O Vermelho inclina-se ao Verde?

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Programa de Dilma pode incluir sinal concreto de que candidata está disposta a rever projeto desenvolvimentista

(Sobre o mesmo assunto, em Outras Palavras, O Vermelho e o Verde)

Surpreendida pela enorme votação de Marina Silva, a campanha de Dilma Roussef emitiu, a partir de quarta-feira, alguns sinais de que pretende lidar com o fenômeno de maneira inteligente. Significa abandonar qualquer tentativa de “culpar” a candidata verde pelo segundo turno e abrir diálogo com a parcela da opinião pública que questiona as lógicas de desenvolvimento capitalistas. Embora a candidata do PV não tenha recebido votos apenas deste segmento, sua existência é o fato social relevante que deu corpo à ascensão de Marina.

A primeira iniciativa que campanha Dilma prepara é um relançamento do programa de governo da candidata, a ser feito nos próximos dias. O novo compromisso terá, segundo matéria dos repórteres Ana Flor, Valdo Cruz e Maria Falcão (Folha), o título “13 compromissos de Dilma com o Brasil”,  incluirá menções à preservação do ambiente. Ainda ontem (7/10), texto de Ilmar Franco, no Blog do Noblat tentou precisar quais seriam os compromissos assumidos. Apontou  uma reforma tributária “verde” — destinada a incentivar investimentos em tecnologias e processos limpos; ações para criação de “empregos verdes”. Um terceiro ponto, mais urgente e talvez de mais impacto, seria coordenar a atuação da bancada governista no Congresso em relação ao tema polêmico da reforma do Código Florestal.

Neste processo originaram-se algumas das rusgas mais fortes entre ambientalistas e o governo, no último período. Embora os partidos que apoiam Lula tenham se dividido, chamou atenção a postura do relator da matéria, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Em nome do crescimento econômico, ele encampou diversas reivindicações da bancada ruralista — tendentes, em especial, a afrouxar as normas e a fiscalização que restringem o desmatamento. Um posicionamento claro de Dilma, anunciando que, como presidente, lutará contra estes retrocessos será certamente apreciado pelos eleitores de Dilma. E colocará em xeque Serra, cuja base de apoio inclui quase toda a bancada ruralista.

Do ponto de vista teórico, a contribuição mais importante para um novo posicionamento de Dilma veio na forma de um artigo de Hamilton Pereira e Juarez Guimarães, publicado quarta-feira (6/10), na Carta Maiore reproduzido pouco depois no próprio portal do PT. Claro, sincero e corajoso, o texto defende basicamente três pontos de vista:

a) Falta uma base no alicerce para um novo padrão de desenvolvimento criado por Lula. O presidente abriu um novo ciclo político marcado pela ampliação da democracia, crecimento econômico com distribuição de renda e postura altiva no cenário internacional. Porém, este novo padrão ainda não está suficientemente aberto para debater  uma nova relação entre ser humano e natureza — algo que se tornou indispensável, no século 21.

b) Deve-se frisar que houve avanços reais, em torno da questão ambiental, no governo Lula. O desmatamento na Amazônia caiu consistentemente. A Lei de Florestas Públicas criou alternativas econômicas reais para manter a natureza em pé; a participação do Brasil em fóruns como o de Copenhague destacou-se por propor compromissos avançados de enfrentamento à ameaça de catástrofe climática. O problema é que, além de insuficientes, estes passos chocaram-se com a manutenção de uma matriz de desenvolvimento que inclui, por exemplo, avanço do agronegócio destrutivo e aumento incessante da circulação de automóveis nas cidades, ao ponto de colocá-las à beira da paralisia.

c) Algum tipo de entendimento e aliança entre o que está por trás das candidaturas Dilma e Marina é indispensável. É por meio dele que será possível manter a democratização política, social e econômica dos últimos anos e, também, incluir na agenda brasileira, com força, a questão ambiental. Do outro lado da disputa no segundo turno está um candidato ligado tanto à lógica mercantil (que vê na natureza apenas um recurso a explorar) quanto ao latifúndio, e seus cinco séculos de mentalidade colonizada e devastadora.

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Um comentario para "O Vermelho inclina-se ao Verde?"

  1. Falácia!
    Desespero de quem não quer abrir mão do poder.
    As articulações do PT incluem parte da bancada ruralista.
    Farinha do mesmo saco.
    Votem nulo!

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