Esclarecido: não houve massacre yanomâmi

Organizações indígenas na Venezuela e Brasil celebram não-confirmação de chacina em agosto — mas alertam para invasão de seu território por garimpeiros e precariedade do atendimento à Saúde

No Instituto Socioambiental (ISA)

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Organizações indígenas na Venezuela e Brasil celebram não-confirmação de chacina em agosto — mas alertam para invasão de seu território por garimpeiros e precariedade do atendimento à Saúde

No site do Instituto Socioambiental (ISA)

A Organização Yanomami Horonami lançou em 25/9, em Puerto Ayacucho, Venezuela, nota afirmando que, “embora não se possa determinar até o momento indícios de um massacre, o que para nós é motivo de alegria, queremos que a opinião pública saiba que existe uma presença abundante de garimpeiros ilegais instalados há anos na região do Alto Ocamo, provenientes do Brasil”. A Horonami representa os Yanomami na Venezuela.

No dia 28/8, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiam), que congrega 13 entidades indígenas da Amazônia Venezuelana, divulgou um documento dando conta de um suposto massacre de Yanomami por garimpeiros brasileiros na comunidade Irotatheri, nas cabeceiras do Rio Ocamo, no lado venezuelano da fronteira com o Brasil (saiba mais).

De acordo com o documento, garimpeiros cercaram a casa coletiva e dispararam contra a comunidade. Posteriormente, teriam ateado fogo à edificação.

No dia 31/8, com o apoio do ISA, a Hutukara Organização Yanomami, que congrega os Yanomami no Brasil, lançou uma petição pública solicitando ao governo venezuelano a apuração dos fatos em conjunto com o governo brasileiro (veja aqui).

Em poucos dias, as autoridades venezuelanas enviaram uma comissão até o local do suposto massacre, o que é reconhecido pela Horonami em sua nota pública.

Apesar disso, o texto considera fundamental que a comissão divulgue os resultados da investigação realizada e que seja implantado um plano, em conjunto com o governo brasileiro, de retirada dos garimpeiros da região (veja a íntegra do documento | English version).

O documento repudia as informações que vem sendo veiculadas nos meios de comunicação dando a entender que na região “não está passando nada, que tudo está tranquilo e que a gente está feliz”. Ao contrário, afirma o texto, “nós, os Yanomami de Horonami que fizemos parte da comissão, vimos os acampamentos dos garimpeiros, vimos passar um avião pequeno, vimos uma pista clandestina, vimos alguns garimpeiros fugindo da comissão que caminhava pela selva”.

Por se tratar de uma região onde os Yanomami não recebem nenhum tipo de assistência de saúde, a nota relata que “foram encontradas comunidades com graves problemas de saúde que necessitam assistência sanitária urgente”.

Caos sanitário

O documento da Horonami converge com as informações apuradas pela Hutukara nas comunidades yanomami do lado brasileiro próximas à região do Alto Ocamo.

“Os Yanomami do Brasil estão aliviados em saber que não houve massacre dos nossos parentes de Irothatheri, mas ao mesmo tempo estamos preocupados porque sabemos que na região são muitos garimpeiros trabalhando ilegalmente e o governo venezuelano não falou nada sobre retirá-los de lá”, afirma o diretor da Hutukara, Dário Kopenawa. “Além de destruírem a floresta, os garimpeiros transmitem muitas doenças para os Yanomami”, informa.

São frequentes as notícias de presença garimpeira e de caos sanitário na região do Alto Ocamo, na Venezuela. Uma delas chegou à Hutukara, em Boa Vista (RR), em março de 2011, via radiofonia, informando que uma grave epidemia teria causado a morte de pelo menos 22 pessoas na comunidade de Hokomawe, no Brasil.

Sendo informado pela Hutukara, o DSY (Distrito Sanitário Yanomami), responsável pela assistência de saúde aos Yanomami do Brasil, enviou uma equipe ao local e constatou que, de fato, 20 pessoas morreram. Na comunidade, formada por 240 pessoas, foram constatados 25% de casos de malária e vários casos de desnutrição, doenças respiratórias e gastrointestinais, entre outras.

A equipe também constatou que a maioria dos Yanomami não tinha qualquer marca de vacina, o que indicava que se tratava de uma comunidade desassistida. Nessa ocasião, a equipe médica recebeu a visita de oito garimpeiros doentes, que estariam na região há mais de cinco anos

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