O Brasil de marcha a ré?

O governo quis colher onde não semeou. Em 12 anos, não fez nenhuma reforma de estrutura. Agora, a crise está acabando com as ilusões

Por Frei Betto

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Dilma e Joaquim Levy: “O novo lema do governo – “Brasil, Pátria Educadora” – foi anunciado em um dia e, no outro, R$ 14 bilhões foram cortados do orçamento da educação”

 

O governo quis colher onde não semeou. Em 12 anos, não fez nenhuma reforma de estrutura. Agora, a crise está acabando com as ilusões

Por Frei Betto, em O Dia

Na noite de domingo, 8/3, a presidente Dilma, em rede nacional de mídia, anunciou que a crise brasileira é grave.

O país não apresenta perspectivas de crescimento em 2015. A inflação aumenta a cada mês e, o dólar, a cada dia. Não há investimentos à vista. Direitos sociais, como abono desemprego e pensão viuvez, sofreram cortes. Os juros voltam a subir. E a corrupção na maior empresa brasileira, a Petrobras, administrada pelo governo, deixa o PT acuado e aprofunda a crise política.

A farra acabou. Foram 11 anos (2003-2014) de bonança: crescimento econômico; investimentos estrangeiros; inflação e câmbio sob controle; crédito facilitado; aumento real do salário mínimo; desemprego baixo.

Graças aos programas sociais, 36 milhões de brasileiros saíram da miséria. As ruas se entupiram de veículos novos. Qualquer barraco de favela está equipado com TV em cores, geladeira, fogão, máquina de lavar (graças à desoneração da linha branca) e telefones celulares. E Dilma, na campanha presidencial de 2014, prometeu que nada disso mudaria.

Agora, tudo muda. O novo lema do governo – “Brasil, Pátria Educadora” – foi anunciado em um dia e, no outro, R$ 14 bilhões foram cortados do orçamento da educação.

Onde o governo errou? Errou ao adotar um populismo cosmético. Se você tem renda suficiente para pagar aluguel e sustentar a família, não pode oferecer aos filhos motos, carros e férias no exterior. A conta não fecha. Um dia a casa cai e o rombo terá que ser coberto, ainda que a família perca quase todos os bens.

Quem não semeia não colhe. O governo quis colher onde não semeou. Em 12 anos, não promoveu nenhuma reforma de estrutura. Nem agrária, nem tributária, nem política.

Havia alternativa para o PT? Sim, se não houvesse jogado a sua garantia de governabilidade nos braços do mercado e do Congresso; se tivesse promovido a reforma agrária, de modo a tornar o Brasil menos dependente da exportação de commodities e mais favorecido pelo mercado interno; se ousasse fazer a reforma tributária recomendada por Piketty, priorizando a produção e não a especulação; se houvesse, enfim, assegurado a governabilidade, prioritariamente, pelo apoio dos movimentos sociais, como fez Evo Morales na Bolívia.

A crise econômica tende a se aprofundar. Já a política se arrastará até 2018, ano de eleições presidenciais. Se o governo não voltar a beber na sua fonte de origem – os movimentos sociais e as propostas originárias do PT – as forças conservadoras voltarão a ocupar o Planalto.

Frei Betto é escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros livros.

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5 comentários para "O Brasil de marcha a ré?"

  1. Maurici Aazevedo disse:

    Redação, isso é uma assertiva ou uma opinião?

  2. Ruy Mauricio de Lima e Silva Neto disse:

    Grandes verdades, frei Betto, hosana nas alturas! Todas aquelas reformas essenciais para garantir um ciclo auto-sustentável de prosperidade – agrária, tributária, política, foram inteiramente negligenciadas com aquela conversa de mestre Lula (que aí falhou fragorosamente) de “ah, no meu governo todos lucram, vejam que beleza!”. There is no free lunch, mestre Lula – de vez em quando vale a pena aprender um pouco de inglês. E que erro crasso foi, como você bem disse, jogar a governabilidade nos braços do tal “mercado”, que é um eufemismo “técnico” abjecto pelo qual a Direita exige ser chamada no Brasil e todo mundo aceita. (Pronto, finalmente um país sem Direita! No máximo toleram ser chamados de Centro).Que erro crasso borrar-se de medo da Grobo (alô, Bernardo Hoffman), não implantar uma TV estatal forte para rebater a Reação, como fez Cristina Kirschner e provavelmente Chavez-Maduro.Claro, mesmo que tudo isso tivesse sido feito, não seria garantia de muita coisa, com as imperfeições de nossa República que possui uma Constituição ainda tão pouco regulamentada, quanto mais atuante.Mas seria, quando menos, um programa inteligente, um programa mais justo, mais à altura de nossas grandes limitações,
    realista e possivelmente preventivo e neutralizador de muitas de nossas tradicionais fragilidades republicanas.

  3. Lamento muito Frei Beto, o problema não é o PT, tampouco alguém instalado num dos três poderes!!! O problema sou eu e você, que somos cristãos e não agimos nem como cidadãos e nem como católicos… Veja o seguinte: a igreja católica tem no Brasil de hoje – 300 bispos; 23.000 padres; centenas de revistas, centenas de jornais, centenas de rádios, várias televisões; possui centenas de colégios; mais de cem universidades; é o maior pais católico do MUNDO!!! Cadê a presença da igreja? Cadê o sal da terra e a luz do mundo? Cadê a prática da doutrina social da igreja? O que é feito da mensagem de CRISTO “eu vim para que tenhais vida e a tenhais em abundância”? A igreja vive na zona do CONFÔRTO e prega uma teologia da libertação gongórica, vazia, sem a consciência de que a FÉ SEM AS OBRAS É MORTA. Não vale falar da irmã Dulce e de outras personalidades que deram a vida aos seus semelhantes; eu falo de IGREJA! IGREJA que anuncia e faça e faça encarnando-se na realidade e a transforme com a radicalidade que o Cristo o demonstrou. A igreja, hoje é um paquiderme indolente e indiferente à causa de Cristo.

  4. O PT foi froxo e continua sendo froxo, ma
    s aida é tempo de mudar, embora o caminho ficou mais difícil.

  5. Marcio Flavio disse:

    isso se chegarmos à 2018… com a falência do dolar à vista, com a ameaça dos esquizofrênicos de plantão querendo já a WW3, e com o o planeta cada vez mais poluido e entupido, o ceo dona dilma, seu governo, o povo do brasilzim e mais meio mundo vão entrar em coma.

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