São Paulo dos laboratórios de garagem

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No Garoa Hacker Club,  jovens talentosos que desenvolvem projetos tecnológicos avançados e abertos, copiando e recombinando tecnologias

Por Sérgio Amadeu, no SpressoSP

Ontem, estava na Casa de Cultura Digital, no tradicional bairro da Barra Funda, no centro de São Paulo. Passei pela sala central e ouvi um barulho característico de uma velha impressora matricial. Vinha do porão. Claro, pensei, é o pessoal do Garoa Hacker Club. Desci e encontrei o Juca trabalhando uma impressora 3D. Ele estava produzindo chaveiros na impressora.

O Garoa Hacker Club é “um laboratório comunitário, aberto e colaborativo, que propicia a troca de conhecimento e experiências através de uma infraestrutura para que entusiastas de tecnologia realizem projetos em diversas áreas, como segurança, hardware, eletrônica, robótica, espaçomodelismo, software, biologia, música, artes plásticas, ou o que mais a criatividade permitir.” Veja o site do hackerspace.

No Garoa, que funciona agora em dois porões da Casa de Cultura Digital, podemos encontrar jovens talentosos que desenvolvem projetos tecnológicos abertos. O Juca é um cara genial que não terminou engenharia. A Poli não conseguia acompanhar sua escala de dúvidas e seu espírito inventor. Assim, Juca e outros tantos resolveram criar um laboratório de garagem para trocar conhecimento e aprender fazendo, copiando e recombinando tecnologias.

O Garoa pode ser chamado de hackerspace, um espaço para hackers criarem e recriarem tecnologias, compartilharem soluções e aprenderem um com os outros. Apesar do estigma que a Imprensa criou, a palavra hacker diz respeito a um amante dos desafios tecnológicos que compartilha com sua comunidade os resultados de suas pesquisas. Cracker são pessoas que invadem computadores e roubam senhas, muitas delas não sabem programar, não são hackers. O que caracteriza um hacker é a paixão e o prazer pelo conhecimento. Um hackerspace é um laboratório que reune pessoas que são apaixonadas pela tecnologia, pela ciência e pelos desafios de programar e criar coisas interessantes.

A foto ao lado é de uma nova impressora 3D que está sendo construída por alguns integrantes do Garoa Hacker Club. O Juca me contou que quando esteve em Viena visitando um dos hackerspaces da cidade, descobriu que o prédio era da Prefeitura e ocupava quase um quarteirão. Imagine se a Prefeitura de São Paulo tivesse um programa de incentivo a tecnologia de garagem e a ciência de bairro.

Quantos jovens talentosos descobriríamos em nossa cidade? Quantos inventos inundariam nossa periferia? Por isso, queremos um poder público que se comporte de outro modo em relação a inovação e a cultura digital. São Paulo tem recursos e inteligência coletiva para ser uma das cidades mais inventoras do planeta. Para isso, precisamos permitir que a criatividade flua e desmistificar o desenvolvimento da tecnologia. São Paulo merece muitos hackerspaces, os laboratórios de garagem.

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Sérgio Amadeu é professor e pesquisador de redes digitais. Foi um dos idealizadores do projeto telecentros de São Paulo. Coordenou sua implantação em 2001, que começou pela cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo
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