A rara poesia de Bertolt Brecht para os povos e espaços urbanos

Livro editado pela Fundação Rosa Luxemburgo, reúne poemas publicados em 1930 e nunca antes traduzidos para o português



Por Simone Paz | Imagem do filme Pina, de Wim Wenders

Em 2017, a Fundação Rosa Luxemburgo, parceira de Outras Palavras, publicou uma pequena jóia: um livro que reúne poemas escritos por Bertolt Brecht entre 1926 e 1927, até então inéditos em português (e no Brasil).

Do Guia para os Habitantes das Cidades foi publicado em 1930, no segundo caderno dos Ensaios (Versuche) de Brecht, com um ciclo de dez poemas que o autor escreveu às vésperas da grande crise de 1929.

Nesta edição brasileira, os poemas, que já haviam aparecido em alguns jornais e revistas da época antes de 1930, ganharam a companhia de outros escritos posteriormente, nunca publicados por Brecht, mas claramente indicados nos manuscritos do autor como pertencentes ao Guia para os Habitantes das Cidades.

Além da poesia, o livro, de formato pequenino e encantador, inclui também 4 ensaios, de 4 intelectuais brasileiros, em torno do debate sobre a “falência do monstrengo político nacional, na chave de sua configuração urbana”, nas próprias palavras do tradutor e organizador, Tércio Redondo.

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A seguir, leia na íntegra um dos raros e belos poemas do livro, que selecionamos com carinho para nossos leitores:

“Foi fácil fisgá-lo.

Teria sido possível na segunda noite.

Esperei até a terceira (e sabia

Que corria algum risco)

Então ele me disse rindo: rio por causa do sal de banho

E não de seu cabelo!

Mas foi fácil fisgá-lo.

Por um mês mantive a rotina de sair logo depois de fazer amor.

A cada três dias eu me ausentava,

Nunca lhe escrevi.

Experimente guardar a neve numa panela!

Ficará suja por si mesma.

Quando a coisa acabou

Eu havia feito mais do que podia.

Eu expulsara as vadias

Que dormiam com ele, como se isso fizesse parte do trato.

Fazia-o rindo e também chorando.

Abria o registro do gás

Cinco minutos antes de ele chegar, tomava

Dinheiro emprestado em seu nome.

Debalde!

Certa noite, porém, dormi

E certa manhã levantei-me

Lavei-me da cabeça aos pés

Comi e disse para mim mesma:

Acabou-se.

Eis a verdade:

Dormi outras duas noites com ele,

Mas por Deus e pela minha mãe:
Aquilo já não significava nada.

Como tudo passa, também

Isso passou.”


Sobre a Fundação Rosa Luxemburgo: é uma instituição de formação política que procura contribuir para a construção de uma sociedade mais democrática e igualitária, promovendo pesquisa, reflexão e debate sobre alternativas ao capitalismo.

Fundada em 1990, em Berlim, a Fundação é uma instituição sem fins lucrativos vinculada ao partido A Esquerda (Die Linke, em alemão). Desde 2000, suas iniciativas de cooperação internacional e solidariedade contam com apoio do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento e do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

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