Custo humano: o lado oculto da "experiência Apple"

Suicídios. Câncer gerado por exposição a benzina. Jornadas de 16horas. “Hipster” no marketing, empresa norte-americana é sempre “trash” nas condições de trabalho

Por Vinicius Gomes, na Revista Forum

Moto X smartphone factory

Só na China: linha de produção da Flextronics, grande fornecedora da Apple, em Fort Worth, EUA

.

Suicídios. Câncer gerado por exposição a benzina. Jornadas de 16horas. Vídeo revela que, “hipster” no marketing, empresa norte-americana é sempre “trash” nas condições de trabalho 

Por Vinicius Gomes, na Revista Forum

“Queridos pai e mãe, como vocês estão? Me desculpem por não estar aí para cuidar de vocês. Vocês me perdoam? Eu pensei em cometer suicídio, eu pensei em pular do alto de um prédio, mas eu não tinha nem forças para subir até o topo”.

O texto acima está presente no documentário “Quem paga o preço? O Custo humano dos eletrônicos” (veja abaixo), sendo uma parte do diário da jovem Long, uma chinesa de 18 anos que desenvoveu câncer ao ser diariamente exposta à neurotoxina N-Hexano, enquanto trabalhava em uma fábrica fornecedora de chips para empresas de eletroeletrônicos, smartphones e computadores.

Os cineastas focam nos efeitos que esses compostos químicos têm sobre os milhões de trabalhadores a eles expostos enquanto atuam na fabricação de iPhones, iPads e diversos outros aparelhos eletrônicos que consumidores ao redor do planeta vieram a ser dependentes. O curta de 10 minutos foi realizado pelos cineastas Heather White e Lynn Zhang a respeito dos perigos ocupacionais que os chineses encaram todos os dias trabalhando para a indústria dos eletrônicos na China – principalmente o envenenamento por compostos químicos tóxicos — sendo a benzina a mais perigosa deles.

Diferente da jovem Long – que decidiu não por fim à própria vida -, Ming Kunpeng, 22, contraiu leucemia por trabalhar todos os dias com a cancerígena benzina, sem qualquer equipamento de proteção, na ASM Pacific Technology – uma fornecedora de chips para a norte-americana Apple. Após meses batalhando judicialmente para conseguir dinheiro para o tratamento, Ming pulou do topo do hospital, por conta da compensação ter sido insuficiente.

Mais da metade da população mundial já tem acesso a um celular, por exemplo, e em sua grande maioria, são fabricados na China – assim como também são outros aparelhos eletrônicos. Considerando isso e, que a demanda por aparelhos cada vez mais baratos cresce, o custo humano para sua produção é um problema gigantesco que não pode ser ignorado, pois enquanto na maioria dos países consumidores a benzina é banida, na China ela não é proibida.  Além da benzina e do n-hexano, o tolueno – tóxico à reprodução – também é permitido.

O vergonhoso histórico da Apple

Em meados de 2013, a norte-americana Apple lançou um comercial chamado “Nossa Assinatura”, onde se vê pessoas usando produtos da empresa; seja ouvindo música, tirando fotos, enviando mensagens – enquanto ao fundo, junto de uma melodia suave, ouve-se “Isso é o que importa: a experiência de um produto […] Ele irá tornar a vida melhor?”.

O contraste das cenas de felizes consumidores da Apple no comercial de um minuto com as declarações dos trabalhadores chineses no curta de 09h31min é tão claro que, se não fosse pelo histórico da empresa norte-americana em suas relações sociais, econômicas e ambientais – que muito lembram as do século 19 -, poderia até ser argumentado que ela não tem culpa.

Outro caso notável de desprezo das empresas pelas condições na linha de produção de seus produtos, foi na ultra-exploração  do trabalho humano da Foxconn, sediada em Taiwan e fornecedora mais tradicional da empresa criada por Steve Jobs. Lá, trabalhadores cumpriam jornadas excessivas, de pelo menos 10 horas diárias, que se transformam facilmente em 15 ou 16 devido às horas-extras que acabam cumprindo. No expediente, era proibido conversar e os trabalhadores tinham direito a pausa de 10 minutos para ir ao banheiro a cada duas horas.No final do ano passado, o jornalista britânico George Monbiot descreveu o impacto da Apple e de outras empresas do setor, na ilha de Bangka, na Indonésia, onde o estanho – metal indispensável para a soldagem interna de smartphones – era extraído como se ali fosse “uma orgia de mineração sem regras”; devastando não apenas o frágil ecossistema local, como também utilizando crianças no trabalho, além de contabilizar a morte de um ao menos um mineiro a cada semana por acidente de trabalho.

Quando a Foxconn teve, por exemplo, de responder aos exíguos prazos impostos pelo departamento comercial da Apple, as jornadas se estenderam, até compulsoriamente. “A demanda pelo primeiro iPad foi tão intensa que os trabalhadores afirmam que tiveram que trabalhar 7 dias por semana durante o pico de produção”, publicou o jornal britânico The Guardian.

Um outro caminho é possível

Nem os cineastas do documentário, nem George Monbiot, nem qualquer outra pessoa que tenha denunciado o desprezo pelas condições de trabalho e impactos ambientais na produção de eletroeletrônicos ao redor do planeta, querem dizer que tais aparelhos devam ser banidos e não mais utilizados.

As denúncias servem para informar aos consumidores sobre as condições desumanas e exploratórias às quais uma ponta da cadeia produtiva está submetida para que todos gozem dessas inovações tecnológicas e que, os consumidores – como a outra ponta da cadeia – exijam uma maior responsabilidade das empresas em suas produções.

Outras alternativas poderiam ser naquele que foi chamado um “smartphone sem culpa”, o Fairphone – no qual um instituto holandês lançou um smartphone cuja produção não envolve não envolveria a extração predatória de materiais essenciais para os aparelhos em diversas partes do mundo, seja na ilha de Bangka, seja em Taiwan, seja no leste da República Democrática do Congo – região conflituosa clássica na mineração, onde a atuação de milícias armadas e exércitos estrangeiros controlam a retirada desses minérios.O Secretariado Químico Internacional, uma organização sem fins lucrativos, baseada na Suécia, fornece às companhias, substitutos para químicos tóxicos em sua lista “Substitua Agora” – como o ciclohexano e o heptano, no lugar da benzina. Além de enumerar 626 compostos químicos perigosos para a saúde humana. Especialistas toxicológicos estimaram que as empresas de smartphones poderiam trocar a benzina com solventes mais seguros ao custo de 1 dólar por telefone. Um número extremamente irrisório para a proteção da vida de trabalhadores perto dos 37 bilhões em lucro da Apple, apenas em 2013.

Por fim, as empresas de eletrônicos devem assumir a responsabilidade pelas suas fábricas fornecedoras – não importa onde estejam no mundo – e cabe aos consumidores exigir que elas o façam.

Assine aqui a petição para a Apple acabar com o envenenamento de seus trabalhadores.

Leia Também:

11 comentários para "Custo humano: o lado oculto da "experiência Apple""

  1. Jairo disse:

    Legal a matéria, pena que ela se ateve apenas a apple, pois não precisaria ir até a china/indonésia pra ver morte provocada pela industria, em Cubatão, tem a usiminas ai produzindo aço pra china construir carros, com mortes e exposição a benzeno. Achei a reportagem/documentário ótimos, mas acho que a mídia deve diminuir a exportação de documentários referentes a problemas de fora e olhar melhor pra dentro do próprio pais.

  2. Ozmurd disse:

    Em meu comentário anterior por falta de cuidado na edição alguns trechos foram grafados incorretamente,segue novamente o primeiro parágrafo corrigido,peço que a moderação tenha o cuidado de corrigir o mesmo,obrigado:
    Quem parace querer ser o dono da verdade é você,não vi nenhum argumento satisfatório contra a matéria,acusar o site e outros similares de serem invejosos e terem pobreza de espirito parece um meio fácil de se pôr na defensiva e ivrar sua consciência dos danos que causa enquanto se é consumidor de produtos de gigantes do setor de eletrônicos,danos que como a matéria demonstra não são só na área de saúde mas também ambiental.

  3. Ozmurd disse:

    Quem parace querer ser o dono da verdade é você,não vi nenhum argumento satisfatório contra a matéria,acusar o site e outros similares de serem invejosos e terem pobreza de espirito parace um meio fácil de se pôr na defensiva e ivrar a consciência dos danos que causa enquanto se é consumir de produtos de gigantes do setor de eletrônicos,danos que como a matéria demonstra não são só na área de saúde mas também ambiental.
    O que não falta são sites e mais sites que bajulam Empresas como a Apple do Semi-deus Steve Jobs (Deus para certos conhecedores da verdade,ao que parece),precisamos de Sites que façam jornalismo sem rabo preso,como é o caso dos Gigantes da midia,que quando postos contra a parede admitem que sim apoiaram a ditadura,sonegaram impostos,aprontaram,mas quem não aprontou?certo?Isso é cinismo.
    Por conta disso que pra mim a midia conservadora vem perdendo o respeito,devido ao mal-caratismo que já vem de longa data.
    E criticar por criticar,todos tem o direito,não se trata de fazer jornalismo imparcial (coisa que acho complicado) mas se posicionar em defesa da maioria e não de Instituições e Empreendedores que se julgam, esses sim, “Donos do mundo e da verdade”.É o capital que dita o que é a verdade,atendendo as conveniências de quem patrocina publicações como a Veja,que parece ser a cartilha de quem poderia muito bem estar se queixando no Site do grupo Abril.

  4. Francisco ivhanildo disse:

    Tendenciosa sim , porque citaram exatamente uma gigante do ramo .Não estou defendendo a empresa em si, mas sim a ênfase que a crítica faz a Apple.

  5. fdarela disse:

    Sabe mesmo do que eu chama essa matéria??? inveja, pobreza de espírito…No mínimo… Isso faz pensar, conheço tantas pessoas, que nunca fumaram e tiveram câncer, conheço outras que nunca beberam e tiveram cirrose, ou grandes complicações no fígado, e também conheço pessoas que nunca trabalharam com tecnologia, em empresas produtoras como a citada acima que também tiveram câncer entre outras doenças… Câncer maior é a inveja de pessoas que se dispõe a difamar sem saber o que estão falando… santa ignorância.. Na verdade este Blog, assim como outros como Carta capital, etc…. só sabem fazer isso, acusar empresas, acusar a mídia, no entanto eles não lembram que eles próprio são também mídia e assim como acusam sem saber, serão sempre acusados.. Lembrem-se vocês não são DONOS DAS VERDADES …. no máximo, podem ter opiniões divergentes, mas não são donos da verdade, não são conhecedores da realidade total dos fatos, só dos fatos vistos através das suas opiniões e ideologias, e isso meus caros está longe muito longe da verdade….

  6. Leo Mendes disse:

    A matéria é interessante, mas realmente derrapa ao não citar outras empresas que provavelmente utilizam os mesmos componentes. Outra questão estranha, a meu ver, é a petição pela melhoria do sistema de fabricação, que aponta para o site “Green AMERICA” e o texto da petição fala exclusivamente dos norte-americanos (reparem no texto “(…) part of Americans’ lives”) e não citam que o problema se manifesta em escala global.
    Será que não existe uma petição similar mas que fale dessa questão em âmbito mundial? Não achei (ainda) . . .

  7. Sandro disse:

    Tendenciosa nada. A Apple é somente usada como exemplo. Poderia ser LG, Samsung, qualquer outra. A prática é comum. Comuniza-se as mazelas e capitaliza-se somente o lucro.

  8. Muito bom o documentário.
    Não entendi o foco do artigo na Apple especificamente, parece-me um problema generalizado. Porém, já que assim foi escrito, não compreendo como o artigo pode deixar de citar https://www.apple.com/supplier-responsibility/. Os relatórios anuais de progresso da situação não passam de enganação? Ou os esforços atuais ainda estão muito aquém do necessário? E as demais grandes marcas, omitidas no artigo, tem transparência similar da situação das condições de trabalho providas por seus fornecedores?
    Enfim, deixo minhas indagações para que o autor possa explorar melhor o tema.

  9. Everton disse:

    Ué, mas pq a Apple faz isso justo na China e não nos países capitalistas opressores ? Sacanagem com o governo socialista/comunista deles pô! Socialismo funciona como defesa do bem estar social, vamos lá galera! Hahaha

  10. Agraciado disse:

    Tendenciosa la materia, pues Apple no es la única empresa que utiliza los servicios de las empresas chinas y ese tipo de componentes. Fuera de lugar adjudicar los problemas de salud, los cuales mas bien son responsabilidad directa del fabricante de componentes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *