O repique da crise e a falsa saída

Agora, há sinais de desaquecimento também na China. Mas o fundamental é o debate sobre as alternativas

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Ao destacar, hoje, a forte redução do superávit comercial brasileiro no primeiro semestre, O Globo valoriza a opinião de economistas que vêem, como causa, um suposto “superaquecimento” da economia. O Brasil estaria crescendo demais; isso provocaria aumento das importações e submeteria o país a riscos como os enfrentados pela Grécia, Espanha e outros países europeus. A alternativa seria frear as medidas que promovem aumento de consumo — a elevação do salário-mínimo acima da inflação, por exemplo…

Conselhos como este estão fazendo sucesso. Em quase toda a Europa, estão em curso planos de “austeridade” que atingem em primeiro lugar o Estado (corte de postos de trabalho, congelamento ou redução de aposentadorias) mas têm efeito evidente seobre a sociedade e a economia. Porém, qual o resultado?

Há dias, o norte-americano Paul Krugman, Nobel de Economia, sugeriu que o suposto remédio é, na verdade, veneno. A partir deste ano, adverte ele, houve uma perigosíssima reversão das políticas adotadas em 2008 e 2009 contra a crise econômica global. No primeiro momento, os Estados jogaram para o alto os dogmas neoliberais e intervieram pesadamente nas economias — salvando bancos mas, também, injetando recursos em setores abalados ou ativando programas sociais que reaqueceram o consumo.

Mas esta onda de sensatez está sendo vencida. Os Estados acumularam déficits elevados, como era óbvio. Mas ao invés de buscarem saídas criativas para resolvê-los (tributos sobre quem pode pagar, por exemplo), estão recorrendo ao velho vício de “cortar despesas”. Como estas políticas estão se espalhando, Roubini receia que ” estejamos nos primeiros estágios de uma terceira depressão. (…) O custo – para a economia mundial e, acima de tudo, para os milhões de vidas arruinadas pela falta de empregos – será ainda assim, imenso”.

A manchete do Valor de hoje revela os primeiros sintomas de que até mesmo as economias mais dinâmicas — as que afastam, por enquanto, o risco de uma depressão global — estão sendo afetadas. A atividade produtiva está esfriando na China, Índia e Brasil.

Há um componente ideológico claro no debate. O pior da crise bancária passou. Ampliar os gastos dos Estados significa agora, de modo geral, distribuir riqueza. Mas a “austeridade” sugerida pelos economistas e mídia conservadores equivale às atitudes pessoais em que quase não é possível distinguir egoísmo de estupidez…

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