E a elite, quem diria… colou em Bolsonaro

etalhe da última pesquisa Datafolha para a Presidência, que quase ninguém notou: entre os mais ricos, candidato fascista é o preferido. Entre os pobres, está na rabeira

Por Fernando de Barros e Silva, na Revista Piauí

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Detalhe da última pesquisa Datafolha para a Presidência, que quase ninguém notou: entre os mais ricos, candidato fascista é o preferido. Entre os pobres, está na rabeira

Por Fernando de Barros e Silva, na Revista Piauí

Primeiro, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) parabenizou Eduardo Cunha pela condução exemplar dos trabalhos. Depois, antes de votar a favor do impeachment, homenageou a memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o torturador que chefiou o DOI-Codi, cuja figura se confunde com o capítulo mais sórdido da ditadura militar. Apesar da concorrência de tantos canastrões fervorosos a discursar na Câmara, ninguém conseguiria ser mais boçal. O troféu da abjeção é de Bolsonaro.

Sim, conhece-se o personagem. Tão espantosa quanto o que ele é capaz de dizer talvez seja a sua projeção pública crescente. Tome-se o Datafolha realizado este mês sobre a sucessão presidencial de 2018. Em todos os quatro cenários pesquisados, Bolsonaro aparece em quarto lugar, oscilando entre 6% e 8% das intenções de voto, ao lado de Ciro Gomes (PDT). Está atrás de Marina e Lula (empatados na liderança) e do candidato tucano (Aécio, Serra ou Alckmin).  Um político abertamente fascista com 8% das preferências para a presidência da República não é trivial, mas custa acreditar que ele possa ir muito além disso.

Passou despercebido, no entanto, o dado verdadeiramente chocante da pesquisa. Foi o cientista político André Singer quem me alertou para o fato de que Jair Bolsonaro hoje é o candidato preferido da parcela mais rica do país. Sim. Está no Datafolha: entre os que têm renda familiar mensal superior a 10 salários mínimos (apenas 5% da população do país), Bolsonaro lidera a corrida presidencial.  Num dos cenários, chega a ter 23% das preferências dos eleitores mais aquinhoados. Lula, o segundo colocado nessa faixa de renda, tem 13% dos votos. Na outra ponta da pirâmide social, entre os que ganham até dois salários mínimos, Bolsonaro tem 4% dos votos. O contraste entre a aceitação de Bolsonaro na elite econômica e no povão dá o que pensar – além de ser um soco no estômago (para usar uma imagem que deve agradar aos eleitores do deputado) dos que gostam de dizer que pobre é massa de manobra e não sabe votar.

No quarto cenário pesquisado, quando o Datafolha inclui o nome de Sergio Moro entre os presidenciáveis, Bolsonaro ainda assim mantém a dianteira, com 15% entre os mais ricos (contra 13% do juiz).

 Observando-se o recorte dos níveis de escolaridade, Bolsonaro figura em segundo lugar entre os que têm curso superior, com 15% das intenções de voto. Está à frente de qualquer dos nomes tucanos e atrás apenas de Marina.

Tudo isso é evidentemente um retrato do momento. De um péssimo momento. É também um sintoma do caldo de cultura que está ganhando corpo no país. Jair Bolsonaro é hoje o presidenciável preferido de parte expressiva da elite brasileira – apenas isso. Como disse Eduardo Cunha ao votar: “que Deus tenha misericórdia dessa nação”.

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6 comentários para "E a elite, quem diria… colou em Bolsonaro"

  1. Sérgio Alexandrino disse:

    Bolsonaro é um perigo para os mais ricos, ele é tapado, radical e metido a besta. Até hoje essa elite manipulou o poder. Por isso o Brucutu Tupiniquim é achincalhado de todos os lados com erros que outros cometem e nem tem relevância. Na minha opinião a elite tem medo de Bolsonaro, pois ele é um OVNI, sem piloto nem direção.

  2. Roldão Lima Junior disse:

    Nessa polêmica entorno do Deputado Bolsonaro, eu acho interessante, para não dizer que falta um pouquinho de cultura política ao articulista, taxá-lo, pejorativamente, de candidato fascista. Aliás, não existe candidato fascista. O que existe é o fascismo enquanto rumo de condução política adotado pela elite que detem o poder em determinada conjuntura social. A prática do fascismo pressupõe o exercício do poder. Para ser taxado de fascista, o político tem, no mínimo, que exercer cargo majoritário. Taxar um mero vereador, deputado ou senador de fascista é, no mínimo, demonstrar falta de cultura política. Recomendo a leitura de Emilio Gentille, Stanley Payne, Roger Griffin, Robert Paxton e tantos outros filósofos políticos da atualidade, que exploram o fascismo enquanto alternativa de governo dentro dos matizes do socialismo. Por mais incrível que pareça, o fascismo está intimamente ligado ao socialismo, enquanto doutrina política de governo. Existe fascismo de esquerda também. Vejam o caso do Brasil que, atualmente, está sob governo fascista de esquerda. Aliás, o Brasil é um país sui generis: Até governo de esquerda assume conotação fascista! Quanto ao Bolsonaro, eu o conheço muito bem e ele sabe muito bem disso. Sei como ele pensa. Sei como ele vai agir, se for o caso de assumir qualquer cargo eletivo majoritário. Tenho certeza absoluta de que ele não é fascista, como todo mundo acha que ele é. Mesmo porque ainda não ocupa cargo majoritário. Mesmo ocupando cargo majoritário, ele não vai ser seduzido pelo fascismo dado a sua formação política que é totalmente avessa a esse tipo de doutrina de governo. Não precisam ter medo dele. Ele não vai fazer “merda” como o Lula não o fez. Tal como Lula, o Bolsonaro é um líder populista, como qualquer outro líder político aventureiro da América Latina da atualidade. Bom de conversa. Fala o que todo mundo quer ouvir. “Mete o pau” no governo. É autêntico. Tem cultura política “nas canelas”, suficiente para garantir eleição para cargo político. Tem uma personalidade histriônica, muito parecida com a do finado Hugo Chàvez e a do Evo Morales. Aparentemente, o Bolsonaro é inofensivo.

  3. Weder Zoe disse:

    Você disse que o fato de Bolsonaro não está entre os mais pobres é porque eles aprenderam a votar? Foi isso mesmo que li? kkkkk Piada…só pode ser. A mesma pesquisa diz que Bolsonaro é desconhecido em 54% da população. Logo entendemos a preocupação de vocês, pois os mais informados e estudados votam em Bolsonaro, por isso facilmente podem influenciar os 54% que são os mais pobres…DESESPERO É GRANDE PARA ESSA MÍDIA ESQUERDISTA

  4. Suzana Nogueira disse:

    A pesquisa também demonstra a maior incidência da bolsopatia no sexo masculino e, claro, muito menor incidência no Norte e Nordeste!

  5. Leonardo disse:

    Que Deus não! Que o povo brasileiro tenha misericórdia desta nação e valorize mais seu voto, não dando a qualquer um.
    O resultado de dar créditos a aventureiros está aí; no desemprego, falta de investimentos, Petrobras e estados da Federação quebrados, a decadência da educação brasileira.
    Estamos perto do fundo do poço, justamente por que elegemos um populista que queria, mas não vai conseguir implantar a tal ditadura comunista no país!

  6. Bolsonaro é o Hugo Chàvez brasileiro? O inexpressivo Capitão Jair Bolsonaro – paraquedista militar – revoltou-se contra o Ministro do Exército, em 1986. Foi punido com 15 dias de prisão. O inexpressivo Tenente Coronel Hugo Chàvez – paraquedista militar – liderou um golpe malsucedido contra o governo venezuelano, em 1992. Também foi punido com prisão. O que essas duas personalidades tem em comum? Foram militares inexpressivos. Revoltaram-se contra uma bem determinada conjuntura política. Foram presos e ganharam a simpatia de parcela considerável da opinião pública. Tanto o Bolsonaro quanto o Chàvez, à semelhança do Lula, são líderes populistas de expressão nacional com patrimônio eleitoral respeitável. Utilizam a mídia com competência para impressionar eleitores incautos. Foram gerados em ambientes onde o proselitismo e a desesperança nas instituições ganharam força nos últimos 20 anos. São líderes sem convicção político-partidária. O Hugo Chàvez e o Lula, por conveniência, adernaram para bombordo, enquanto que o Bolsonaro adernou para boreste. Ou seja, nem o Hugo Chàvez e o Lula são de esquerda e nem o Bolsonaro é de direita. No entanto, a mesma classe média que votou no Chàvez e no Lula, na esperança de romper, radicalmente, o equilíbrio institucional vigente para, na sequencia, alcançar o bem-estar social (ou vai…ou racha!!), pode votar no Bolsonaro pelo mesmo motivo (ou vai…ou racha!!).

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