Degelo ártico, sinal macabro

Aumento da temperatura global, mais rápido que se anunciava, acende alerta: cidades como Rio, Xangai, Londres e Nova York podem desaparecer. Centenas de milhões de refugiados climáticos vagariam pelo planeta

Por José Eustáquio Diniz Alves, no EcoDebate

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Aumento da temperatura global, mais rápido que se anunciava, acende alerta: cidades como Rio, Xangai, Londres e Nova York podem desaparecer. Centenas de milhões de refugiados climáticos vagariam pelo planeta

Por José Eustáquio Diniz Alves, no EcoDebate

Até que a plenitude e a morte coincidissem um dia

Caetano Veloso

A NASA acaba de anunciar que o mês de agosto bateu todos os recordes de temperatura. Aliás, todos os meses de 2016, até aqui, superaram as temperaturas dos meses de 2015, que por sua vez já tinham superado os registros ocorridos desde 1880. Na plenitude civilizacional, o mundo caminha em uma trajetória complexa e perigosa e tem aumentado a mortalidade de diversas espécies, cada vez mais ameaçadas de extinção.

O gráfico acima mostra que o mundo ruma para a temperatura mais alta dos últimos 5 milhões de anos. Os dados da NOAA mostram que 2015 foi o ano mais quente desde do início das medições em 1880. Mas os primeiros oito meses de 2016 foram ainda mais quentes e ficaram 1ºC acima da média do século XX. Considerando apenas os meses de fevereiro e março de 2016 e mudando a linha base de comparação, a temperatura ficou cerca de 1,5º grau acima da temperatura média do final do século XIX. Nota-se que poucas vezes na história, nos últimos 5 milhões de anos, a temperatura ficou acima da média do século XX.

Se o aquecimento global continuar no ritmo atual, a civilização estará no rumo de uma catástrofe. E o mais grave é que a autodestruição humana pode levar junto milhões de espécies que nada tem a ver com os erros egoísticos dos seres que se julgam superiores e os mais inteligentes. A humanidade pode estar rumando para o suicídio, podendo também gerar um ecocídio e um holocausto biológico de proporções épicas.

A última vez em que o aumento da temperatura ultrapassou os 2ºC, no Planeta, foi no período Eemiano (há cerca de 120 mil anos) e provocou o aumento do nível dos oceanos em algo como 5 a 9 metros. Tudo indica que a temperatura no século XXI vai ultrapassar os 2ºC em relação ao período pré-industrial. Os prejuízos poderão ser incalculáveis.

As causas do desastre são as mesmas do sucesso. Como imaginou Caetano Veloso: “plenitude e a morte coincidissem um dia”. Ou seja, o avanço civilizacional possibilitado pelo uso generalizado de combustíveis fósseis e as crescentes atividades agrícolas e pecuárias geraram muita riqueza, mas provocaram uma grande emissão de gases de efeito estufa (GEE), gerando o aquecimento global. Assim, o que possibilitou a plenitude civilizacional também se tornou o maior risco ambiental da história da humanidade.

Durante, pelo menos, os últimos 800 mil anos o nível de CO2 na atmosfera ficou abaixo de 280 partes por milhão (ppm). Mas com o início da Revolução Industrial e Energética os níveis subiram, chegando a 310 ppm em 1950, 350 ppm em 1990 e 400 ppm em 2015 e 407,7 ppm em maio de 2016. Ainda no século XXI o nível de CO2 na atmosfera deve chegar ao dobro do que aconteceu no máximo dos últimos 800 mil anos. Isto aumenta o efeito estufa e torna o aquecimento um processo inevitável.

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Nunca a concentração de CO² subiu tão rápido e nunca os seres vivos da Terra tiveram tão pouco tempo para se adaptar. Embora as mudanças climáticas no passado tenham sido causadas por fatores naturais, as atividades humanas são agora (no Antropoceno) os agentes dominantes de mudança. As atividades antrópicas estão afetando o clima através de aumento dos níveis atmosféricos de gases do efeito estufa e outras substâncias poluidoras.

Artigo de Dana Nuccitelli (15/08/2016), no The Guardian, mostra que o mundo está passando por uma emergência climática e que para reduzir o risco dos impactos mais graves da mudança climática, as emissões de gases de efeito estufa devem ser substancialmente reduzidas”. O Brasil, por exemplo, precisa caminhar para o desmatamento zero e precisa avançar no reflorestamento para sequestrar carbono. Mas o ano de 2016 mostra níveis alarmantes de queimadas na Amazônia, Cerrado, etc.

Ainda segundo a mesma autora (22/08/2016), o gelo do mar Ártico está no seu nível mais baixo, para o verão, desde que os registros começaram há mais de 125 anos. A perda de gelo acirra o efeito de feedback. O gelo é altamente reflexivo, enquanto o oceano abaixo está escuro, assim, quando o gelo na superfície do oceano derrete, o Ártico torna-se menos refletor e absorve mais luz solar, fazendo com que ele aqueça mais rapidamente, acelerando as mudanças climáticas. Esse feedback é uma das principais razões pelas quais o Ártico é a região de mais rápido aquecimento da Terra, com temperaturas subindo cerca de duas vezes mais rápido que em latitudes mais baixas – Ver link do artigo de Brian Kahn (15/09/2016).

Outro efeito do aquecimento global e do degelo do Ártico é a liberação do carbono e do metano aprisionado no permafrost (solo permanente congelado). Este processo pode liberar na atmosfera um gigantesco volume de metano e de dióxido de carbono. Cientistas integrantes do Permafrost Carbon Research Network calculam que, nos próximos 30 anos, cerca de 45 bilhões de toneladas métricas de carbono originado do metano e do dióxido de carbono chegarão à atmosfera quando o permafrost degelar ao longo dos verões. Por volta de 2100, os pesquisadores preveem um cenário ainda mais sombrio: daqui até lá, 300 bilhões de toneladas métricas de carbono deverão ser liberados do permafrost, constituindo uma verdadeira bomba-relógio que vai acelerar o aquecimento global e a elevação do nível dos oceanos.

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Por tudo isto, não há dúvida de que o planeta está caminhando para uma temperatura elevada e sem precedente nos últimos 5 milhões de anos. Desde o surgimento da espécie Homo, nunca o clima foi tão ameaçador. A humanidade terá o mesmo destino dos dinossauros se não fizer uma séria autocritica e um rápido redirecionamento do modelo de produção e consumo hegemônico. O gráfico abaixo mostra como a temperatura aumentou nos últimos 136 anos.

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Artigo de Nicola Jones, no site e 360 Yale, coloca com clareza as tendências mais recentes. Ela começa dizendo que 99% do gelo de água doce do planeta está preso nas calotas da Antártida e da Groenlândia e que o degelo, especialmente desta última, poderá fazer o nível do mar aumentar 1,8 metro no século XXI e muito mais no século XXII. Artigo de Robert M. DeConto e David Pollard, publicado na revista Nature (31/03/216) mostra que no último período interglacial (130.000 a 115.000 anos atrás), com temperaturas pouco acima das atuais, a média global de aumento do nível do mar (GMSLR) foi de 6 a 9 metros. Os autores mostram que, se as emissões de GEE continuarem no nível atual, o nível médio do mar subiria cerca de 2 metros até o fim do século, extinguindo nações insulares e gerando grande quantidade de refugiados do clima em cidades como Rio de Janeiro, Londres, Miami, Xangai, etc.

No dia 3 de setembro, antes da reunião do G-20, os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da China, Xi Jinping, reunidos em Hangzhou, ratificaram o Acordo de Paris (que foi aprovado em 12 de dezembro de 2015 na COP-21). Pela primeira vez, todos os países signatários da Convenção do Clima (1992) são obrigados a adotar medidas de combate à mudança climática. Antes, só os ricos estavam obrigados a fazê-lo. O texto do acordo determina como teto para o aquecimento global bem menos de 2°C, na direção de 1,5°C. Também indica que US$ 100 bilhões por ano é o piso da ajuda dos países ricos aos mais pobres até 2025 e determina balanço global das metas nacionais a cada cinco anos. China e Estados Unidos são os dois maiores poluidores da atmosfera e respondem por quase 40% das emissões de gases de efeito estufa.

Embora o governo brasileiro tenha ratificado o Acordo de Paris, em setembro de 2016, na prática as coisas não estão indo bem. O Brasil prometeu reduzir o desmatamento da Amazônia para conter as emissões e o aquecimento, mas o desflorestamento continua em todos os biomas nacionais e tem crescido a degradação da Amazônia em 2015 e 2016 e também a degradação do Cerrado, da Mata Atlântica, etc.

Os países signatários do Acordo de Paris têm até abril de 2017 para ratificar o texto. O documento passará a valer 30 dias depois que 55 países, representando ao menos 55% das emissões globais, formalmente aderirem a ele. Não resta dúvidas de que é preciso a assinatura e também colocar em prática as metas apresentadas. Porém, uma matéria do Observatório do Clima mostra que para atingir o limite de 2ºC, o corte nas emissões de gases de efeito estufa deveria ser seis vezes maior até 2030.

Estudo recente da NASA reconstituiu a temperatura dos últimos 1500 anos e deixou claro que a temperatura média global atingiu um máximo de 1,38ºC acima dos níveis experimentados no século XIX, perigosamente próximo do limite 1,5º C estabelecido no Acordo de Paris. Portanto, o aquecimento das últimas décadas está fora de sintonia com qualquer período anterior em milênios.

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O gráfico abaixo mostra as temperaturas do ano de 2016 e dos últimos 7 anos mais quentes da série histórica. O ano de 1998 foi o mais quente do século XX, com anomalia de 0,63º C. Mas os outros seis anos mais quentes já registrados diretamente foram todos no século XXI, com destaque para o ano de 2015 que ficou 0,9º C acima da média do século XXI. Porém, o ano de 2016 tem batido todos os recordes e até o mês de agosto a temperatura tem ficado em nível superior a 1º C acima da média do século XX.

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Considerando a linha de base (baseline) de 1880-1899, mais próxima do período pré-industrial, a temperatura de 2015 já foi superior a 1º C e há 99% de chance a temperatura de 2016 ficar em torno de 1,3º C acima da média de temperatura do período de baixa emissão de gases de efeito estufa, conforme gráfico abaixo.

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Desta forma, estamos entrando em um período de emergência climática e o mundo precisa ir além do Acordo de Paris, pois, se a temperatura continuar subindo no ritmo acelerado das últimas décadas, o impacto do aquecimento global será desastroso e poderá levar ao colapso da civilização e à 6ª extinção em massa das espécies. Caminhamos para uma situação inédita nos últimos 5 milhões de anos.

Um dos efeitos imediatos será a inundação de milhões de casas e quilômetros de áreas férteis da agricultura nas regiões litorâneas, gerando perda na produção de alimentos, pobreza e grande número de refugiados do clima. Na primeira quinzena de setembro várias localidades do litoral brasileiro ficaram debaixo d’água, com destaque para Santos, Camboriú e Paraty – que tem seu patrimônio histórico ameaçado. Gerando inundações, perdas e afetando a economia, as mudanças climáticas devem agravar ainda mais as desigualdades sociais, o que pode elevar o clima de revolta e o aumento dos níveis de violência social e ambiental.

Referência:

Yes, Virginia, Climate Change is Really, Really Important. August 10, 2013

Dana Nuccitelli. Climate urgency: we’ve locked in more global warming than people realize, The Guardian, 15 August 2016

Dana Nuccitelli. Historical documents reveal Arctic sea ice is disappearing at record speed. The Guardian, 22 August 2016

Nicola Jones. Abrupt Sea Level Rise Looms, e360 Yale, 05 May 2016

Robert M. DeConto & David Pollard. Contribution of Antarctica to past and future sea-level rise, Nature, 531, 591–597 (31 March 2016) doi:10.1038/nature17145

Brian Kahn. These Images Show Near-Record Low 2016 Arctic Sea Ice, Climate Central, 15/09/2016

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]

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7 comentários para "Degelo ártico, sinal macabro"

  1. osmar disse:

    Toda ação tem uma reação.
    O futuro e a queda.porem chegamos as estrelas

  2. Diogo Waldomiro disse:

    Só para encerrar por ora a discussão, há um senhor norte americano cujos textos e ideias falam de tudo isso que a gente está falando com absoluta lucidez e pertinência, é o Noam Chomsky: Segue uma breve dele
    “As atuais políticas estão pensadas para proteger a autoridade estatal e os poderes nacionais concentrados em uns poucos grupos, defendendo-os contra um inimigo muito temido: sua própria população que, claro, pode se tornar um grande perigo, caso não seja controlada devidamente”
    Fica aí a dica
    Abraço

  3. Edgar Rocha disse:

    Sr. Diogo Waldomiro, muito obrigado pelo diálogo e a possibilidade de interação. O que é colocado em seu comentário faz sentido. É uma possibilidade da qual, por mais surreal que pareça, não se pode descartar. Como sabemos, o pensamento de raízes autoritárias se define justamente pela busca do controle absoluto para benefício daqueles se beneficiam do sistema. Vem à tona nesta década um fascismo encubado, aprofundado em suas ambições e sofisticado em suas estratégias. O direcionamento da produção científica não deixa dúvidas quanto a quem esta serve. Porém, devemos nos atentar para a seguinte questão: o nível de realismo da crise ambiental global, sua natureza ou até mesmo sua existência são realmente quantificáveis, ou ao menos, relevantes? Independente do conhecimento que nós, simples mortais possamos ter sobre a crise ambiental nestes tempos de guerra total e controle absoluto da informação, as consequências são sentidas, ao mesmo tempo em que os agentes causadores desta “realidade”, seja ela concreta ou virtual, estão se tornando cada vez mais perceptíveis.
    O fato do qual eu tenho me tornado mais consciente é o de que há um sistema econômico, ideológico e político que não tem outro objetivo senão garantir o controle de uma pequena minoria sobre um mundo cada vez mais em perigo, oferecendo uma estabilidade relativa que exclui uma imensa maioria, tendo como motor deste sistema a própria exclusão gerada por este. O que disse anteriormente é que tal estado de coisas é de tal forma insustentável que, mesmo correndo o risco de ser manipulado pelo medo, sem saber ao certo o que devo temer, devemos nos fixar unicamente na estrutura capaz de gerar este medo em nós e que nos força a tomar decisões que beneficiem a mesma. Em resumo, eu não quero mais isto!
    O que conta pra mim agora é a certeza de que isto não é vida. De que não haja nada oferecido pelo sistema que possa parecer positivo o bastante para sustentá-lo. Um exemplo simples advém da área da saúde. Fico feliz cada vez que se descobre a cura para uma doença, ou que surge uma tecnologia capaz de melhorar a qualidade de vida de muitos. No entanto, pensando a partir da lógica capitalista, quantos terão acesso a qualquer coisa deste tipo? É o mesmo que vestir a camisa verde amarela e torcer pra uma seleção que, pode ganhar ou perder de acordo com interesses políticos, não sendo mais que uma empresa que vende o fetiche de representar a toda uma nação. Entende? Torcemos e comemoramos a vitória alheia, nada mais.
    Concordo com tudo o que você disse quanto ao potencial manipulador até mesmo de fenômenos ambientais. Não duvido mais de nada. Eu havia me referido metaforicamente a mitos religiosos para enfatizar justamente a gravidade e a força daquilo com o qual estamos lidando. Não sou um místico em verdade, mas vejo os mitos como belas representações dos grandes dilemas que a humanidade nunca conseguiu solucionar. Seu texto fala que estamos lidando com principados e potestades. Para mim, nada mais exato, crendo ou não. A única resposta que se pode oferecer, no entanto, é a mesma oferecida há mais de dois mil anos: contra aquilo que não vemos, só nos resta a renúncia. Se teus filhos aprenderem a dizer não, já é um começo
    Meus respeitos.

  4. Diogo Waldomiro disse:

    Caro Edgar, são profundas as suas reflexões. Compartilho da sua angústia e sinto-me tentado a responde-las no mesmo nível, mas jamais conseguiria. Vou me ater a alguns comentários. Em primeiro lugar, com todo respeito ao currículo do autor e ao caráter científico da matéria, não acredito tão piamente no que a NASA diz. Primeiro pq o clima não se comporta de maneira “global” como querem nos fazer crer. Global é a intenção deles de dominar o planeta a partir do controle do clima, como suponho que já venha sendo feito. Tecnologia para isso os caras tem de sobra.
    Os fenômenos meteorológicos funcionam de forma localizada, como a nossa forte e importante Zona de Convergência do Atlântico Sul, a qual é responsável pelas chuvas sobre grande parte de nosso território, sendo responsável pela existência da Amazônia, do Pantanal e dos grandes rios que correm tanto para o norte como para o sul do país. Para colapsar o Brasil em termos climáticos é só comprometer o funcionamento da ZCAS. Com tantos satélites e uma estação espacial ultra tecnológica, isso não seria tão difícil.
    E mais, se os países industrializados são os maiores emissores de poluentes desde a Revolução Industrial, a coisa deveria estar muito pior para eles no hemisfério norte, não acha? No entanto, não é isso que se verifica.
    As catástrofes climáticas tem ocorrido sobretudo na Síria, na África, aqui no Brasil, no Chile.
    E quanto às pulverizações, que ocorrem sistematicamente pelos céus do Brasil? São aviões a jato? Se forem, como explicar chuvas que se formam mas não caem?
    Cara, conheço muito bem a chuva do meu país.
    Perfeita a observação sobre a autoria da expressão Teoria da Conspiração, a qual é mais uma sutil e eficiente estratégia de inteligência para neutralizar qualquer opinião contrária ao que é dito pela grande mídia, inclusive sobre a previsão do tempo. Sugiro que vocês confrontem o que diz a previsão do tempo e a ocorrência de chuvas. As vezes, em diferentes institutos de meteorologia, temos 80, 85 ou 90% de probabilidade de chuvas, que apesar de se formarem como sempre, não se precipitam, não é curioso?
    Repare que ultimamente a grande mídia começou a noticiar sobre as grandes migrações da história da humanidade, assim como começam a se ocupar da educação como nunca antes. Com qual objetivo? No primeiro caso para justificar a ocorrência de grandes secas e calamidades, como ocorreu na Síria e provocou a guerra e a devastação daquele país. e como vem ocorrendo no centro oeste do Brasil, mas também em Minas Gerais, no Espírito Santo e Sul da Bahia, terras ricas em minérios, em água e em terra boa para se plantar. Tudo isso logicamente não é dito no Jornal Nacional.
    No segundo caso, o da educação, simplesmente para afastar qualquer possibilidade de reflexão e conscientização sobre tudo isso que você disse no primeiro parágrafo da sua primeira fala, rapinagem de recursos, etc.
    Ah, mas temos a internet para nos expressar… Meu amigo, a internet está toda grampeada e cheia de espiões humanos ou robóticos que devem nos rastrear a partir de uma simples busca por palavra escrita.
    Não se trata mais de esquerda ou direita, nossa briga é contra principados e potestades, como diz a Bíblia.
    É triste, muito triste, e o pior, nem sei o que dizer aos meus filhos, e nem como.

  5. Edgar Rocha disse:

    Desde que sejamos realistas diante do enfrentamento que com certeza virá, creio que sim, sr. Leo Millor. Devemos partir do princípio de que a cooptação das demandas já é um efeito consolidado e plenamente amadurecido no seio do atual sistema. Uma vez percebida pelo mesmo, a referida pauta unificadora será submetida ao “tubo processador de merda” que a tudo transforma em dejeto, casca e decrepitude. Mas, isto não é motivo para intimidações. Mesmo este mecanismo tem seus limites e há coisas que podemos imaginar que, sob nenhum aspecto, se enquadraria ao sistema ultra-liberal. Estou falando da opção pelo baixo consumo, das redes de produção locais, do mínimo uso do dinheiro e da mínima exploração de recursos. São estas propostas que exigirão mais coragem, mais determinação, mais consciência para além de qualquer reducionismo ao baixo nível da fetichização e do modismo. Parece impossível, mas o organismo ultra-liberal se enfraquece a cada pequena frustração. E se torna mais violento, mais opulento, como forma de auto-afirmar-se. É preciso por isto, transformar os pequenos cortes em hábito constante, sem perder de vista uma visão pé no chão, prática, menos ideológica e mais lógica, menos romântica e cada vez mais concreta. Encaro tal postura como a luta contra o tabagismo: pra quem já está no bico do corvo, um cigarro a menos é sempre um minuto a mais. Com isto, resgata-se o prazer de respirar, em detrimento do prazer da repetição de um gesto destrutivo. É preciso mostrar o prazer no que está se perdendo, para que possamos largar o prazer vazio da compulsão. Respirar é um prazer que o cigarro não nos pode oferecer.
    Para além das ações individuais, penso que a política rasteira também seja um vício decrépito naturalizado por quem lucra por ela. A cada propina negada, a cada questionamento feito aos nossos representantes, a cada medo vencido, cada minuto de diálogo com nosso vizinho, por pior que este seja em suas posições, a cada gesto consciente, conseguimos ir além de nossa mera participação pelo voto, já tão desacreditada e quase destituída.
    Saibamos que a força generalizada de um sistema que, como um traficante pé de chinelo qualquer repete o mesmo mantra: “Tá tudo dominado”, não nos deixará impunes de nossas ações. Mas, o sistema sangra, adoece, perece a cada pequena derrota. É como ocorreu nos grandes impérios. Não há nada mais destrutivo que a consciência de sua ineficácia e seu consequente abandono.
    Meus respeitos.

  6. Leo Millor disse:

    Seria essa a pauta unificadora de uma esquerda pulverizada e perdida nas cooptações de suas demandas?

  7. Edgar Rocha disse:

    Talvez o sistema capitalista já esteja se preparando para um quadro de “perdas aceitáveis”, a saber: genocídio programado, rapinagem dos recursos alheios; uso de mecanismos de controle populacional discreto (esterilização em massa, mecanismos de caráter malthusiano para contenção de populações-problema, tais como epidemias e guerras etc.); busca de paliativos capazes de compensar as necessidades básicas e/ou a exclusão da maioria (falo daquele programa ridículo da ONU de incentivar o consumo de insetos, por exemplo). Tudo é possível! Como já sabemos, foi a CIA quem inventou o termo pejorativo “Teoria de conspiração” para desqualificar qualquer possibilidade de acerto sobre o futuro.
    A elite capitalista terá tempo e condições de se adaptar. Devemos estar atentos aos expedientes utilizados, sobretudo, levando em consideração que a grande maioria da população mundial se encontra – e se encontrará – em situação de risco constante, muito mais pelas medidas a serem tomadas a partir da concepção eugenista e fascista que permeia o atual sistema, do que pelas agruras que terão de passar com as consequências do desequilíbrio ambiental, já quantificado e avaliado pelos detentores do poder (grandes corporações, juntamente com os 1% mais ricos do planeta).
    Já conhecemos a empáfia dos que controlam economicamente o mundo: eles acreditam que toda atitude contrária aos seus interesses será sempre reativa ao que eles já implantaram, com previsão exata do que se deve fazer para anular possíveis reações. Passa do momento de as sociedades aprenderam a se antecipar aos intentos desta casta global e, definitivamente, vencer o terrorismo ideológico que nos impede de dizer não aos projetos de destruição controlada aos quais todos nós, até o presente momento, pouco conseguimos bloquear. A minoria sociopata tem de temer uma negativa em massa ao sistema que oprime a todos. Seria a única saída possível. Transformar a perspectiva de destruição numa perspectiva transformadora da sociedade. Todos temem. Sobretudo, temem o presente. O sistema vende a ideia de que se deve viver o aqui e o agora. Cria escapismos capazes de imobilizar o pensamento diverso e as perspectivas futuras, por piores que sejam. Há que se por a mão na massa, usar o único recurso pelo qual ainda dispomos de mobilização. A internet está aí, por enquanto, e o medo agora é real e inadiável. Não há como vencer a procrastinação disseminada se não despertarmos a consciência de que o bem estar presente é que está em jogo. Não é para amanhã.
    Impossível esquecer uma postagem concomitante a esta e não fazer o paralelo lógico e evidente: o desespero atinge a todos, não mais aos excluídos da sociedade. Não basta mais atender às compulsões incentivadas pelo sistema capitalista para se alcançar a sensação de bem-estar e a impiedosa felicidade. A onda mundial de suicídios indica o fracasso deste sistema de busca do gozo infinito. Eis a maldição da Ferrari: você olha, mas o vendedor esnobe lhe seca de cima abaixo e, mesmo podendo pagar, lhe diz: “não é para o teu nível”. A tão sonhada realização pelo consumo exclui por uma peneira fina, em que só passam as partículas mais padronizadas. Ao acalentarmos o desejo de saborear aquela rosquinha enfeitada com folhas de ouro, não nos damos conta de que nós consumidores é que nos tornamos o prato gourmet. O fetiche se inverte e já é o produto que ganha alma, arbítrio, direito de escolha e decide quem poderá usá-lo. Mamom ganha corpo, desperta dos infernos e nos coloca na caldeira onde seremos cozidos em nossas mais fúteis frustrações. É o preço que se paga por reduzir-se o espírito humano num mero miasma de prazeres, verdadeiros zumbis escravizados pelo pacto de poder desejar a tudo e se despudorar por completo no uso da vilania, no intento de conseguir o que quer. Eis o que significa a metáfora da “venda da alma”. Satanás é um comerciante sem produto, um vendedor de ilusões, dono do circo de pulgas pelo qual pagamos pelo direito de vermos o que quisermos ver. A salvação de um, no entanto é a salvação de todos. Necessitamos despertar do pesadelo ridículo no qual os sistema afundara a humanidade antes que o trauma, antes que aquela sensação horrorosa de estar caindo nos faça acordar entre os destroços de nossa vida roubada.
    Relembro o ex-presidente Mujica e sua proposta de retorno da frugalidade. Melhor seria se a encarássemos como o verdadeiro retorno à realidade. E aceitar que o resto, por mais verossímil e maravilhoso, não passa de uma ilusão vendida a muitos para o lucro de uns pouquíssimos espíritos cruéis que jamais deveriam ter saído de sua insignificância.
    E antes que me acusem de ser injusto com Bill Gates, George Soros e companhia, evoco o pensamento de mais uma alma iluminada que todos nós deveríamos repetir com todas as forças, como um mantra: “Tudo vale à pena SE (muitas exclamações para o SE!!!!!) a alma não é pequena”.
    Meus respeitos a todos.

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