Photofagia: Modelar o barro, dar forma à vida

Interior do Chile: comunidades vêem em cerâmicas cooperativas (e formas ancestrais de colaboração) caminho para encarar “progresso” e especulação imobiliária

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Interior do Chile: comunidades vêem em cerâmicas cooperativas (e em formas ancestrais de colaboração) caminho para enfrentar especulação imobiliária e “progresso”?

Por Letícia Freire

O galo começou a cantoria antes do sol. Algumas palavras ainda vagarosas eram trocadas pelos cômodos enquanto o café, preparado pelas mãos de dona Martina, exalava sua fragrância característica. Era hora de despertar, de começar o dia.

Todos da casa, sem exceção, trabalhavam na olaria comunitária. A decisão de unir-se por meio de uma cooperativa veio das sérias dificuldades financeiras que os artesãos estavam enfrentando em decorrência da especulação fundiária em Quinta de Loreto, Chile.

Sem recursos para resistir à voracidade do sistema atual, que engole tradições e costumes originários sem pudor, muitos já haviam vendido suas olarias e casas, abandonado a atividade e se mudado para Valparaíso.

O êxodo, não espantosamente, levou grande parte dos jovens consigo. Em coletivo, contudo, eles conseguiam encontrar certo equilíbrio de forças entre mercados alternativos e mais conscientes.

O bom humor que dava o tom da jornada e amenizava a realidade de luta. Momentos de concentração intensa se mesclavam com piadas, nos intervalos publicitários da rádio local, que tocava músicas folclóricas populares.

A destreza das mãos, ferramenta central do trabalho, produzia peças utilitárias e decorativas. O barro, ao mesmo tempo matéria e fundamento, parecia reconhecer certo destino curvilíneo na prancha giratória. O tempo do trabalho, tão dominador das relações sociais da modernidade, ganhava outros contornos, outro sentido.

A valorização de suas tradições e modos de produção saíam do forno exalando o mesmo perfume do café da manhã.

 

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5 comentários para "Photofagia: Modelar o barro, dar forma à vida"

  1. Bibi disse:

    concordo. o pseudo-comentário é mais do que exagerado, é ignorante. Morro de preguiça dessa história de que boa fotografia é boa técnica. Conceito tão limitado quanto medíocre! O olhar é apurado, sensível, artístico.. e nada deve a técnica!
    Belíssimas as imagens. História comovente e bem escrita.
    Parabéns ‘garota’ Leticia!!
    🙂

  2. Juliana disse:

    Puts… “mal-enquadrado”?, “reciclar material”?
    Acho que o pseudo-comentário é exagerado.
    Letícia, gostei do texto e das imagens, principalmente do enquadramento, mostra bastante sensibilidade. Sigo suas fotografias por aí (e por aqui) e não vou te chamar de “garota”, nem ter dar conselhos recalcados sobre fotografia…Prefiro te agradecer por me contar mais uma história.

  3. Alan, olá, como vai?
    Gratidão pelas críticas, elas me mostram como melhorar, o que é sempre bom.
    Faço apenas algumas considerações para esclarecer certos pontos do seu comentário (e da minha fotografia).
    O texto enxuto foi a escolha que fiz para guiar o leitor na questão do cooperativismo – e indiretamente do comércio justo – sem afogá-lo nas tensões que envolvem as cadeias produtivas. Trata-se, assim, muito mais de uma legenda, do que de uma “moldura”.
    A “cidade”, longe da rota turística, é na verdade um povoado. A paisagem é árida e numa primeira caminhada pouco se vê. É preciso abolir a pressa para enxergar a beleza das “insignificâncias”, como diria o poeta.
    E por quê Quinta de Loreto? Cheguei ali por conta de um trabalho voluntário, em 2006.
    A grande diferença dessa comunidade em relação a outras no Chile, é o senso de cuidado, o zelo pelo coletivo.
    Aí falo do café feito com carinho, da rádio que anima a rotina na olaria, do bom humor das mulheres – que fazem sorrir mesmo quando nada parece ir lá muito bem.
    As famílias (cerca de 25) se uniram para produzir um volume suficiente que garanta a inserção das peças em nichos alternativos de mercado – e veja que estamos falando do esforço de inserção. Ainda é preciso vender as peças para que o ciclo se feche e a iniciativa dê “retorno”. É…por mais contraditório que pareça, manter o modo tradicional de vida pode ser tarefa difícil, ainda mais quando se está em uma região cobiçada por atravessadores fundiários.
    O enquadramento nos detalhes, como nas mãos, no vaso, nos olhos… são parte da narrativa exatamente por se tratar de viver para (e por) moldar o barro… não os sinto como “efeitos pseudo-poéticos”, mas sim como um ponto de vista fundamental para essa história.
    Sobre suas observações fotossensíveis, entendo seu incomodo, também compartilho essa opinião. Essas imagens (algumas das minhas primeiras) foram registradas com filmes colorido e p&b em uma Olympus OM-1. Quando digitalizei o material, perdi, infelizmente, em qualidade.
    A luz matinal, embora difícil de medir pela generosidade que chegava à retina, era (é) bela.
    Escolhi, ainda, não usar photoshop. Coisa importante, alias, mas que pouco faço, mesmo num mundo cada vez mais ávido por imagens oníricas.
    Um abraço.
    L.

  4. Alan Caruso disse:

    Que texto… até parecia que teria um tema humanista, mas não fala quase nada sobre as pessoas, a cooperativa e a cidade, como se fosse uma moldura pras fotos. E essas fotos deixam muito a desejar… tentam dar efeitos pseudo-poéticos, pegando algum detalhe desfocando o resto (ou deixando mal-enquadrado), ou estourando as luzes, que não convencem muito… essas coisas, quando dão algum significado pra foto podem ser muito interessantes, mas quando não agregam nada, parecem só que foram tiradas às pressas, e que o autor ficou horas no photoshop só pra reciclar o material pra conseguir publicar qquer coisa…
    Na narrativa, é muito cedo pela manhã, mas a luz invariavelmente estourada, sem controle técnico da fotógrafa. Tudo muito confuso.
    Mas vai lá, garota, você tem futuro!

  5. Ivone da Graça Nunes Homrich disse:

    Que lindo isso!

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