Para a lista das incertezas

Estados Unidos divulgam mais um estudo sobre desempenho das vacinas contra a Delta. Que cuidados devemos ter ao interpretar essas pesquisas?

Imagem: Cassidy Brandt
.

Esta nota faz parte da nossa newsletter do dia 25 de agosto. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Estudos sobre o desempenho de vacinas contra a Delta têm se multiplicado nas últimas semanas, e ontem o CDC (Centro de Controle e Doenças dos Estados Unidos) divulgou mais um. Os pesquisadores acompanharam cerca de quatro mil profissionais de saúde, socorristas e outros trabalhadores essenciais em seis estados, testando-os semanalmente de dezembro de 2020 a agosto de 2021. E viram sinais de declínio na proteção: ela era de 91% até abril, antes da emergência da Delta, e foi para 66% depois que a variante apareceu no país. Os resultados foram ajustados para fatores como circulação do vírus, frequência de contato social e uso de máscaras, que impactam a efetividade das vacinas.

Quando olhamos para essas novas pesquisas, é preciso atentar para o que exatamente elas estão considerando como uma infecção, como observa Müge Çevik, virologista da Universidade de St Andrews. Os ensaios clínicos usados para testar as vacinas foram desenhados para medir a eficácia contra doença sintomática, e é a isso que se referem aqueles valores de eficácia que tínhamos no começo das campanhas vacinais. Já os estudos de vida real, com milhões de pessoas vacinadas, permitem avaliar como os imunizantes estão se saindo em determinadas populações, em determinados lugares, e também trazem informações valiosas sobre a proteção contra hospitalizações e mortes.

No trabalho divulgado pelo CDC, os números encontrados se referem tanto a infecções sintomáticas como assintomáticas. Claro, isso também era verdade no começo do estudo, quando se observou que os vacinados tinham 91% menos chance de ter um teste positivo. No entanto, após a emergência da Delta (quando a queda foi observada), 95% das infecções detectadas nos não-vacinados foram sintomáticas, enquanto, no grupo vacinado, foram 75%. Para o período anterior à Delta, essas proporções não são informadas. Além disso, os autores afirmam que os resultados devem ser interpretados com cautela, porque o período do estudo que envolveu o predomínio da Delta foi curto e porque o número geral de infecções foi pequeno. Essas observações não significam que a pesquisa não seja importante, mas que seus resultados não são definitivos.

Os autores também ressaltam que os dados não deixam claro se a possível queda na proteção foi causada pela Delta ou pelo tempo decorrido desde o início da vacinação. E, também em relação a isso, faz diferença levar em conta se estão sendo avaliadas infecções com e sem sintomas, aponta Cevik: “A proteção contra doenças sintomáticas é mais fácil de se obter do que contra infecções, porque, enquanto os anticorpos neutralizantes diminuem ao longo do tempo, a imunidade protetora fornecida pelas células T e B de memória é preservada e deve ser de longa duração”.

De acordo com ela, as evidências até agora mostram que o desempenho das vacinas da Pfizer/BioNTech, Moderna e AstraZeneca continua alto contra hospitalizações e infecções sintomáticas causadas pela Delta, ainda que, para doença sintomática, haja de fato um declínio em comparação com a variante Alfa.

Esta nota faz parte da nossa newsletter do dia 25 de agosto. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Leia Também: