Para compreender a onda global de suicídios

No mundo, eles são mais numerosos que os homicídios. Entre os 14 e 29 anos, tornaram-se o segundo fator de mortes. Entre as causas, depressão e abuso de álcool — mas também fim de relacionamentos e problemas financeiros

Na ONU Brasil

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No mundo, eles são mais numerosos que os homicídios. Entre os 14 e 29 anos, tornaram-se o segundo fator de mortes. Entre as causas, depressão e abuso de álcool — mas também fim de relacionamentos e problemas financeiros

No site da ONU Brasil

No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10 de setembro), a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OMS) alertaram para este grave problema de saúde pública responsável por uma morte a cada 40 segundos no mundo.

Em comunicado, a OPAS/OMS reconheceu o suicídio e as tentativas de suicídio como uma prioridade na agenda global de saúde e incentivou os países a desenvolver e reforçar estratégias de prevenção, quebrando estigmas e tabus existentes sobre o assunto.

Segundo dados de 2012 da agência da ONU, mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo [em 2013, houve 437 mil homicídios, dos quais 57 mil no Brasil], sendo a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. Setenta e cinco por cento dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda.

“Para cada suicídio, há muito mais pessoas que tentam a cada ano. A tentativa prévia é o fator de risco mais importante para o suicídio na população em geral”, disse a organização.

A ingestão de pesticida, enforcamento e armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio em nível global.

“Trata-se de um grave problema de saúde pública; no entanto, os suicídios podem ser evitados em tempo oportuno, com base em evidências e com intervenções de baixo custo”, disse a OPAS/OMS.

“Embora a relação entre distúrbios suicidas e mentais (em particular, depressão e abuso de álcool) esteja bem estabelecida em países de alta renda, vários suicídios ocorrem de forma impulsiva em momento de crise, com um colapso na capacidade de lidar com os estresses da vida – tais como problemas financeiros, términos de relacionamento ou dores crônicas e doenças”, afirmou a agência.

Além disso, enfrentamento de conflitos, desastres, violência, abusos ou perdas e um senso de isolamento estão fortemente associados com o comportamento suicida.

As taxas de suicídio também são elevadas em grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como refugiados e migrantes; indígenas; lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI); e pessoas privadas de liberdade. De longe, o fator de risco mais relevante para o suicídio é a tentativa anterior, disse a organização.

Segundo a OPAS/OMS, os suicídios podem ser evitados com uma série de medidas que podem ser tomadas junto à população, subpopulação e em níveis individuais.

Entre as medidas está a redução de acesso aos meios utilizados; a introdução de políticas para reduzir o uso nocivo do álcool; identificação precoce, tratamento e cuidados de pessoas com transtornos mentais ou por uso de substâncias, dores crônicas e estresse emocional agudo; entre outras.

“O suicídio é uma questão complexa e, por isso, os esforços de prevenção necessitam de coordenação e colaboração entre os múltiplos setores da sociedade, incluindo saúde, educação, trabalho, agricultura, negócios, justiça, lei, defesa, política e mídia”, disse a organização.

O estigma, particularmente em torno de transtornos mentais e suicídio, faz com que muitas pessoas que estão pensando em tirar suas próprias vidas ou que já tentaram suicídio não procurem ajuda e, por isso, não recebam o auxílio que necessitam, disse a OPAS/OMS.

“A prevenção não tem sido tratada de forma adequada devido à falta de consciência do suicídio como um grave problema de saúde pública. Em diversas sociedades, o tema é um tabu e, por isso, não é discutido abertamente”, salientou.

Até o momento, apenas alguns países incluíram a prevenção ao suicídio entre suas prioridades de saúde e só 28 países relatam possuir uma estratégia nacional para isso. Sensibilizar a comunidade e quebrar o tabu são ações importantes aos países para alcançar progressos na prevenção do suicídio, disse a organização.

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7 comentários para "Para compreender a onda global de suicídios"

  1. Laércio Castro disse:

    Edgar Rocha, melhor do que ouvir quem conta sobre o problema é ouvir quem vive o problema e sabe transmitir a situação, numa leitura tão límpida, como você o fez. Muito obrigado por compartilhar conosco a sua experiência e visão. Grande abraço.

  2. Edgar Rocha disse:

    Boa pergunta, colega. Quando o comunismo for implantado em algum país do mundo, será possível respondê-la. Até o momento, não tivemos mais do que regimes autoritários, tão imperialistas quanto o capitalismo por mim criticado e, talvez, menos sutil em seus mecanismos de opressão. No mais, compartilham alguns dos problemas elencados em meu comentário acima. Usar este padrão comparativo para negar a virulência do sistema em que vivemos e o aprofundamento do enorme mal estar coletivo gerado pelo mesmo, é o mesmo que deixar de matar pulgas só porque existem carrapatos. Afinal de contas, elas não seriam culpadas por toda a coceira do mundo.
    Meus respeitos.

  3. josé mário ferraz disse:

    As causas mencionadas para o suicídio são causadas pelo atual modo de vida incompatível com a inteligência existente no ser humano. Aqueles cuja mentalidade está acima da mediocridade de encontrar fama e celebridade nos “famosos” e nas “celebridades” admiradas pelos jovens alienados e conduzidos como bois pela mídia capitalista sentem-se tão deslocados como deslocado haveria de se sentir um desses jovens alienados se tivesse de viver num curral em meio a bois.

  4. Magdiel Menezes disse:

    Seria o comunismo uma sociedade livre de psicopatologias?

  5. José. disse:

    Parabéns pelas suas considerações. Assino embaixo.

  6. Carlos Pereira disse:

    Muito bem escrito Edgar Rocha. Parabéns! Apesar de me encontrar do outro lado do Atlantico, devo dizer-lhe que na Europa os casos de suicidio aumentaram a partir do Crash Económico de 2008, e não mais pararam de aumentar. Seja como for, aquilo que escreve é um bom ponto de partida para quem sofre, e há que alimentar a esperança de que o novo paradigma traga também uma nova humanidade. Òbviamente, não estamos nada certos disso.

  7. Edgar Rocha disse:

    Como leigo, me parece evidente que o suicídio estaria ligado principalmente a quadros depressivos e a rigidez de regras sociais que impedem de considerar a vida como valor absoluto da integridade humana, em benefício da submissão ao statu quo.
    Quanto a depressão – claro, nem tudo que reluz como informação na internet é ouro – há indicadores que apontam para um quadro com raízes fisiológicas e, por isso, mais fácil de se tratar, do que um distúrbio psicológico. Li sobre uma pesquisa que atenta para o fato de que a depressão se consolida e se submete posteriormente, a quadros inflamatórios. Não cabe aqui explicar o processo, mas como portador de depressão que sou, convivo com isto desde os 9 anos e atesto por experiência pessoal que faz algum sentido.
    As questões que nos afligem no dia-a-dia e que são tanto de natureza privada quanto sociológica são potencializadas pelo mal estar causado pela ansiedade, pelo descontrole psicomotor e pela fraqueza física constantes. Caso a referida pesquisa esteja certa, seria para nós, depressivos, um tijolo a mais na reconstrução de nossas vidas. Mas, sinceramente, o que importa aqui, observando o quadro epidêmico do suicídio, são mais os fatores externos que, se levados ao desespero e impotência profundas, prescindem de qualquer processo inflamatório para fazer um ser humano considerar sua própria morte como solução.
    Indígenas no interior do Brasil tratados como párias descartáveis; milhões de refugiados sem pátria pelo mundo; legiões de frustrados por não se sentirem inclusos num sistema capitalista cruel e desumano que privilegia aos “imunes” a qualquer crise de consciência (psicopatia epidêmica); a certeza de que nunca a maioria da população mundial se sentiria adequada ou devidamente realizada estando inserida num estado policialesco, violento, ultra-competitivo, excludente, massificador, “meritocrático” e, por conseguinte desleal; o massacre depreciativo sobre as relações de afeto; a consolidação deste mesmo afeto, traduzida pelo alfabeto moderno em sentimento de posse e controle sobre a “pessoa-alvo”; a instabilidade social manifestada em inúmeras frentes (econômica, cultural, geográfica, natural…); a descrença nas instituições religiosas, substitutas ilegítimas da percepção coletiva transcendental e depreciadora do espírito comunitário, etc., etc., etc…
    Todo este contingente tem sido levado às raias da loucura. São uma imensa população que, como lêmingues, se jogam por precipícios em efeito manada, cientes daquilo que lhes levou a vontade de viver, porém incapazes de distinguir por onde começar a mudança, uma vez que são agredidos em inúmeras frentes distintas. Esperar que o indivíduo encontre solução para suas ansiedades – sinceras e irrefutáveis – seria de uma crueldade e um cinismo sem tamanho. Seria preciso uma decisão coletiva que vá muito além da busca de paliativos capazes adiar o suicídio sem com isto superar a sensação de morte que compele à sua consumação.
    Mais do que um problema de saúde pública, o suicídio deveria ser encarado como um indicador social da necessidade de uma reviravolta na estrutura em que vivemos. A grande onda suicida é um aviso profético. O mais que a sociedade deveria fazer é honrar o sacrifício dos que insistem em nos alertar sobre nosso futuro. Impedir este “libelo capital” não impedirá nossa consciência de entender o quanto estamos errados. Nós, que desfrutamos do sistema, que continuamos vivos, é que talvez estejamos doentes.

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