Kassab, o segregador insaciável

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Ameaça de proibir distribuição de sopa é face caricata de um governo incapaz de enfrentar problemas complexos e obcecado em proibir e segregar

Por Raquel Rolnik, em seu blog

(Título original: “Onde vai parar a política higienista de Kassab?”)

No final do mês passado, circulou na imprensa a informação de que a Prefeitura de São Paulo quer proibir organizações assistenciais de distribuir sopão para moradores de rua. O secretário municipal de Segurança Urbana, Edson Ortega, chegou a afirmar que as instituições que descumprissem a determinação seriam punidas. Hoje são 48 as instituições que oferecem este serviço na capital paulista.

Depois de uma forte repercussão nas redes sociais, a Prefeitura divulgou uma nota dizendo que “não cogita proibir a distribuição de alimentos por ONGs na região central da cidade”. O comunicado diz ainda que “o que existe é a proposta de que as entidades ocupem espaços públicos destinados para o atendimento às pessoas em situação de rua, como as tendas instaladas pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. A Prefeitura entende que a união das ações das ONGs com as dos agentes sociais tem potencial para tornar ainda mais eficazes as políticas de reinserção social”.

É possível que, neste caso, tenha havido um mal entendido causado pela declaração do secretário Edson Ortega, que já tratou de desdizer o que havia afirmado anteriormente. Ainda assim, 300 pessoas protestaram no dia 6 de julho em frente à Prefeitura, na região central da cidade, contra a tentativa de proibição da distribuição do sopão. Batizado na redes sociais de “Sopão da gente diferenciada”, em referência ao “Churrascão da gente diferenciada” de Higienópolis, o protesto chamou atenção também para as políticas higienistas do prefeito Gilberto Kassab.

Há vários exemplos recentes desta política: a ação policial para retirar usuários de crack da região da Luz, em janeiro deste ano, e, mais recentemente, a tentativa da Prefeitura de cassar a licença de trabalho de ambulantes, assunto que também já comentei aqui no blog.

Aliás, no final do mês passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu manter a permissão de trabalho de ambulantes em diversas regiões da cidade. Em maio, quando a prefeitura cassou mais de 4 mil permissões, a Defensoria entrou com uma ação na Justiça em favor dos ambulantes. Depois de várias liminares favorecendo um e outro lado, a Justiça finalmente tomou uma decisão a favor dos trabalhadores. A Prefeitura determinou, então, sete locais para o trabalho dos ambulantes, o que desagradou novamente os trabalhadores, que não consideram adequadas as novas localizações.

O que está em jogo neste conjunto de ações por parte da Prefeitura é uma visão securitária e higienista do espaço urbano, assim como sua enorme dificuldade de tratar temas que são complexos – como o vício do crack ou a situação do morador de rua – reduzindo-os simplesmente à presença ou não destas pessoas em determinados espaços públicos.

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7 comentários para "Kassab, o segregador insaciável"

  1. Ivan Clides da Costa disse:

    Exije esforço e muita Humanidade! Não é assim Luiz?

  2. desculpe, minha resposta foi para o Orlei…usei o link errado… eu concordo com o que voce disse e sou a favor das ONGS e contra esse parasita chamado Kassab………..

  3. Verdade, bem informado Luiz Augusto. E o berço de ouro em que nasci foi graças ao trabalho do meu pai como ajudante de caminhão (hoje não existe mais a profissão. Hoje existem os chapas). Para ir à escola eu andava a pé 2,5 kms diariamente. E para gastar parte do ouro do meu berço trabalhei com os índios guarani no MS, com o culina no AM, com os ribeirinhos do rio Paraná, com os trabalhadores do cacau no sul da Bahia. Tinha ouro de mais no meu berço, por isso resolvi dividir um pouco com os sem-ouro. E você fez o que mesmo da sua vida.

  4. Nasceste em berço de ouro, não foi ? Com certeza nunca passaste fome…..

  5. Quando o governante (ELEITO) é ruim existe a cumplicidade da maioria que votou nele…se nosso sistema decidiu que a maioria manda na minoria, então, "às favas com todos os escrupulos Sr.Presidente…" já dizia um velho Coronel… se a sociedade quer mudar a Constituição, então que comecem a votar na mudança…mas a sociedade não quer mudar… a mudança exige esforço…

  6. Que bobagem, senhor Orlei Kantor Junior. Não só existe ONG que constrói hospital, como existe várias ONGs que constroem hospitais e/ou lhes dão sustentação e apoio. Mas como o senhor não conhece o País em que vive (ou conhece, mas faz de conta que não, apenas para ser contra qualquer ação social), se dá ao luxo de sair a destilar preconceitos e outras tolices do gênero.
    Saia de seu mundinho, saia de seu FASCIO, e talvez (quem sabe? Tudo é possível) o senhor venha a ter uma “grata surpresa”.

  7. Parabéns ao Prefeito Kassab. Calçada não é lugar de morar é lugar de locomoção. Ele deveria mandar o Imposto de Renda (Receita Federal) nestas ONGs que distribuem comida, teria uma grata surpresa! Porque não existe uma ONG que faz um hospital, interna e trata estes "Doentes de Rua"? Aí sim seria um trabalho sério, porém, ninguém iria faturar…

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