Expedição na Terra Yanomami

Vinte anos depois de homologada demarcação de terras, organizações percorrerão seus limites a leste — onde há floresta densa, invasão de garimpeiros e pouca assistência à saúde

No site do Instituto Socioambiental

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Vinte anos depois de homologada demarcação de terras, organizações percorrerão seus limites a leste — onde há floresta densa, invasão de garimpeiros e pouca assistência à saúde

No site do  Instituto Socioambiental

No ano em que se comemoram os 20 anos da homologação da Terra Indígena (TI) Yanomami, uma expedição integrada por Funai (Fundação Nacional do Índio), HAY (Hutukara Associação Yanomami), Exército e ISA vai percorrer cerca de 280 quilômetros no leste da TI, em Roraima. A iniciativa é apoiada pela Fundação Rainforest da Noruega.

A viagem começou no último sábado e vai até 18/11 e pretende colher dados para um diagnóstico da área entre os rios Ajarani e Apiau, onde há invasões não indígenas (clique no mapa abaixo para ampliar). Picadas devem ser abertas para marcar os limites da TI.

 

Ao final da expedição, haverá uma reunião das comunidades locais para conhecer seus resultados e discutir ações de monitoramento e fiscalização. Os dados recolhidos vão subsidiar a elaboração de um plano de vigilância para a região.

As áreas ao redor da TI Yanomami vêm sendo ocupadas por fazendeiros, grileiros e assentamentos do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em especial na fronteira leste, na região do município de Caracaraí, 140 km ao sul de Boa Vista (clique no mapa abaixo para ampliar).

Não há fiscalização das ocupações e a região tem poucas aldeias indígenas. A Funai também não tem conseguido vigiar os limites da TI, que é a maior do País, com mais de 9,6 milhões de hectares (saiba mais).

Marcada pela presença da Floresta Tropical Densa, a região do Ajarani foi onde começou de forma mais sistemática o contato do povo Yanomami com os não índios. O acesso é facilitado pela existência da rodovia Perimetral Norte (BR-174).

As consequências do contato, como a disseminação de doenças e conflitos com garimpeiros, são sentidas pelas comunidades até hoje (leia quadro abaixo).

A região faz fronteira com uma série de áreas controladas por diferentes instituições: Floresta Nacional de Roraima e Estações Ecológicas de Niquia e Caracaraí (ICMBio-Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), uma área do Exército, assentamentos do Incra e terras que o Estado de Roraima vem titulando como assentamentos.

Por essas razões, também foram convidadas a participar da expedição o ICMBio, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.

Relatos de campo

Durante a expedição, o site do ISA vai publicar relatos de campo de dois de seus integrantes: Moreno Saraiva Martins e Júlio Yekuana.

Júlio tem 32 anos, mora na TI Yanomami, na região de Auaris, comunidade de Fuduuwaduinha. Atualmente é coordenador de Gestão Territorial da HAY e responsável pela expedição. É aluno do curso de Gestão Territorial Indígena na Universidade Federal de Roraima.

Moreno tem 31 anos, é antropólogo e trabalha na TI Yanomami desde 2010 pelo ISA. É responsável pelo Projeto de Gestão Territorial Yanomami.

A região do Rio Ajarani

A região do Ajarani foi a porta de entrada para os contatos dos Yanomami com os não indígenas. Os primeiros contatos datam do final do século XIX, mas sua intensificação ocorreu no início da década de 1970, com a implantação, pelo governo militar, da rodovia Perimetral Norte, que ligaria o Amapá ao extremo noroeste amazônico.

No então Território de Roraima, a construção da estrada começou pelo município de Caracaraí. Depois de menos de 50 quilômetros, a estrada entrou no território Yanomami. Os índios Yawaribe, até então sem contato sistemático, foram expostos a centenas de não indígenas e máquinas pesadas.

A partir de então uma série de graves problemas assolou os indígenas. Sem imunidade para as enfermidades, centenas foram vítimas de verminoses ou morreram de gripe e malária.

O contato e a consequente depopulação causaram uma profunda desestruturação das comunidades, que persiste até hoje. A rotina das atividades produtivas foi seriamente impactada, gerando dependência de uma série de produtos da cidade, incluindo alimentação, pois o trabalho nas roças ficou prejudicado e a construção da estrada causou impactos ambientais, como a diminuição da caça.

Para suprir essas demandas, primeiramente as mulheres indígenas foram empurradas para a prostituição. Em seguida, após o estabelecimento de fazendas no território Yanomami, incentivado pela abertura da estrada, os homens Yanomami foram trabalhar como diaristas nessas fazendas em péssimas condições.

Mesmo depois da homologação da Terra Indígena Yanomami, em 1992, ainda continuam na região do Ajarani cinco fazendas de pecuária, dentro dos limites da TI. Até hoje a população Yawaribe convive com a prostituição de mulheres e exploração indevida de trabalho indígena nas fazendas.

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