“Sertão, Sertões” — um regalo enriquecedor, para ouvir Canudos, com Outros Quinhentos

Um novo fascinante livro da Editora Elefante, repleto de ensaios, fotografias e documentos sobre Canudos, em sorteio (e com desconto) para quem financia Outras Palavras



Por Simone Paz | Foto de Canudos, por Flávio de Barros

Em julho deste ano, a Editora Elefante, parceira de Outras Palavras, lançou mais uma de suas belas edições, objeto de desejo de muitos amantes dos livros: Sertão, sertões: repensando contradições, reconstruindo veredas.

A editora vem se destacando pelos seus ousados e charmosos projetos gráficos: são livros-objeto, com fotografias, texturas, propostas de cores inovadoras nos textos e outras surpresas. Em Sertão, Sertões, o livro fica do avesso ao chegar ao coração dele. Assim, de um lado, temos as fotos e documentos históricos, do outro, virando o livro de ponta-cabeça, temos os ensaios.

O que os motivou a lançar este texto? Entenda no trecho a seguir, que pertence ao posfácio, por Gabriel Ferreira Zacarias:

Canudos — sua gente, sua terra, suas lutas, seus dissensos instauradores — continua em disputa. Se Canudos e os conselheiristas foram feitos inimigos da República brasileira, do progresso e do desenvolvimento, seus sobreviventes — sobreviventes, não vítimas — espalharam-se como sementes de resistência. Por isso, voltamos a Canudos e às suas lutas. Não para reconstruir o tempo de Antonio Conselheiro como monumento imóvel e petrificado. Trata-se de reconhecer, lá e aqui, o esforço de reavivar “as centelhas da esperança” acesas pela tradição de rebeldia dos pobres, dos trabalhadores, dos oprimidos, que, ao escavar a própria história, vão construindo um modo de ser e de existir que permita romper com as dominações. […]

Este livro se pretende parte do diálogo e da disputa. É uma aposta: somente a tradição dos oprimidos, repensando contradições e reconstruindo veredas, será capaz de despertar as centelhas da esperança por uma vida vivida como construção compartilhada da utopia. Canudos resiste, lá e aqui.


Estamos sorteando dois exemplares entre os colaboradores de Outros Quinhentos — nosso financiamento coletivo por um jornalismo independente e autosustentável.

Basta ser assinante e preencher este formulário até sexta-feira, 30 de agosto de 2019.


Para quem ganhar e quem não ganhar também, haverá um cupom de desconto de 25%, que enviaremos por e-mail, junto com os resultados do sorteio, para comprar este e outros títulos direto no site da Editora Elefante.

Sertão, Sertões tem organização de Joana Barros, arquiteta, urbanista e socióloga, professora da Unifesp; Gustavo Prieto, geógrafo, doutor em Geografia Humana e professor adjunto de economia política da urbanização na Unifesp; e Caio Marinho, engenheiro ambiental e mestrando em teoria e história da arquitetura e do urbanismo na USP.

Leia, a seguir, um dos textos presentes na primeira parte do livro, por Antônio Candido:

Parte 1
NO CHÃO D’OS SERTÕES E SUAS VEREDAS


Às vezes penso de que maneira pode ser lido hoje, cem anos depois, o clássico final da primeira Parte d’Os sertões, de Euclides da Cunha:

“O martírio do homem, ali, é o reflexo de tortura maior, mais ampla, abrangendo a economia geral da Vida.
Nasce do martírio secular da Terra.”


Em nossos dias o martírio da terra não é apenas a seca do Nordeste. É a devastação predatória de todo o país e é a subordinação da posse do solo à sede imoderada de lucro. Se aquela agride a integridade da Natureza, fonte de vida, esta impede que o trabalhador rural tenha condições de manter com dignidade a sua família e de produzir de maneira compensadora para o mercado. Hoje, o martírio do homem rural é a espoliação que o sufoca.

Como consequência, tanto o martírio da terra (ecológico e econômico), quanto o martírio do homem (econômico e social) só podem ser remidos por meio de uma redefinição das relações do homem com a terra, objetivo real do MST. Por isso, ele é iniciativa de redenção humana e promessa de uma era nova, na qual o homem do campo possa desempenhar com plenitude e eficiência o grande papel que lhe cabe na vida social e econômica, porque as lides da lavoura são componente essencial de toda economia saudável em nosso país. Por se ter empenhado nessa grande luta com desprendimento, bravura e êxito, o MST merece todo o apoio e a gratidão de todos. Nele palpita o coração do Brasil.

— Antônio Cândido, em carta escrita em abril de 2001

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