Viagem à heresia do Emprego Digno Garantido

Experimento revela como evolui a condição humana, quando já não é preciso aceitar qualquer trabalho. Mudam a vida material, as relações com a comunidade e a autoestima. Mas há quem se queixe: “não deveriam submeter-se ao mercado?”

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Por Nick Romeo na The New Yorker | Tradução: Maurício Ayer | Imagem: Aliza Nisenbaum

Em 1931, três pesquisadores da Universidade de Viena viajaram para Marienthal, uma pequena cidade a cerca de 30 quilômetros de distância, para estudar os efeitos do desemprego de longo prazo. Dois anos antes, o sistema bancário da Áustria havia entrado em colapso. A principal empregadora da cidade, uma fábrica têxtil, havia fechado, demitindo centenas de trabalhadores.

Os pesquisadores descobriram que Marienthal havia sido transformada por essas devastações econômicas. “Quando um gato ou cachorro desaparece, o dono não se preocupa mais em registrar o sumiço; ele sabe que alguém deve ter comido o animal e não quer saber quem foi”, escreveram. As pessoas consumiam principalmente pão e café; repolho e batatas desapareciam regularmente dos campos dos agricultores. A equipe de luta greco-romana da cidade, acostumada ao sucesso, não conseguia mais preencher a vaga dos pesos pesados. Além das privações materiais, havia apatia e desespero. Um homem, outrora leitor regular do jornal, explicou que “agora eu apenas folheio e depois jogo fora, mesmo tendo mais tempo”. Depois de se candidatar a 130 empregos sem sucesso, outro homem passava metade dos dias na cama. As reuniões políticas diminuíram, menos livros foram retirados da biblioteca e as brigas domésticas e o alcoolismo afundaram em sombras os casamentos. Até as crianças sentiam-se desalentadas: “Quero ser piloto, capitão de submarino, chefe índio e mecânico”, escreveu um menino de 12 anos em uma redação escolar. “Mas temo que será muito difícil encontrar um emprego.”

O estudo dos três pesquisadores foi publicado em 1933, com o título “Die Arbeitslosen von Marienthal” (“Os Desempregados de Marienthal”). O opúsculo, que se tornou um dos primeiros clássicos da sociologia, mostrava que o emprego proporciona muito mais do que renda. O trabalho provê estrutura, autoestima e motivação, e seu desaparecimento pode levar à depressão, ansiedade, dependência e conflitos entre pessoas. (Estima-se que, de cada cinco suicídios, um pode estar associado ao desemprego.) À medida que o poder de Adolf Hitler crescia, o anseio por uma atividade, uma estrutura e uma comunidade articulados pelos desempregados no estudo de Marienthal começaram a ressurgir de maneira  sinistra. “No plano macro, é bastante provável que parte do sucesso inicial do movimento hitlerista se deva a que desempregados em grande número foram levados para os quartéis e mantidos ocupados com treinamento paramilitar”, escreveu um dos sociólogos, em um prefácio à edição estadunidense.

Marienthal ainda existe, embora, ao longo do século XX ela tenha sofrido conurbação com a aldeia vizinha chamada Gramatneusiedl. No outono de 2020, a agência pública de empregos do governo austríaco decidiu lançar um programa de garantia de emprego lá – uma iniciativa que garantiria trabalho aos desempregados. Qualquer um que esteja desempregado há um ano ou mais agora tem a opção de emprego garantido enquanto durar o programa. Em alguns casos, trata-se de um cargo subsidiado do setor privado; em outros, uma organização sem fins lucrativos trabalha com os participantes para criar um emprego que atenda às necessidades locais. O estudo original queria saber como o desemprego afetava as pessoas. O experimento atual, conduzido pelo Serviço Público de Emprego da Baixa Áustria e estudado por economistas de Oxford e sociólogos da Universidade de Viena, faz a pergunta oposta: o que acontece quando alguém que deseja um emprego decente consegue uma vaga?

Cheguei a Gramatneusiedl em uma manhã quente de julho de 2021. Minha intérprete, Helma Kinzl, não conseguia acreditar que ela realmente estava lá – na Áustria, o nome “Gramatneusiedl” é usado para falar de uma hipotética cidadezinha no meio do nada. Estando lá, dava pra entender o porquê. Com cerca de 3 mil habitantes, o vilarejo é cortado ao meio por uma única rua tranquila, tem uma igreja, um café e um punhado de lojinhas e restaurantes. Muitas lojas estavam fechadas. Um campo aberto se estende em todas as direções.

Até agora, 112 pessoas já usaram o programa conhecido como Garantia de Emprego para encontrar trabalho; espera-se que pelo menos mais 50 o façam até 2024, quando o programa está programado para terminar. Os participantes fazem uma formação de oito semanas e, então, recebem uma proposta de emprego; eles são livres para recusar sem perder os benefícios relacionados ao desemprego, mas até agora todos a quem foi feita a oferta de emprego escolheram trabalhar. Provavelmente, isso acontece porque os participantes conversam sobre suas habilidades e interesses com assistentes sociais durante o período de treinamento. No início, um grupo propôs abrir uma oficina de marcenaria, que agora restaura móveis antigos e constrói peças novas; outro grupo pediu trabalho na manutenção de parques públicos e áreas verdes e agora estão sendo pagos para fazer isso. As pessoas trabalham entre 16 e 38 horas por semana, dependendo de seus objetivos, restrições médicas e obrigações ligadas a cuidados. Os salários, que em média variam entre 1.200 e 2.400 euros por mês, são definidos de maneira que todos ganhem pelo menos o mesmo que recebiam antes em seguro-desemprego. Um ano de desemprego – incluindo pagamentos, subsídios e impostos perdidos – custa ao governo austríaco uma média de 30 mil euros. Cada trabalho garantido custa em média € 29.841,39.

O Garantia de Emprego está sediado na mansão onde morava o proprietário da fábrica têxtil de Marienthal, hoje demolida; uma única chaminé paira atrás da mansão. Quando cheguei, umas doze pessoas estavam reunidas na escadaria em frente ao casarão, tomando café e conversando antes do trabalho. Lá dentro, no primeiro andar, um grupo está sentado ao redor de mesas com tecidos, bolsas e máquinas de costura. Era uma oficina de costura. Uma senhora loira, na casa dos 50 anos, trabalhava em mochilas infantis com temas de animais, adornadas com orelhas de elefante rosa e branco ou uma cauda de dragão azul.

“As crianças adoram”, disse ela, e mostrou uma bolsa feita com velhas calças jeans. A maior parte do material usado pela oficina havia sido doado ou obtido de lojas de roupas de segunda mão; as bolsas eram vendidas em um mercado da cidade.

A oficina de marcenaria estava situada em um armazém alto, a cerca de 100 metros da mansão. Os marceneiros, homens e mulheres na faixa dos 20 aos 50 anos, usavam óculos de proteção, macacões e camisas de trabalho; eles se preparavam para lixar e repintar dezenas de bancos de madeira desmontáveis, que acabavam de ser entregues pelos bombeiros da cidade. (Eles os alugam para festas, batizados e outros eventos.) Pedidos como esse geram dinheiro para o programa: cerca de 5% do orçamento de € 7,4 milhões provêm dessas vendas comunitárias. Grande parte dos móveis que o grupo restaura é doada. Antigos baús, armários e cabeceiras de cama, bem como uma carroça de feno do início do século XX, toda escangalhada, enchiam o lugar. As peças restauradas seriam colocadas à venda na cidade, na vitrine de uma sapataria que recentemente havia fechado as portas.

Karl Blaha, um sapateiro de 50 e poucos anos, que já foi o dono da sapataria, me levou para um tour no lugar no dia seguinte. As palavras “Schuhe Blaha” (“Sapatos Blaha”) ainda pairam sobre a fachada da loja em letras brancas; o interior estava escuro e mofado. Pinças, furadores, moldes para sapatos e pedaços de couro espremiam-se na sala dos fundos. “É aqui que costumávamos trabalhar”, disse Blaha, com um suspiro. Esguio e grisalho, trabalhava 30 horas semanais no programa Garantia de Emprego, tanto no ateliê de marcenaria quanto como professor de alemão para os participantes que ainda estavam aprendendo o idioma. “Ninguém mais queria fazer reparos nos sapatos, se podiam simplesmente comprar barato um novo par igual ao velho”, disse ele, imitando o clique de um mouse. O estabelecimento funcionava há mais de 100 anos, inclusive durante o estudo original de Marienthal, mas fechou em 2019.

Naquela tarde, em uma mesa à sombra na parte externa da velha mansão, tomei café com Monika, de 57 anos, também inserida do Garantia de Emprego. Como muitos outros participantes do programa, Monika não teve que batalhar para encontrar trabalho até que sua vida sofreu uma mudança repentina e dramática: 11 anos antes, ela trabalhava como auxiliar de idosos quando um homem desabou sobre ela enquanto ela o ajudava a passar da cadeira de rodas para o chuveiro; ela sofreu ferimentos graves nas costas e o médico disse que ela não poderia levantar mais do que cinco quilos. Ela se candidatou a outras vagas, mas a idade e as restrições médicas dificultaram a busca de um novo emprego. Ela recebeu uma proposta, mas havia a exigência de que se mudasse para a Alemanha, e seus pais idosos moram em Gramatneusiedl. “É mais importante poder cuidar dos meus pais do que ir para a Alemanha”, disse ela.

Outros participantes tiveram experiências semelhantes. Adnan Rizvanovic, um bósnio de 60 e poucos anos que agora trabalha como jardineiro para o programa, já dirigiu caminhões e táxis e trabalhou na área de logística. O pagamento dos motoristas despencou depois que o Uber e seus concorrentes austríacos locais entraram no mercado de táxis. Depois de dois ataques cardíacos, Rizvanovic decidiu que seria melhor ficar fora da estrada, para não correr o risco de ter um terceiro e bater o veículo. “Eu estava psicologicamente destruído”, disse-me ele, por estar repentinamente desempregado. “Se você trabalhou a vida toda, mesmo com muito estresse, e de repente não tem nada para fazer, você pensa que não é mais necessário”, disse. “Você toma seu café da manhã e depois – o que vou fazer o dia todo?” Ele se candidatou a dezenas de empregos, sem sucesso, e começou a perder as esperanças. “Nessa idade, depois de dois ataques cardíacos, é impossível”, disse ele. “Quando ouvem uma certa idade, não tem jeito.” Ele começou a ficar acordado a noite toda, assistindo a jogos de basquete. Sua filha lhe deu um cachorro para que ele saísse de casa com mais frequência.

Por meio do Garantia de Emprego, Rizvanovic trabalhava 20 horas por semana fazendo jardinagem leve. “É legal. É lento. Você tem tempo para pensar enquanto rega as flores. É como uma meditação”, disse ele, apontando para as plantas ao nosso redor. Passou a dormir melhor e assistir menos TV. Gostava de ver outras pessoas no trabalho todos os dias e podia fazer pausas sempre que estivesse cansado – algo que seu cardiologista afirma ser importante. Antes da guerra na Bósnia obrigá-lo a partir para a Áustria, nos anos 1990, ele estudou filosofia e direito na universidade. “Quando estou regando as flores, penso em Sigmund Freud e Immanuel Kant e em todo mundo”, ele me disse, com um olhar melancólico.

Nem todo participante vê o programa como uma melhoria importante em relação aos benefícios que recebe por estar desempregado. Um homem chamado Gilbert – baixinho, muito tatuado e com 52 anos – conta que trabalhou durante décadas como técnico de instalação e manutenção de elevadores antes de machucar as costas e o joelho em um acidente de esqui. Ele aproveitou o tempo em que esteve desempregado viajando na República Dominicana, circulando pela Áustria com seu clube de motoqueiros e participando de desafios de luta greco-romana organizados na floresta, em que torcedores de times de futebol rivais se enfrentavam, antes de selar a paz com cerveja. Segundo ele, não se importaria em levar mais alguns anos naquela vida; ainda assim, trabalhava 30 horas por semana na oficina de marcenaria, ganhando pouco mais de 2 mil euros por mês. “Eu só quero trabalhar em alguma coisa nos próximos oito anos”, disse ele – até poder receber sua aposentadoria. “Se eu ganhar meus 1.800 ou 1.900 euros, farei qualquer coisa – a menos que seja algo eu realmente não goste.”

Os críticos de programas como o Garantia de Emprego argumentam que eles possibilitam exatamente esse tipo de escolha – eles facilitam que alguém recuse um trabalho de que não gosta. Um participante do programa na faixa dos 30 anos me disse que, enquanto recebia seguro-desemprego, recebeu uma proposta de emprego de limpador de banheiros em um posto de gasolina; ele decidiu que não queria “aquele tipo de trabalho” e, em vez disso, encontrou trabalho na oficina de marcenaria. Se todos tivessem um emprego razoavelmente agradável, adequado aos seus interesses e necessidades e pagando um salário digno, quem faria o trabalho sujo e difícil? Os empregadores austríacos, como os estadunidenses, estão tendo dificuldade em contratar pessoas para trabalhos duros e mal pagos; muitos dos trabalhadores na Áustria que lavam pratos ou limpam quartos de hotel são imigrantes da Europa Oriental e, durante a pandemia, uma grande parcela deles foi para casa, alguns para não mais voltar. Jörg Flecker, sociólogo da Universidade de Viena que está avaliando o programa de Gramatneusiedl, disse-me que a pressão dos empregadores pode impedir sua expansão na Áustria. “Os empregadores dizem: ‘Há muitos desempregados. Temos que ter um regime mais rígido com eles, porque temos empregos a preencher’.”

Lukas Lehner e Maximilian Kasy, economistas de Oxford que estão avaliando dados de Gramatneusiedl, argumentam que a competição com o setor privado é uma coisa boa. “Acho que, do ponto de vista econômico, esse argumento não faz muito sentido”, disse Kasy, sobre a questão dos trabalhos-lixo. “Se são empregos de merda, tente oferecer por eles o melhor pagamento possível. Tente mudar as condições de trabalho o máximo que puder até chegar a um ponto em que alguém os aceite, ou então automatize, se for possível. E então, se mesmo assim ninguém quiser esse trabalho, talvez não devêssemos fazê-lo.” Kasy acha que uma função importante de iniciativas como as garantias de emprego – e de renda básica universal – é a de melhorar a posição de negociação de pessoas que querem mudar suas vidas. “Quando há abuso em uma relação de trabalho, de um burocrata no estado de bem-estar ou em um relacionamento amoroso, a questão é: qual é a sua opção fora dela?”, disse. “Ter a segurança de uma renda básica ou um emprego garantido melhora suas condições de manter-se fora. Se seu chefe é abusivo, ou não respeita seu horário, ou está te assediando ou o que quer que seja, você tem a opção de dizer não.”

Conheci Denise Berger em Gramatneusiedl, e ela disse que já havia enfrentado exatamente esse tipo de situação. Durante anos, ela foi abusada sexualmente por seu padrasto; os efeitos psicológicos fizeram com que ela brigasse no trabalho, em uma confeitaria. Ela perdeu o emprego, mas não conseguiu sair da casa dos pais. Por meio do Garantia de Emprego, trabalhava 20 horas por semana na limpeza de um jardim de infância e conseguia pagar o aluguel de um pequeno apartamento, onde morava com dois cachorros. Seus irmãos, lembra ela, criticavam duramente sua incapacidade de conseguir um emprego: “Você é burra, é uma pessoa meio má, não tem emprego, não serve para nada”. Isso mudou durante a pandemia, quando dois deles também perderam o emprego. Nada desafia tanto os estereótipos sobre os desempregados, ela me disse, como o fato de se tornar um.

O desemprego na Áustria, como em muitos países ocidentais, vem aumentando gradualmente há décadas. Em 2021, o número oficial foi de 8%. Esse é provavelmente um número subestimado; como nos Estados Unidos, as estatísticas oficiais da Áustria não contabilizam os desalentados, que simplesmente pararam de procurar trabalho. O desemprego indesejado é bastante comum. E, no entanto, o estigma enfrentado pelos desempregados de longa duração é muito forte. Flecker, o sociólogo, notou que os participantes do Garantia de Emprego muitas vezes estão ansiosos para mostrar que não são os típicos desempregados. “Eles dizem, ‘Oh, bem, eu não sou como os outros. Eu tenho um papel especial aqui’”, disse-me. Muitos dos participantes com quem conversei assinalaram que faziam parte do grupo dos que queriam trabalhar, enquanto outros eram, segundo a definição deles, preguiçosos que pegavam carona no programa.

No meu último dia em Gramatneusiedl, tomei café com Thomas Schwab, prefeito da cidade, na sede do Garantia de Emprego. Um velho homem, que fala com um ar cauteloso e professoral, Schwab escreveu sua dissertação de mestrado sobre o estudo original de Marienthal; ele vê o projeto atual neste contexto histórico. “Talvez você conheça Adam Smith e esses caras que dizem que o mercado está sempre certo”, disse ele. “Se você não encontra um emprego, então trabalhe por menos dinheiro. Mas isso está completamente errado! Se eu não tiver emprego na minha empresa, pode haver mil pessoas lá fora, e elas podem dizer, como nos anos 1930: ‘Vou trabalhar só para comer’. Eles encontraram um emprego? Não encontravam trabalho, porque ninguém tinha trabalho para oferecer.”

Sven Hergovich, diretor regional do Serviço Público de Emprego da Baixa Áustria, concorda em essência com essa análise. Ele acha que as crescentes demandas por produtividade e eficiência significam que, agora e no futuro, nem todos conseguirão encontrar um emprego sem apoio. “Não há empregos suficientes disponíveis para todos os desempregados de longa duração”, ele me disse. “Na verdade, temos apenas duas opções. Ou financiamos o desemprego de longa duração ou criamos uma garantia de emprego.”

Em última análise, o sucesso percebido de qualquer programa de garantia de emprego depende de quais você considera que deveriam ser os objetivos. Kasy, economista de Oxford, acredita que há três fatores a serem considerados. As pessoas estão se saindo melhor em medidas objetivas e subjetivas de bem-estar? Elas participam voluntariamente? E o programa custa aproximadamente o mesmo ou menos do que os atuais benefícios de desemprego? Ele e seus colegas estudaram o programa Gramatneusiedl usando um ensaio controlado randomizado, no qual ondas de participantes que começaram em momentos diferentes foram comparadas umas com as outras, com uma composição estatística de desempregados semelhantes de cidades semelhantes na Áustria que não têm garantia de emprego e com outros fatores. Até agora, em uma ampla gama de dimensões – sintomas de ansiedade ou depressão, sensação de inclusão social, status social, segurança financeira e assim por diante – as melhorias na vida dos participantes são estatisticamente significativas. Kasy observou que o Garantia de Emprego não custa mais por pessoa do que os benefícios de desemprego. “Ele vem de graça, as pessoas escolhem participar voluntariamente e sentem que estão em melhor situação – dá pra dizer que é um golaço”, disse ele.

Se o objetivo dos programas de garantia de empregos é fazer a transição de todos os participantes para empregos no setor privado ou reduzir drasticamente os gastos com desemprego, pode ser difícil defendê-los. Mas, se os objetivos são melhorar a saúde física e mental das pessoas, realizar uma série de tarefas em uma comunidade e trazer alguns participantes de volta ao setor privado, então as perspectivas parecem mais promissoras. Desde minha visita a Gramatneusiedl, muitos dos participantes saíram do programa para outros empregos. Karl Blaha, da sapataria, agora é gerente de instalações de uma empresa privada de logística e transporte. Gilbert, das lutas na floresta, é gerente de restaurante.

E há outras formas mais amplas pelas quais esses programas podem beneficiar a sociedade. É difícil ver o desemprego e o desespero como as únicas causas do extremismo político, mas os estudiosos perceberam uma conexão entre esses fatores em vários lugares e épocas. Antes de deixar Gramatneusiedl, visitei o museu histórico da cidade, um prédio tranquilo de um único ambiente, localizado próximo à estrada principal. Lá dentro, fotografias do início do século XX mostravam músicos com rabecas e acordeões, aldeões fazendo piquenique em um jardim com cartolas e taças de vinho, e fileiras de jovens em uniformes de luta livre, cruzando os braços musculosos. No início dos anos 1930, entretanto, o clima havia mudado. Homens descansavam em uma esquina, mãos nos bolsos, olhares cabisbaixos; trabalhadores levavam marretas à antiga fábrica, para destruir o local onde antes trabalhavam. Dentro de mais alguns anos, uma explosão de atividade novamente animou a cidade. O nazismo havia chegado. As fotos mostravam um desfile, faixas, multidões agitadas – e, pendurada no púlpito de um homem se dirigindo aos aldeões, uma suástica.

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