Chéri à Paris: J'aime rien

O parisiense adora Paris, seus restaurantes, vida cultural, cafés, parques, tudo que ela oferece. Só detesta o que mora nela

 

O parisiense adora Paris, seus restaurantes, vida cultural, cafés, parques, tudo que ela oferece. Só detesta o que vive nela

Há algo muito importante que você precisa aprender sobre os parisienses: eles te detestam. Eles não te conhecem e te odeiam. Nunca te viram e já não suportam a sua presença. Mas, acredite, esse ódio, apesar de real, não é pessoal (esse é um privilégio concedido a poucos, como ao atual casal presidencial e às pessoas que estão a menos de 200 quilômetros deles).Vou tentar explicar alguns elementos dessa falta de apreço do parisiense por tudo o que se move e não é o seu cachorro.

Bufada

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Categoria: manifestação não-verbal de ódio

A bufada é a mais clássica demonstração de irritação do parisiense. Mas é mais do que isso: é também o último refúgio da eterna insatisfação francesa, da vontade que eles têm de vez em quando – tipo umas doze vezes por dia – de mandar tudo pros ares e fazer uma revolução. É o que sobrou depois que se tornou meio indelicado pendurar o sujeito em uma forca ou guilhotiná-lo em praça pública. Malditos tempos monótonos, onde não se pode nem mais descer tranquilamente a lâmina no pescoço alheio.

Putain!

Categoria: manifestação verbal de ódio

Putain significa puta merda. Em Paris você vai escutá-lo ao menos 337 vezes por dia. Se um parisiense está aborrecido, ele diz “putain”. Se um parisiense dá uma topada com o joelho, ele diz “putain”. Se um parisiense pisa num cocô de cachorro de um outro parisiense, ele diz “putain”. Se está frio, ele diz “putain”. Se faz calor, ele diz “putain”. Se você ousa abordar um parisiense, tirando-o de suas complicadas elocubrações mentais, para lhe perguntar alguma coisa que não esteja à altura de sua genialidade, ele pode até não dizer “putain”, mas certamente vai pensar. E depois vai bufar.

Vizinhos    

Categoria: objeto (relativo) de desprezo

O verdadeiro parisiense nunca se dirige aos seus vizinhos quando pegam o mesmo elevador. Mas se por acaso se encontram em um bar do outro lado da cidade, são capazes de conversar por horas a fio, falando mal dos outros vizinhos. No dia seguinte, no elevador, o amigo da véspera volta à condição de semi desconhecido. Condição que dura até o próximo encontro fortuito em um bar bem distante, porque esse da esquina é mal frequentado, tá cheio de vizinhos.

Turistas

Categoria: objeto de ódio extremo

Só tem uma coisa que o parisiense odeia mais do que você, o vizinho ou qualquer outro parisiense: o turista. Se você for um destes, a sua única opção é freqüentar lugares nos quais dificilmente os locais põem os pés, como a torre Eiffel ou o Louvre (evite os Mcdonald’s ou a Eurodisney, sempre entupidos de nativos).

Bom, pra não ser injusto, preciso admtir que o parisiense adora Paris, com seus restaurantes, sua vida cultural, seus cafés com mesas na varanda, seus parques e tudo o que ela tem pra oferecer.

Não é exagero dizer que o parisiense ama sua cidade.

Ele só detesta todo mundo que mora nela.

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2 comentários para "Chéri à Paris: J'aime rien"

  1. Cristiano disse:

    Cara, achei o texto legal e tudo mais, mas em minha estadia lá não passei por nada disso. Meu sentimento foi o exato oposto, inclusive.
    [licença para expressar a opinião (hehehe)]
    Tá certo que pode ser por não ter ficado pagando de turista. Aluguei apartamento pelos 15 dias que fiquei, fui à padaria, supermercado e tudo mais que precisava no dia-a-dia e ainda conheci boa parte dos pontos turísticos com calma.
    Tanto eu quanto minha esposa fomos tratados muito bem pelos franceses – ao contrário de fato do que esperávamos – inclusive falando conosco em inglês.
    Os que não falaram com a gente foram só os que não sabiam falar inglês e deixaram isso claro de forma muito educada.
    Alemães em Berlin e Holandeses em Amsterdam são de fato extremamente mais divertidos e gentis.
    Mas depois de um mês na Europa, Paris, de fato, não é um destino a que tenho vontade de retornar, mas não pelas pessoas e muito menos pelo tratamento que recebemos. Achei a cidade feia mesmo.

  2. Greg minus disse:

    Rapaz,
    De fato há nos ares de paris uma fleugma que a todos contamina. Principalmente àqueles que incorporaram uma certa imagem do que seria a cidade do rei-luz. Para maiores explicações, se deve ver o quanto a fleugma parisina deve à vida em corte, teatresca comédia de dissimulações (ver Ridicule de Patrice leconte).
    Tenho uma hipótese que poderia justificar suas observações : Muitas parisinas não exerceram sua maternidade protetora das dores da infância, daí, crianças feridas sem colo nem chamngo reconfortante, eternamente desamparados diante das agruras mais simples. Talvez, não seja tão longinquo, apenas desde que elas foram à luta, tiveram que trabalhar, maes solteiras do pós guerra.
    Who knows?
    Jamais haverão cientistas ou verbas suficientes para nos explicar as coisas do coração.

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