Fora do Eixo: obstáculos brasileiros ao surgimento do novo

Seria interessante analisar quebra de paradigma trazida por certas experiências e razão de despertarem a ira tanto da esquerda quanto da direita

Por Luis Nassif, em seu blog

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Seria interessante analisar quebra de paradigma trazida por certas experiências e razão de despertarem a ira tanto da esquerda quanto da direita

Por Luis Nassif, em seu blog

O Brasil sempre enfrentou enormes barreiras para aceitar mudanças de paradigmas. Há uma intolerância exacerbada que quase sempre desagua na fulanização e nos julgamentos pessoais.

É o que está ocorrendo com a discussão que se instaurou sobre a Casa Fora do Eixo e a Mídia Ninja — as duas experiências coletivistas, objetos de um programa Roda Viva, que já comentei.

Nos portais de jornais e nas redes sociais explodiu um amplo processo de desconstrução, brandido à esquerda e à direita, deixando para segundo plano o essencial: a análise e a celebração das novas práticas, dos novos modos de produção abrindo um horizonte até então inimaginável, graças ao conceito de rede social.

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É interessante analisar a quebra de paradigma trazida por essas experiências e a razão de terem despertado a ira tanto da esquerda quanto da direita.

A reação da direita deveu-se ao caráter coletivista de ambas as experiências. Nos dois casos, são comunidades trabalhando de forma articulada, em cima de modelos de atuação claros – porém impensáveis para quem só entende o trabalho a partir do modelo de chefia-subordinados-tarefas com horário e funções determinadas.

Para dinossauros da direita, todo trabalho coletivo é socialista e contra os meios de produção e de mercado. Vem daí sua resistência.

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A resistência da esquerda é em direção contrária. O grupo é coletivista, sim, mas trabalha de acordo com leis de mercado.

As Casas Fora do Eixo são comunidades espalhadas por todo o país coordenando shows, turnês de grupos, abrindo espaço para artistas de diversas regiões e da periferia.

Conquistaram espaço com sua estrutura de shows, com as formas de divulgação e com a organização, que lhes permite participar de editais públicos.

São vistos por parte da esquerda e dos artistas como exploradores.

De fato, não há nada de mais mercado do que desenvolver uma marca, um modo de produção, uma estrutura de distribuição e de captação de recursos e se beneficiar desses ativos.

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Esse é o dado importante, não a análise do caráter, oportunismo, esperteza e outros aspectos pessoais dos seus líderes.

Se as Casas Fora do Eixo representam um novo modo de produzir cultura, a Midia Ninja explora um novo modo de fazer jornalismo, coletivo, tecnicamente imperfeito mas muito mais dinâmico do que o telejornalismo convencional.

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É praticamente impossível que ambas as formas de produção se tornem hegemônicas – e reside aí outro vício da crítica. “Jamais poderão substituir as formas tradicionais”, e bordões do gênero.

Mas é claro que não. São propostas alternativas válidas e que fazem o contraponto, assim como fazem blogs e portais alternativos.

Essa é a raiz da democracia e do mercado: a criação de novos ambientes que permitem o florescimento de práticas alternativas, algumas das quais poderão ganhar dimensão maior, outras desaparecendo na poeira.

Hoje em dia, no ambiente da Internet e da produção audiovisual vicejam essas formas novas de produção, de parcerias, de sistemas horizontais de produção.

O futuro já chegou no dia-a-dia dos TICs (Tecnologia da Informação e da Comunicação) e nas experiências mais radicais dos rapazes do Fora de Eixo.

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3 comentários para "Fora do Eixo: obstáculos brasileiros ao surgimento do novo"

  1. Pablo disse:

    Luiz Nassif apostou no chavão errado, que é podre desde o início! Faltou-lhe uma pesquisa mais apurada antes de ovacionar o desconhecido, e agora não quer dar o braço a torcer. Fora do Eixo é uma rede segregacionista que despreza cruelmente artistas que não se adequam as suas ideias e interferem nas cenas independentes de muitas cidades sugando verbas públicas locais já que se tornaram “ratos” de editais especializados. Não tem choro nem vela. Quem conhece a doutrina FdE sabe do que está correndo em todo país. ANtes tarde do que nunca.

  2. a resitência da esquerda é porque o FdE ” trabalha de acordo com leis de mercado.”. Não tão simples. O FdE, através de sua cúpula, se proclama “movimento social”, e este discurso ocupa espaços políticos institucionais importantes e se hegemoniza com patrocínio da Petrobras (petroleo e Governos).

  3. Outras Palavras é minha fonte preferida. Não desta vez. Triste o desprezo pelos artistas que ralam – ele são a materia prima! Precisam comer, valha-me deus! Se existem artistas que querem morar no coletivo e trabalhar de graça, ótimo, que se faça essa experiência. Mas, se é uma proposta “amonetária”, porque ficam concorrendo aos editais? Eles capturam editais que poderiam relamente estar fomentando o trabalho de ARTISTAS. Os cachês têm que ser prescritos num edital de produção artpistica. Se eles não são pagos, para onde vai esse dinheiro? Como foi possível fazer a prestação de contas desse quesito? Sério, sou de esquerda e, justamente, acho esse FdE super de direita explorando mão-de-obra e impedindo que recursos públicos cheguem realmente àqueles que produzem a matéria-bruta da coisa: os artistas. . Vai um link com a fala do próprio Capilé. Tirem suas conclusões. https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=pO3hJLpgdBk
    Sério, dêem uma pesquisada melhor.

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