Outros Quinhentos sugere o curso Deleuze + Gattari – Micropolítica e Máquina Literária

Por que não nos revoltamos o tempo todo? O que o corpo pode – e o que pode para além […]

Por que não nos revoltamos o tempo todo? O que o corpo pode – e o que pode para além do organismo? Por que o fascismo é desejado? Perguntas como esta são parte do programa de Bruno Cava. Contribuintes de Outras Palavras concorrem a duas bolsas e têm desconto de 50%

Por Bruno Cava

Nada mais distante da obra de Deleuze e Guattari do que gritar viva ao molecular e fora o molar. Ou às agruras da práxis, responder: “a saída é micropolítica”. Ou à aridez desértica de uma situação, derramar-se liricamente em léxicos da salvação. A obra dos autores também não se presta a novos binarismos, onde rizomas, multiplicidades e Corpos Sem Órgãos estariam no polo positivo de uma dicotomia radical chic: a máquina de guerra contra o aparelho de estado, a linha de fuga contra o microfascismo, o desejo contra o seu recalque pelas máquinas edipianas. Seria um uso normativo, rombudo e ineficaz, para um ferramental materialista, se pensarmos que o inconsciente é matéria em fluxo. Um uso não-deleuziano de Deleuze e não-guattariano de Guattari, um uso edipiano da esquizoanálise. Conceitos não são momentos ilustrativos de uma nova panaceia para vestir a própria realidade existente, que se quer tingir de cores dadas. O conceito é uma cor inclassificável, tem um sabor próprio, está implicado num problema diferente (que o conceito explica), e é irredutível a binarismos do estado de coisas já dado. De extração na filosofia empirista cujo precursor foi o irlandês Berkeley (na dupla redução das ideias às coisas e das coisas às ideias), Deleuze e Guattari se inscrevem na tradição de uma filosofia que ou é prática, ou não é filosofia. Seus conceitos valem pelos usos e funcionamentos, como máquinas ante o que não importa perguntar o que significam ou o que são (o ser é o limite inferior do processo do devir), mas sim o que fazem, pra que servem e como funcionam.

Neste curso, pretendemos levar às últimas consequências a afirmação dos autores de “Mil Platôs” que somos formados por linhas. Concentrado nos platôs 8 e 9 desse livro, o nosso propósito é nos colocarmos entre a literatura e a política, para perscrutar o trabalho das linhas: a distinção real entre linhas rígidas, flexíveis e de fuga. Uma cartografia dinâmica de traçados entre o molecular, o molar e o Corpo sem Órgãos que forma uma Ética. As perguntas bem colocadas não são: por que resistimos?, o que não podemos?, e como evitamos o fascismo?, que seriam questões colocadas do ponto de vista do governo. As perguntas bem colocadas são: por que não nos revoltamos o tempo todo? o que o corpo pode — e o que pode para além do organismo? por que o fascismo é desejado? No platô 8, a partir de textos de Henry James, F. Scott Fitzgerald e Pierrette Fleutiaux, serão explorados as naturezas, os enrodilhamentos e as metamorfoses de três tipos de linhas: rígidas/molares, flexíveis/moleculares e de fuga/esquizofrênicas. Essa caixa de ferramentas será então trabalhada, com o platô 9, na discussão de uma POLÍTICA DAS LINHAS, entre as potências e os perigos (medo, clareza, paixão pelo poder e suicídio) das composições. Contra-efetuar um presente em que somos paralisados pelo excesso do que fazer, pelo bombardeio de códigos e pela saturação das semióticas. Durante o período clássico da luta de classe, se perguntava: “O que fazer?” e a resposta transitava nas múltiplas combinações do corpo político, entre classe, partido e vanguarda. No período moderno, a pergunta não pode mais ser o que fazer e como subjetivar um organismo político: mas como voltar a fazer o que quer que seja, como viver, como ver? Quando os corpos se desorganizam e os controlatos se confundem com as margens de liberdade, como formar um novo corpo à altura, um corpo sem órgãos? Qual o trabalho das linhas para se colocar à altura de um tempo sem saída?

CURSO LIVRE DE FILOSOFIA
“Somos feitos de linhas” — Deleuze & Guattari

PROGRAMA DE AULAS
Aula 1 – 18/3 – Introdução ao trabalho das linhas
Aula 2 – 25/3 – Henry James – “Na gaiola”
Aula 3 – 1º/4 – F. Scott Fitzgerald – “O colapso”
Aula 4 – 08/4 – Pierrette Fleutiaux – “História do abismo e da luneta”
Aula 5 – 15/4 – Micropolítica e microfascismo 1
Aula 6 – 22/4 – Micropolítica e microfascismo 2
Aula 7 – 29/4 – O que pode um CsO?

HORÁRIO: 19:00 – 20:45, segundas-feiras.

CERTIFICADO: Será emitido pela organização para quem completar 50% + 1 da frequência nas aulas

CUSTO: R$ 150,00 o curso inteiro (7 aulas). Aulas avulsas: R$ 30,00 em função da disponibilidade. Desconto para assinantes do Outras Palavras de 50%.

INSCRIÇÕES:


BIBLIOGRAFIA
Gilles Deleuze, Felix Guattari, “Mil Platôs” (1980, ed. brasileira 1997) – platôs 12 e 13.
Gilles Deleuze. “Spinoza. Filosofia prática” (1970, ed. brasileira 2002).
Gilles Deleuze. “Crítica e clínica” (1992, ed. brasileira 1997).
Tomaz Tadeu (org). “Quatro novelas e um conto: as ficções do Platô 8 de Mil Platôs, de Deleuze e Guattari” (2016).
Étienne de La Boétie. “Discurso Sobre a Servidão Voluntária” (1549).
Baruch de Spinoza. “Tractatus Politicus” (1677).
Baruch de Spinoza. “Ética demonstrada à maneira dos geômetras” (1677).
Maurice Blanchot. “O livro por vir” (1959, edição brasileira 2003).
Maurizio Lazzarato (org.). “Experimental Politics: Work, Welfare, and Creativity in the Neoliberal Age (Technologies of Lived Abstraction)” (2017).
Giuseppe Cocco, Bruno Cava. “O trabalho das linhas”, na Revista Multitudes n.º 70 (2018).
Alexandre Mendes. “Vertigens de Junho” (2018).

PÚBLICO-ALVONão há pré-requisito para o curso, bastando o interesse nos autores citados e temáticas abordadas.

ORGANIZAÇÃO: La Matrioshka, Ateliê do Bixiga e Bruno Cava

O LOCAL: Ateliê do Bixiga



Espaço colaborativo e autogestionado de economia criativa e do escritório de diversos coletivos de comunicação e produção cultura, localizado no Bixiga.

Além da vida cotidiana da casa, realizamos várias atividades especiais abertas ao público, como sessões de filmes, lançamentos de livro, debates sobre política e cultura, oficinas.


O PROFESSOR

Bruno Cava – professor de cursos livres e blogueiro, lecionou em vários cursos livres entre 2014 e 2018 na Casa de Rui Barbosa, Museu da República e Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro, e em programa de extensão da UFRJ, é mestre em filosofia do direito pela UERJ, graduado em direito e engenharia (UERJ e ITA), autor de “A multidão foi ao deserto” (AnnaBlume, 2013), entre outros livros, e tradutor de “Marx além de Marx”, obra clássica do marxismo de Toni Negri, também é coeditor da Revista Lugar Comum, e publicou artigos em diversos sites, periódicos e revistas, como Chimère, Multitudes, OpenDemocracy The Guardian, Le Monde Diplomatique Brasil, Alfabeta2 (Itália), Al Jazeera (Emirados Árabes), South Atlantic Quarterly (EUA), Direito e Práxis.

Contribuintes do Outros Quinhentos podem concorrer a duas bolsas do curso, basta preencher o formulário abaixo até as 17h de quinta-feira 11/03  Lembrando: para concorrer às bolsas tem que ser um@ colaborador@ de Outros Quinhentos.

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