Os novos sinais da crise financeira

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Nova queda das bolsas européias e asiáticas revela que persiste o temor de quebradeiras em dominó. Há quem fale em “colapso do sistema de crédito”

As bolsas de valores de boa parte do mundo voltaram a cair hoje. As perdas chegaram a mais de 4% em Xangai, 1,4% em Tóquio, em torno de 1% na Europa. O declínio reflete algo muito mais grave. Novos fatos estão confirmando que as instituições financeiras continuarão a sofrer perdas enormes, com a inadimplência de seus devedores; que, em conseqüência, elas tornarão o crédito mais difícil e mais caro, o que gerará mais quebradeiras, e assim por diante. Se esta espiral coincidir com uma recessão severa, particularmente nos Estados Unidos, estará formado um círculo vicioso gravíssimo, possivelmente inédito desde 1929. Com a economia parada, as perdas financeiras não poderão ser compensadas com novos negócios — o que gerará falências, desemprego e desorganização produtiva.

Eis alguns dos sinais de inadimplência galopante:

> Nas 6 primeiras semanas de 2008, os calotes de empresas norte-americana de primeira linha, do ponto de vista do crédito, ficaram entre 4 e 5bilhões de dólares. O que assusta não é o número, mas o fato de a inadimplência, neste curto período, superar a de todo o ano passado.

> Espera-se que os calotes de empresas menos quotadas (as que emitem os chamados junk-bonds) sejam dez vezes maiores que em 2008.

> Também tem havido perdas nos empréstimos feitos no interior do sistema financeiro, a investidores e fundos de hedge. Ontem, o banco Credit Suisse anunciou perdas de US$ 2,85 bilhões neste segmento. O total das perdas é estimado em US$ 146 bi.

> O encarecimento do crédito já é uma realidade. As empresas norte-americanas estão pagando mais, por empréstimos, do que no início do ano — apesar de, nesse período, a taxa básica de juros, fixada pelo Banco Central (o FED) ter recuado 1,25 pontos percentuais.

O medo do colapso chegou aos grandes diários financeiros. Martin Wolf um dos mais celebrados articulistas do Financial Times, repercutiu ontem (veja nosso clip) as previsões do economista turco-norte-americano Nouriel Roubini, um dos que mais tem se debruçado sobre a crise — e um dos mais pessimistas. Roubini publicou recentemente dois artigos sobre a crise. No primeiro, fala sobre os “12 passos para um desastre financeiro” (elenca, entre outros, a maior crise imobiliária da história dos EUA; calotes em créditos não cobertos por seguros, como os de cartões e financiamento de carros; quebra de seguradoras monoline, especializadas em apenas um tipo de cobertura de riscos; falência de algum grande banco; onda de moratórias de empresas; quebras no chamado “sistema financeiro das sombras” (shadow financial system), responsável por movimentações gigantescas e não coberto por ações dos Bancos Centrais; queda muito forte nas bolsas; e uma espiral de “queima de ativos”, na qual pessoas e empresas endividadas vendem o que têm a qualquer preço, para safar-se de dívidas, provocando afundamento dos preços.

No segundo artigo, Roubini aposta que os Estados Unidos, centro do sistema financeiro internacional, e o FED, não estão preparados para enfrentar a crise — entre outros motivos, porque: a) quase não há mais espaço para reduzir os juros no país (sem provocar uma fuga maciça de investidores); b) o Estado tem poucos meios para intervir no mercado imobiliário, foco das perdas principais; c) o sistema financeiro das sombras tornou-se muito grande e é quase inteiramente opaco.

Mais:

> Ler também, sobre as repercussões da crise no Brasil, a postagem seguinte

> Le Monde Diplomatique acompanha a atual crise financeira há meses. Leia, por exemplo:

No fundo, a desigualdade, de Flávio Dieguez (fevereiro de 2008).

Até onde irá a crise financeira, de François Chesnais (novermbro de 2007)

O mundo refém das finanças, de Frederic Lordon (setembro de 2007).

Leia Também:

3 comentários para "Os novos sinais da crise financeira"

  1. werner henrique tonjes disse:

    Bretton Woods exauriu-se .É óbvio que o povo global está nas mãos de poucas familias das altas finanças cujos empreendimentos transnacionais são entrelaçados tanto nos complexos militares, como financeiros e industriais.

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