte: “Yes, we can.”. Eu repeti: “Yes, we can”. Aí ela ficou de pé, abriu os braços e gritou com força: “Yes, I Kahn”.

– E você?

– Depois dessa convocação? Yes, I créu, of course.

Daniel Cariello, editor da revista Brazuca, é colaborador regular da Biblioteca Diplô/Outras Palavras. Escreve a coluna Chéri à Paris, uma crônica semanal que vê a cidade com olhar brasileiro. Os textos publicados entre março de 2008 e março de 2009 podem ser acessados aqui.

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Um comentario para "Entrando pelo Kahn"

  1. José Guerra disse:

    I like receive Outras Palavras

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