Os adoradores do mercado e os mortos no Rio

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O que a próxima reunião do Copom tem a ver com a tragédia fluminense

Por Altamiro Borges, no Blog do Miro

As cenas na televisão são chocantes, entristecedoras, revoltantes. Corpos sendo carregados em cobertores, em pedaços de pau. Pessoas chorando os seus familiares mortos. Casas destruídas, ruas tomadas pelas águas barrentas, alojamentos precários lotados por famílias de desabrigados. A população do Rio de Janeiro, em especial da sua região serrana, está em luto.

Menos de um ano após a tragédia que matou mais de 160 pessoas em Niterói e outras 250 no Estado, em abril passado, e um ano depois das mais de 50 mortes em Angra dos Reis, o estado é novamente vítima do descaso das autoridades. Até o final desta noite (12), Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis e outros municípios da região serrana já contabilizavam 257 mortos.

As vítimas do capitalismo

Nas entrevistas para as emissoras de televisão, somente pessoas simples, trabalhadoras, relatam suas perdas. Os moradores das áreas carentes, como do bairro do Caleme, em Teresópolis, perderam tudo. Onde existiam casas, construídas com muito esforço, agora só há barro e escombros. Alguns ainda resistem em deixar suas casas nas áreas de risco, temendo perder seus poucos bens.

Construídas nas encostas dos morros, estas moradias precárias são a expressão da miséria reinante no país. Com míseros salários, em empregos precários ou na informalidade, estes trabalhadores são forçados a morar em áreas inseguras. Não dá para culpá-los pela tragédia. Eles são as vítimas de um sistema injusto, em que poucos vivem com muito e muitos vegetam com quase nada.

Os causadores das tragédias

Enquanto isso, banqueiros, rentistas e integrantes do governo federal discutem freneticamente a próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que ocorre nesta semana. A pressão dos adoradores do deus-mercado é para que a taxa de juros seja elevada. A desculpa, a mesma de sempre, é que a inflação já dá sinais de descontrole.

Na mídia venal, os agentes do mercado financeiro, disfarçados de colunistas, também querem sangue. Afirmam que o aumento dos juros é um “mal necessário” e ainda cobram maiores cortes nos gastos públicos – uma redução de R$ 40 a R$ 60 bilhões no orçamento. Para estes habitantes das áreas nobres, das mansões de luxo, pouco importa as conseqüências sociais destas medidas.

A responsabilidade do Copom

Os ricaços sabem que o aumento dos juros e o corte dos investimentos públicos inibem o crescimento da economia. Como efeito, estas medidas ortodoxas castram os programas sociais, reduzem o consumo, afetam a produção, geram desemprego e arrocham os salários. Para eles, pouco importa. Eles querem mais grana, mais renda, tragada da criminosa especulação financeira.

A tragédia no Rio de Janeiro e a reunião do Copom se relacionam. Dependendo da opção do Banco Central, na primeira reunião no governo Dilma Rousseff, o efeito inevitável será a redução de investimentos no combate às enchentes e desmoronamentos, o aumento das residências precárias em áreas de risco e novas cenas de mortes e desespero entre as populações mais carentes.

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