O ponto sem retorno de Veja

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Com a tentativa de invasão do quarto de José Dirceu, revista dá seu passo mais atrevido rumo ao abismo do antijornalismo e da chantagem murdochianos 

Por Luis Nassif, em seu blog

Veja chegou a um ponto sem retorno. Em plena efervescência do caso Murdoch, com o fim da blindagem para práticas criminosas por parte da grande mídia no mundo todo, com toda opinião esclarecida discutindo os limites para a ação dá mídia, ela dá seu passo mais atrevido, com a tentativa de invasão do apartamento de José Dirceu e o uso de imagens dos vídeos do hotel, protegidas pelo sigilo legal.

Até agora, nenhum outro veículo da mídia repercutiu nenhuma das notícias: a da tentativa de invasão do apartamento de Dirceu, por ficar caracterizado o uso de táticas criminosas murdochianas no Brasil; e a matéria em si, um cozidão mal-ajambrado, uma sequência de ilações sem jornalismo no meio.

Veja hoje é uma ameaça direta ao jornalismo da Folha, Estadão, Globo, aos membros da Associação Nacional dos Jornais, a todo o segmento da velha mídia, por ter atropelado todos os limites. Sua ação lançou a mancha da criminalização para toda a mídia.

Quando Sidney Basile me procurou em 2008, com uma proposta de paz – que recusei – lá pelas tantas indaguei dele o que explicaria a maluquice da revista. Basile disse que as pessoas que assumiam a direção da revista de repente vestiam uma máscara de Veja que não tiravam nem para dormir.

Recusei o acordo proposto. Em parte porque não me era assegurado o direito de resposta dos ataques que sofri; em parte porque – mostrei para ele – como explicaria aos leitores e amigos do Blog a redução das críticas ao esgoto que jorrava da revista. Basile respondeu quase em desespero: “Mas você não está percebendo que estamos querendo mudar”. Disse-lhe que não duvidava de suas boas intenções, mas da capacidade da revista de sair do lamaçal em que se meteu.

Não mudou. Esses processos de deterioração editorial dificilmente são reversíveis. Parece que todo o organismo desaprende regras básicas de jornalismo. Às vezes me pergunto se o atilado Roberto Civita, dos tempos da Realidade ou dos primeiros tempos de Veja, foi acometido de algum processo mental que lhe turvou a capacidade de discernimento.

Tempos atrás participei de um seminário promovido por uma fundação alemã. Na mesa, comigo, o grande Paulo Totti, que foi chefe de reportagem da Veja, meu chefe quando era repórter da revista. Em sua apresentação, Totti disse que nos anos 70 a revista podia ser objeto de muitas críticas, dos enfoques das matérias aos textos. “Mas nunca fomos acusados de mentir”.

Definitivamente não sei o que se passa na cabeça de Roberto Civita e do Conselho Editorial da revista. Semana após semana ela se desmoraliza junto aos segmentos de opinião pública que contam, mesmo aqueles que estão do mesmo lado político da publicação. Pode contentar um tipo de leitor classe média pouco informado, que se move pelo efeito manada, não os que efetivamente contam. Mas com o tempo tende a envergonhar os próprios aliados.

Confesso que poucas vezes na história da mídia houve um processo tão clamoroso de marcha da insensatez, como o que acometeu a revista.

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3 comentários para "O ponto sem retorno de Veja"

  1. Dirceu, um cidadão comum!!!???
    Pois é, parece que é, um cidadão comum que não tem fonte de renda muito bem estabelecida, mas que anda de jatinhos executivos no Brasil e no exterior e que recebe ministros de estados e presidentes de estatais em sua suite de hotel.
    Um cidadão comum.., como eu…

  2. Caro Paulo, no caso do Dirceu sendo um cidadão comum e não mais um funcionário público, tem o direito de se encontrar com bem entender, ao contrário do reporter da Veja que além de infligir sua privacidade não tem direito algum de tentar entrar inlegalmente em seu quarto e muito menos colocar cameras escondidas dentro de lugares privados. FHC e outros cidadãos do genero (ex-políticos) também se encontram com figuras de diversos tipos e matérias com esse tom não são feita a seu respeito, entendeu o ponto sem nó agora?

  3. OK, Veja mente (ou como diria Lula: “nós mentimos, mas quem não mente?”), mas me comente apenas uma coisa.
    As fotos mostrando ministros de Estado, presidente da Petrobras, politicos de alto coturno, que mostram visitas ao reduto de JD no Hotel Naoum também mentem?
    O que você tem a dizer sobre isso?
    Reencontro de amigos?
    Paulo Roberto de Almeida

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