A hora das periferias?

Depois de séculos, eurocentrismo parece abalado. Mas de que servirá avanço dos “emergentes”? Criar novos enredos? Ou apenas trocar atores?

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Da Redação

Nos últimos cinco séculos, dois grandes fenômenos marcaram a História das sociedades humanas. As lógicas sociais capitalistas – que valorizam a competição, a acumulação de riquezas, o domínio do ser humano sobre a natureza, uma nova hierarquização dos indivíduos, povos e nações (agora segundo seu poder econômico) – tornaram-se hegemônicas em todo o planeta. Ao mesmo tempo, a Europa firmou sua supremacia econômica, política, militar, científica e cultural sobre o mundo – compartilhada, a partir do século XX, com os Estados Unidos. Em 2011, o desgaste deste segundo domínio tornou-se mais nítido que nunca.

China e Índia – secundadas por outros países da Ásia e pela América do Sul – já puxavam, há cerca de uma década, a expansão econômica do planeta. Mas estão se multiplicando os sinais de que o eurocentrismo declina também em outros terrenos. Na diplomacia, despontaram com força e articulação crescentes blocos de nações periféricas, como o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Em espaços geopolíticos onde antes Washington exercia influência quase exclusiva, destacaram-se novos atores (como a Turquia, no Oriente Médio). Os arranjos que podem abalar a velha hierarquia estenderam-se a terrenos como Defesa, Energia, Ciência e Cultura. Nos últimos meses do ano, dois fatos de grande carga simbólica evidenciaram a possível transição. Os Estados Unidos deixaram o Iraque derrotados, nove anos depois de se lançarem a uma guerra insana. Para tentar enfrentar a crise europeia, o FMI correu em busca de empréstimos da China, Índia e do próprio Brasil.

De que maneira esta enorme remexida no tabuleiro geopolítico afetará o capitalismo? É uma das grandes questões contemporâneas ainda sem resposta. Há quem veja no avanço da China, por exemplo, uma nova expansão do sistema – já que lá a produção tornou-se majoritariamente capitalista. Outros pontos de vista julgam que, caso se confirme, o fim do eurocentrismo abrirá um período de grande instabilidade do capitalismo – que necessitaria associar-se sempre a um sistema de hierarquias internacionais claramente estabelecidas.

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