A Espanha vota para nada

Eleitores podem optar por quem quiserem, domingo. Mas chanceler alemã e “mercados” já definiram programa que novo governo executará

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Por Pep Valenzuela, de Barcelona

Os quinze dias da curta campanha eleitoral na Espanha terminam este domingo, 20 novembro — quando as urnas vão decidir o próximo governo. De acordo com todas as pesquisas, o chamado de Partido Popular (PP), direitista e fundamentalista católico, deve alcançar uma vitória gigantesca, atingindo uma maioria absoluta de deputados e senadores que, de se confirmada, permitirá governar e legislar sem precisar de alianças ou apoio algum no Parlamento. Confirmados os prognósticos, ao social-liberal PSOE restará uma derrota humilhante.

Embora a maior parte da população seja simpática ao movimento dos indignados, sua influência na política institucional será nula, segundo também revelam as pesquisas e análises. As multidões que ocuparam praças em todo o país, e que em cinco meses transformaram-se num marco importante da paisagem social e cultural do país não pesarão em favor de nenhuma das opções eleitorais disponíveis. Também não puderam — ou não quiseram — utilizar o momento do voto para acumular forças para o futuro. .

Mas nesta hora, todo isso quase que passa para o segundo plano. Depois de três anos de políticas para resolver a chamada de “crise financeira”, seguindo à risca as indicações do padrão neoliberal, o futuro é ainda mais perigoso e desalentador. A substituição dos governos grego e italiano (por piores que fossem, eleitos pelos cidadãos) por duas equipes de “tecnocratas”, supostamente alheios à política é um tremendo golpe contra a soberania e a democracia na Europa.

Nesta quinta (17/11), para que não restassem dúvidas, a premiê alemã Angela Markel insistiu na necessidade de que “os países cedam mais soberania fiscal às instituições comuns, como passo para “a nova Europa”. E os dirigentes da Comissão Europeia, a seu lado, anunciaram que a Espanha, que na teoria já teria feito todas as reformas econômicas, do mercado de trabalho, de limitação do gasto público, e até constitucionais, deverá ainda realizar novas “medidas”.

Por isso, ao novo governo, previsivelmente dirigido pelo direitista Mariano Rajoy, foi anunciado que “a confiança não se cria da noite para o dia” e que será necessário mais do que gestos para acalmar as dúvidas dos especuladores: “a confiança se gera também com medidas adicionais, se for necessário”, disse o portavoz da Comissão, Amadeu Altafaj.

O candidato direitista, que tentou fugir de posições claras, durante a campanha eleitoral, mudou nos últimos dias seu discurso. Com a vitória praticamente assegurada, mostrou o verdadeira face do que já vinha sendo chamado de “programa oculto”. De um lado, porque a expectativa de vitória é mais do que sólida e reconhecida por todos os protagonistas e observadores da política. De outro, para que os dirigentes dessa “nova Europa” e os “especuladores” fiquem tranqüilos, e fiquem sabendo que os “deveres” serão feitos. Viva a “democracia”!

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