Memória: como Hitler inaugurou o 3º Reich, há 79 anos

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Juntos, socialistas e comunistas tinham mais votos e presença no Parlamento que os nazistas. Mas atos de terror de Estado, e promessa de encerrar crise econômica, consolidaram governo que começou minoritário e débil

Por Max Altman, no Opera Mundi

Na gelada manhã de 30 de janeiro de 1933 chegaria ao fim a tragédia da República de Weimar, a tragédia de 14 frustrados anos nos quais os alemães buscaram, sem sucesso, pôr em funcionamento uma democracia.

Aproximadamente às 10h30, os membros do ministério proposto em negociações entre nazistas e reacionários da velha escola, somados às forças conservadoras, de centro e de setores sociais-democratas, atravessam o jardim do palácio e se apresentam no gabinete presidencial.

O presidente da República, o velho marechal Paul von Hindenburg, de 86 anos, confia a chancelaria a Adolf Hitler, führer do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP), mais conhecido como Partido Nazista, e o encarrega de formar o novo governo.

A nomeação surpreendente de Hitler seguiu-se às tratativas entre os dirigentes conservadores, em especial o ex-chanceler Franz von Papen, e os simpatizantes nazistas, representados pelo doutor Hjalmar Schacht, um reputado economista responsável pelo reordenamento espetacular da economia alemã após a crise inflacionária de 1923, o “ano desumano”.

Os conservadores e o empresariado queriam se servir de Hitler para deter a ameaça comunista. Não acreditavam que os nazistas representassem um perigo real para a democracia alemã. No entanto, eles sabiam bem quem era Hitler e sua ideologia, desde a publicação do Mein Kampf, a “Bíblia nazista”, oito anos antes.

O Partido Nazi estava perdendo velocidade eleitoral. No pleito de 31 de julho de 1932 havia conquistado 230 cadeiras no Reichstag de um total de 608 – 37,3 % dos votos populares. Já nas eleições legislativas de novembro do mesmo ano, obtiveram 33,1% dos sufrágios, perdendo 2 milhões de votos e 34 lugares no Parlamento. Os comunistas ganharam 750 mil votos e os social-democratas perderam a mesma quantidade. Com esse resultado, os comunistas passaram de 89 para 100 cadeiras e os socialistas caíram de 133 para 121 deputados. Os dois somados superavam largamente as 196 cadeiras nazistas. A perda de dois milhões de votos nazistas sobre um total de 17 milhões, em apenas quatro meses, significava um duro revés. O governo formado por Hitler foi aberto amplamente aos representantes da direita clássica. Não contava com mais do que três nazistas, Hitler, entre eles, e Von Papen, como vice-chanceler.

Por falta da maioria absoluta no Reichstag, Hitler parecia longe de poder governar a seu talante. Ninguém leva a sério os discursos racistas. Muitos alemães pensam, contudo, que ele poderia recuperar o país atormentado pela crise econômica.

Com uma rapidez fulminante e por meios totalmente ilegais, vai consolidar a ditadura a despeito da fraca representação de seu partido no governo e no Reichstag.

No dia seguinte a sua investidura na chancelaria, Hitler dissolve o Reichstag e prepara novas eleições para 5 de março de 1933. Ao mesmo tempo, traça aquilo que seu chefe de propaganda, Josef Goebbels, chama de “as grandes linhas da luta armada contra o terror vermelho”.

As tropas de assalto de seu partido, as SA (Sturmabteilung), aterrorizam a oposição como forma de campanha eleitoral. Cometem pelo menos 51 assassinatos.

Um dos principais ajudantes de Hitler, Hermann Goering, ocupando o cargo chave de Ministro do Interior da Prússia, manipula a polícia, demitindo funcionários hostis e colocando os nazistas nos postos essenciais.

Hitler faz rondar o “espectro da revolução bolchevique”, mas como esta tarda a eclodir, decide inventá-la. Em 24 de fevereiro, uma batida na sede do Partido Comunista permite a Goering anunciar a apreensão de documentos prenunciando a revolução. Esses documentos jamais foram publicados.

Como toda essa agitação não parecia bastar para acumular a maioria dos sufrágios aos nazistas, decidem pôr fogo no Reichstag.

As classes conservadoras julgavam ter encontrado o homem que as ajudaria a alcançar suas metas : erguer uma Alemanha autoritária que pusesse termo à “insensatez democrática”, esmagasse os comunistas e o poder dos sindicatos, arrancasse as algemas de Versalhes, reconstruísse um grande exército e reconquistasse para o país o seu lugar ao sol.

O Império dos Hohenzollern fora edificado sobre as vitórias militares da Prússia ; a República alemã sobre a derrota diante dos Aliados depois de uma grande guerra. O Terceiro Reich, porém, nada devia aos azares da guerra. Foi instaurado em tempos de paz, e pacificamente, pelos próprios alemães.

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5 comentários para "Memória: como Hitler inaugurou o 3º Reich, há 79 anos"

  1. erton disse:

    O comentarista acima define bem Hitler: bufão ridiculo.
    Enfatizo um ponto crucial: a 2ªGM foi a 2ª Contra Revolução, já que a primeira em 1919-1921 foi derrotada pelo comandante do Exercito Vermelho, Leon Davidovich Bronstein ou Leon Trotsky. A aliança dos paises fascistas,- alemanha, italia e japão – reafirma esse fato. Como era o nome dessa aliança? Pacto Anti-Comintern, ou seja, Pacto Anti COMunismo INTERNacional ! Financiada pelos grandes capitalistas mundiais, que abandonaram seu heroi com a derrota na Batalha de Moscou: dias depois entram na guerra (Pearl Harbour) contra seu antigo aliado para “salvar” a Europa Ocidental do comunismo…

  2. egle e siquera disse:

    O nazismo resultou de várias causas, c predominância p o fator econômico.No cenário da 2 guerra, temos o imperialismo econômico,a politica de alianças,o militarismo, o armamentismo, a crise de 29,os choques ideológicos,o nacionalismo exacerbado etc.
    A guerra foi resultante da tentativa das nações vencedoras do conflito 1914/ 18 de deter a qualquer preço mesmo, o avanço do socialismo. Tendo como resultado disso, a politica expansionista da Alemanha, Itália, e Japão.
    Fechar os olhos, cruzar os braços, foram as medidas das potências ocidentais. Um exemplo disso, foi o da Guerra civil espanhola.
    Hitler n esbarrou em nenhuma resistência internacional, a n ser da IOS- Internacional Socialista.
    O bufão ridiculo, contava c a simpatia dos gdes capitalistas, q o financiaram: cruzada antibolchevista.
    O exército soviético liberou a Europa Central, e a região dos Balcãs, expulsando os nazistas da Polonia, Iuguslávia, Albania, etc. Suas tropas chegaram ate o interior da Austria, e Alemanha.
    Eqto a União Soviética esta entre os países c maior n de perdas de vidas humanas, Os EUA foram os gdes beneficiados, pois cresceram industrialmente, multiplicaram o comércio, e acumularam gde parte do ouro mundial.
    Além da experiência gratuita c o ser humano: Hiroshima, e Nagasaki.
    P concluir, Stalin n contribuiu por muito tempo p o sucesso do nazismo. Mas foi realmente um desastre p o socialismo.
    Abrs.
    Egle.
    obs-1939-45. Morreram seis milhões de judeus.O total chega a 50 milhões de vidas humanas perdidas no conflito. Entre elas de anarquistas, comunistas, e socialistas.

  3. Robles disse:

    NINGUEM FALA DO APORTE ECONOMICO DA SHEELL OIL COMP.PARA A CAMPAGNA ELECTORAL DE HITLER .PORQUE? ´

  4. Robson da Silva disse:

    Não esqueçamos tb que o crime do PC alemão, seguidor cego do stalinismo, tb contribuiu para o sucesso do nazismo. Trotsky defendia uma Frente Única Operária do PS e do PC alemão para deter o nazi-fascimo, ainda que esses partidos já tivessem políticas que traiam os anseios dos trabalhadores alemães. Mas os stalinistas do PC ficavam chamando o PS de “social-fascistas”, sectarizando-os, visando adquirir o controle do movimento operário alemão. Na prática os stalinistas se associaram com os nazistas para derrotar os social-democratas, condenando so trabalhadores alemães e do Mundo à catástrofe do nazi-fascismo. Não fizeram lá o que que o grupo trotskista de Mário Pedrosa fez aqui no Brasil, onde puxando a frente anti-fascista com scialistas, anarkistas e até a regional do PCB de SP, conseguiram derrotar os integralistas.

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