Imprensa e toga: a tentação do golpe

Não deve ser motivo de surpresa que os membros dos dois campos (midiático e jurídico) se vejam empenhados em mudar as regras formais do jogo político, inaugurando uma série de eventos dramáticos com o objetivo último de deslegitimar o governo eleito pelo povo.

Por Gilson Caroni Filho*, na Carta Maior

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Mídia e Judiciário empenham-se em mudar regras formais do jogo político, inaugurando série de eventos dramáticos cujo objetivo é deslegitimar governo eleito 

Por Gilson Caroni Filho*, na Carta Maior

Como realizar uma tarefa desmedida, a retomada da agenda neoliberal, se na direita nada há que não seja um imenso vazio? A sua ideologia, incapaz de se reciclar, continua se apoiando em um pensamento econômico que, além do fracasso retumbante, exige para sua implantação, a derrocada das mínimas condições democráticas vigentes.

Para operar a demolição do país é necessário modificar profundamente a estrutura de poder no Brasil. E não nos iludamos. O protagonismo do judiciário, traduzido em confronto permanente com o Legislativo e outras instâncias da organização republicana, nomeadamente, o Poder Executivo, é peça central de uma onda golpista que tende a se acirrar em 2013.

É bom lembrar, como destaca a tradição marxista, a capacidade das classes dominantes de deslocar o centro do poder real de um aparelho para outro tão logo a relação de forças no seio de um deles pareça oscilar para o lado das massas populares. A estratégia é restabelecer, sob nova forma, a relação de forças em favor do capital rentista. É à luz da perda de importância dos partidos conservadores, em especial do PSDB, que se estabelece a proeminência das corporações midiáticas e de um STF por elas pautado.

Não deve ser motivo de surpresa que os membros dos dois campos (midiático e jurídico) se vejam empenhados em mudar as regras formais do jogo político, inaugurando uma série de eventos dramáticos com o objetivo último de deslegitimar o governo eleito pelo povo.

E por que tal empreitada ainda se afigura no horizonte das viúvas do consórcio demotucano? Porque nossas elites estão pouco acostumadas com a vida democrática, sendo incapaz de enriquecer o debate político. A democracia, como todos sabemos, não prospera sem o compromisso de todos com sua manutenção.

Seria preciso que a imprensa, o sistema educacional, as lideranças empresariais e intelectuais apoiassem a ideia democrática como única forma que legaliza e legitima o conflito. Nada mais incompatível com a prática e o discurso que caracterizam a falange neoliberal brasileira, forjada a ferro e fogo em uma formação autoritária secular que considera a negociação de interesses opostos como fator impeditivo para a adoção das medidas necessárias solicitadas pelo mercado. Estamos diante de atores que, como sabemos há muito tempo, não recuam de medidas mais radicais para a execução das tarefas a que se propõem: o desmonte do Estado e o aniquilamento da cidadania.

A maior presença, dia a dia, do Poder Judiciário reconstitucionalizando o direito ordinário à luz dos editoriais (estatutos) da mídia corporativa, não é um episódio isolado, uma carta encomendada apenas para o julgamento da Ação Penal 470. A nova direita brasileira, cega e surda, arrogante e displicente, irá às últimas consequências para o cumprimento de suas metas. Nem que para isso tenha que levar à desmoralização o seu próprio braço parlamentar.

Não há limites para o golpismo. Se dessa vez o estamento militar opera nos marcos da legalidade, não há problemas. Que se troquem as fardas por togas dóceis. A margem de manobra é mínima, mas a tentação é grande.

A tarefa mais urgente, pois, é continuar mobilizando a vontade nacional, atuando em todos os movimentos sociais organizados. É preciso deflagrar uma campanha orgânica de desmistificação do noticiário envolvendo questões legais. Ao país interessa um Poder Judiciário que , como guardião da Constituição Federal, dinamize os instrumentos processuais constitucionais previstos para garantir o funcionamento da democracia. E isso significa evitar que o Estado volte a ser atropelado pela insanidade dos golpistas, ficando sem condições para cumprir e fazer cumprir as leis.

*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

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6 comentários para "Imprensa e toga: a tentação do golpe"

  1. Sílvia Eugênia Galli disse:

    ao isso também está ocorrendo no campo dos Micro poderes" ( Foucault)….

  2. Geraldo Silva disse:

    Tudo isso acontece por falta de formação política, ideológica, científica de parte dos principais quadro e lideranças, que acabam confundindo cargos com "poder".Precisamos discutir o Brasil sob o ponto de vista do desenvolvimento social e econômico visando a consciência política do povo, diminuir a demagogia a tutela, manipulação dos menos esclarecidos, motivar a população a discutirem interesses coletivo a partir das necessidades reais the maioria menos favorecida e cobrar como DIREITO nossa dignidade, bem estar, vida digna deixar de acreditar, seguir orientações que vem cima para baixo de pessoas que nunca viveram as dificuldades the maioria e que tentam passar ideia de caridoso ao implementar ações custeadas com nossos impostos.Essa disputa entre legislativo e Judiciário para ver quem brilha mais, não tem a ver com a defesa the democracia muito menos com interesse the maioria do povo brasileiro, porque o poder inda esta na mão the burguesia milionária nacional, que influencia executivo , judiciário , legislativo , meios de comunicação conforme seu interesse.Defender a democracia cabe ao conjunto the sociedade brasileira organizada e mais consciente.

  3. Ricardo Canan disse:

    Falta, agora, defender Renan Calheiros. Já pensou que o Poder Judiciário só age quando provocado, e que o "protagonismo" decorre da inoperância e incompetência do Estado em proporcionar saúde, por exemplo, o que leva milhares e pedir (implorar) remédio às portas do Poder Judiciário?

  4. Luiz Manoel Navarro disse:

    É a mais absoluta verdade, parece que existe uma tendencia a substituição da ditadura militar, por ditadura togada para manter intocável os privilégios das elites.

  5. Eliana Vinhaes disse:

    Tempo!!!!
    Não vamos fechar os olhos à arquitetura golpista da direita! Já vivemos esta estratégia/tática. E sobrevivemos com muitas perdas. ACORDA BRASIL!

  6. Esta estratégia antiga, mas que engana incautos que não viveram 1964 deve ser desmascarada.

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