As mudanças no modelo chinês

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Diante da crise, país parece adotar posição ousada, substituindo dependência das exportações por aposta no consumo interno. Brasil já não tem indústria capaz de permitir mesma opção

Por Luís Nassif, em seu blog

A China decidiu radicalizar a mudança do seu modelo econômico e dividir o bolo, isto é, focar mais no mercado interno como motor do desenvolvimento. Significa, de um lado, reduzir as expectativas de crescimento, baixando para 7,5% este ano – abaixo do número mágico de 8,5%.

É interessante comparar o modelo chinês com o Brasil Grande dos anos 70.

Em ambos os casos, eram governos autárquicos, com plenas condições de monitorar a economia, definir vencedores e impor as regras do jogo.

O Brasil dos anos 70 definiu o mercado externo como a grande mola do crescimento. Por outro lado, abandonou o mercado interno, contentando-se apenas com a nova classe média operária que surgia no bojo da nova industrialização. Foi quando surgiu a teoria do “bolo” – de crescer primeiro para dividir depois.

Quando sobreveio a crise internacional, a única âncora na qual a economia brasileira se apoiou foi na construção civil e no amplo endividamento público: não havia mercado interno capaz de cobrir a crise do modelo anterior.

Já a China há anos vem arrostando os limites de crescimento. Tem problemas enormes com o meio ambiente, com o abastecimento de água, com as disparidades regionais, com a tensão interna.

O lado interessante do modelo chinês é a extrema competência do Partido Comunista, de extravasar as tensões internas de duas formas.

Uma, permitindo a alternância de linhas econômicas, tal e qual numa democracia ocidental – a um governo “neoliberal” sempre sucede um governo “populista”.

A segunda maneira é a de permitir canais de crítica a decisões do governo, desde que não se coloque como alvo o próprio Partido.

Na verdade, as etapas do desenvolvimento chinês – desde Mao – têm obedecido a uma racionalidade enorme, em que pese as loucuras da Revolução Cultural. Mao massificou os serviços sociais, especialmente educação e saúde, fornecendo apenas o básico, mas para uma população enorme.

Em cima dessa base inicial, os sucessores investiram em ensino técnico, superior e aprenderam os princípios capitalistas através de um processo gradativo de criar regiões especiais, em que se experimentassem as regras de mercado.

De início, atraíram as grandes multinacionais, devido ao câmbio super-desvalorizado e mão-de-obra de baixo custo. Mas o alvo de médio prazo sempre foi o mercado interno chinês.

À medida em que a foi sendo criada uma classe média quase ocidentalizada, a maneira de mantê-la sob controle foram as expectativas de melhoria de emprego e de salário.

Agora, o PC deu-se conta de que não bastaria o crescimento acelerado para o atendimento das demandas dessa enorme população. E passou a investir em serviços públicos e a descomprimir gradativamente as pesadas condições de trabalho em muitas regiões – que têm sido objeto de denúncias internacionais variadas.

Vai-se ter uma população com a renda crescendo, os hábitos de consumo modernizando-se.

A diferença do Brasil atual é que ambas as economias se basearão no seu mercado interno: mas apenas uma (a China) têm um parque industrial capaz de se beneficiar desse boom.

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