Os Mundurukus enfrentam usina (e a invisibilidade)

Indígenas promovem autodemarcação de suas terras, ameaçadas por projeto que sociedade desconhece, e por estranha decisão judicial

No Greenpeace

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Índios da comunidade de Montanha e Mangabal, que vive há século e meio no Alto Tapajós, no Pará. Construção de hidrelétrica sobre o rio pode inundar suas terras (Foto: Lilo Clareto)

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Indígenas promovem autodemarcação de suas terras, ameaçadas por projeto que sociedade desconhece, e por estranha decisão judicial

No Greenpeace

Empunhando foices, facões e aparelhos de GPS, guerreiros Mundurukus limpam uma estreita faixa de floresta, no extremo norte da Terra Indígena (TI) Sawré Muybu, demarcando por conta própria o limite de suas terras.

No ato de tornar aparente a linha imaginária que delimita o seu território de mais de 178 mil hectares, os Mundurukus tentam escapar da invisibilidade que lhes tem sido imposta pelo governo – uma forma de pedir não só o reconhecimento de sua existência, mas também de seus direitos.

A TI Sawré Muybu poderá ser alagada caso a usina hidrelétrica São Luiz do Tapajós, a primeira do Complexo, cujo leilão está previsto para o ano que vem – com potência de 8.040 MW -, torne-se realidade. A demarcação, que se arrasta há mais de 13 anos e foi paralisada no ano passado, seria uma forma de garantir a sua proteção e impedir que isso aconteça. De acordo com o Artigo 231 da Constituição Federal, é vedada a remoção de grupos indígenas de suas terras, salvo em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, e garantindo o retorno imediato logo que cesse o risco.

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Demarcação oficial do território arrasta-se há 13 anos e no ano passado foi paralisada. Povo Munduruku do Médio Tapajós, iniciou autodemarcação na semana passada

A luta entre a anta e o jabuti

“Nós não vamos sair”, diz o cacique Juarez Saw Munduruku, da aldeia Sawré Muybu, contando uma história da cosmologia de seu povo, em que um pequeno jabuti vence uma enorme anta, que simboliza o governo impondo a construção da obra e desrespeitando os que moram ali. Assim Juarez pede apoio à luta pela proteção do rio: “A anta é grande, mas, juntos, podemos derrotá-la”, afirma ele.

O complexo do Tapajós prevê cinco hidrelétricas na região. A soma da área dos reservatórios ultrapassa o tamanho da cidade de São Paulo. Mas, no lugar de uma selva de pedras, a área a ser coberta pela água é rica em biodiversidade e abriga uma das principais porções de floresta intacta do país, com unidades de conservação, terras indígenas e diversas espécies ameaçadas de extinção. Isso sem falar nos povos indígenas e ribeirinhos que vivem no local.

Após análise do Estudo de Componente Indígena que integra o Estudo de Impacto Ambiental da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, servidores públicos da Funai concluíram pela inviabilidade do empreendimento, visto que a obra incidiria sobre terra indígena em processo de regularização.

Mas a decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, de sustar o parecer da Justiça de Itaituba que obrigava a Funai a publicar o relatório que confirma a ocupação tradicional pelos índios, vem mostrar que as dificuldades que os Mundurukus enfrentarão estão só começando. O documento que está parado, pronto desde 2013, é considerado fundamental ao processo da demarcação.

“Para garantir a construção dessas hidrelétricas, o governo vem ignorando sistematicamente a Constituição e negando aos Mundurukus o direito de terem seu território demarcado. O Brasil pode deixar de construir grandes hidrelétricas na Amazônia diversificando a matriz de energia e investindo em fontes como energia eólica, solar e biomassa” afirma Danicley de Aguiar, da Campanha da Amazônia do Greenpeace.

A demora na demarcação da terra indígena só aprofunda os problemas causados pela invasão da Sawré Muybu, como explica o cacique Munduruku: “Decidimos fazer isso porque somos ameaçados, tanto por madeireiros, garimpeiros, como pela barragem que está se aproximando”, diz ele. “O relatório afirma que pertence a nós e o governo sabe disso”.

O governo sabe, mas passa por cima

Os 12 mil Mundurukus que vivem ao longo das margens do Tapajós são os povos originários dessa região, e, portanto, segundo a Constituição brasileira, têm direito a ela. Para eles, Sawré Muybu é muito mais que um simples pedaço de chão. É lá que eles têm a base de sua cultura e obtêm alimentos por meio da caça, da pesca e do roçado. O Rio Tapajós é tão importante que, na cosmologia, faz parte até da história da própria criação desse povo.

Mas, para o governo federal, que ignora a diversidade dos “Brasis” que compõem o mapa do país, os Mundurukus só se tornam visíveis quando protestam pelos seus direitos e o Tapajós é apenas mais um lugar a ser transformado em um imenso canteiro de obras para a construção do próximo megaprojeto de grandes hidrelétricas na Amazônia após Belo Monte.

Em recente entrevista à BBC Brasil, o Ministro Chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que o governo não abrirá mão do empreendimento.

Veja abaixo entrevista em que o cacique Juarez Munduruku fala sobre a autodemarcação:

 

 

 

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Um comentario para "Os Mundurukus enfrentam usina (e a invisibilidade)"

  1. rui Guilherme disse:

    .7* – set set set – 《♥ja acontece♥》…123!
    《{[“” … vejo em seus olhos, o mesmo medo que tomou meu coracao. Poderá haver um dia em que a coragem dos homens termine, quando desertarmos nossos amigos e trair-mos os laços de amizade. Mas este dia não é hoje, uma hora de loucos (?) e escudos despedaçados, quando a era dos homens for destruída, mas este dia nao é hoje. Hoje nós lutamos. Por tudo que amam nesta bela Terra eu peço que resistam…”””)}》…
    ….》… 《….》\|
    ….》… 《….》\|
    ………..♥………..
    A Arte é incorruptível, seu doutor. Ela é como a Terra que não se Vende e não se Transfere os seus bens! Não mate os Índios, a Natureza. Não mate as florestas. Se não estarás matando a Terra!…♡…
    ..123!

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