Velho Chico — só que não…

Por estranho motivo, Globo decidiu não filmar novela à beira do Rio S.Francisco — que tem geografia típica, história singular e cidades de riquísisma arquitetura

Por Raquel Rolnilk, em seu blog

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Por algum estranho motivo, TV Globo decidiu não filmar novela à beira do Rio São Francisco — que tem geografia típica, história singular e cidades de riquísisma arquitetura

Por Raquel Rolnilk, em seu blog | Imagem: Maria Hsu, A cidade de Piranhas e o rio São Francisco

Há duas semanas estreou “Velho Chico”, a nova novela do horário nobre da TV Globo. Comparando com as últimas tramas, o cenário mudou: para quem não aguentava mais histórias passadas no Leblon, no Itaim ou nas favelas cariocas, finalmente temos um enredo que se desenrola em outro espaço (e outro tempo), a região do Rio São Francisco, no Sertão nordestino, como indica o próprio título da trama. Ali temos o mundo rural das plantações de algodão e de cidades históricas.

Quando começo a assistir à novela, porém, uma surpresa! Em “Velho Chico” nada se passa de fato na região do São Francisco. Nem mesmo o rio que aparece na história é o São Francisco! Pelo que pude perceber, as gravações estão sendo realizadas no Recôncavo Baiano e o rio que aparece é o Paraguaçu. Inclusive as embarcações – belíssimos saveiros – que vi em várias cenas são típicas da região do Recôncavo. Não por falta de uma tradição própria –também belíssima – de embarcações do Velho Chico, como as gaiolas e as canoas de tolda.

Outro exemplo é a edificação onde está ambientada a casa do coronel Jacinto (personagem de Tarcísio Meira), que fica em São Francisco do Conde, também no Recôncavo. Isso me fez pensar na imensa riqueza arquitetônica de cidades à beira do São Francisco, como Penedo e Piranhas, ambas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan.

A área protegida de Penedo, tombada em 1996, não apenas conserva até hoje marcas do período colonial, com importantes igrejas e conventos de arquitetura barroca, mas também casarões do final do século XIX, de arquitetura neoclássica e art nouveau, por exemplo, que marcam um período de fartura econômica na cidade. Em Piranhas, tombada em 2004, estão preservados casarios, igrejas, a estação ferroviária, a torre do relógio, o cemitério, entre outras edificações.

Claro que se trata de uma obra de ficção – a cidade de Grotas do São Francisco, onde a trama se passa, inclusive, é fictícia – e, por isso mesmo, a produção não tinha nenhuma obrigação de ser fiel à realidade… o cenário poderia até mesmo ter sido totalmente montado em estúdio cenográfico. Mas diante da opção da produção de ambientar a trama fora dos estúdios e fazer as gravações in loco, com uma proposta realista, é estranho que tenham escolhido uma região diferente da que está sendo representada na novela e que, na verdade, pouco tem a ver com ela. Principalmente quando existem, na região real, paisagens e cenários magníficos.

Para além da dramaturgia, as novelas de época e de “lugar” contam uma história e uma geografia desconhecidas para muitos. Sem dúvida, em um país tão vasto e diverso quanto o nosso, mostrar a região do São Francisco teria sido uma ótima oportunidade para que as pessoas conhecessem um pouco mais sobre a arquitetura, a paisagem e a cultura de cidades muito significativas para nossa história.

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