Colômbia: os novos cenários, após o referendo

Na Colômbia, a vitória do “não” dificulta uma solução rápida e a votação apertada revela um país polarizado politicamente desde as guerras civis pós-independência

Por Fernanda Barbosa, no Calle2

Bogotá, 12/10: assim com em 12 outras cidades, dezenas de milhares de colombianos marcham vestidos de branco, por uma solução política que preserve a paz entre governo e FARC

Bogotá, 12/10: assim como em 12 outras cidades, dezenas de milhares marcham vestidos de branco, por uma solução política que preserve a paz entre governo e FARC

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Derrota do acordo de paz nas urnas dificulta solução rápida. Votação apertada revela país polarizado politicamente desde as guerras civis pós-independência

Por Fernanda Barbosa, no Calle2

Como em um bom filme, o roteiro parecia preparado. Depois de cinquenta anos de guerra na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos e o líder das Farc Rodrigo Londoño, conhecido como Timoleón Jiménez ou Timochenko, assinaram o esperado acordo de paz no último dia 26, em Cartagena, sob os olhos da comunidade internacional e da ONU. Parecia que a Colômbia se erguia como um bastião televisionado da paz, que daria ao presidente Santos até o prêmio Nobel, anunciado hoje na Noruega.

Mas, contra todos os prognósticos, os colombianos rejeitaram a quarta tentativa de acordo com as Farc, surpreenderam e votaram pelo não no plebiscito do dia 2 de outubro, com uma margem apertada de vitória, de 50,21% contra 49,78% dos votos, e com uma alta abstenção. E agora? Como fica o fim desse filme? Por enquanto, o acordo fica suspenso: não se estabelecem todos os termos de suas 297 páginas, nem se rompem completamente. O cessar-fogo bilateral se mantém pelo menos até o fim deste mês, mas reina a incerteza sobre as cenas dos próximos capítulos.

A surpresa com o resultado do plebiscito do último domingo foi generalizada. Nem mesmo o único partido apoiador do “Não”, o Centro Democrático, do senador e ex-presidente Álvaro Uribe Vélez, sabia bem o que dizer. Ao final do dia de votações, Uribe fez um discurso de cinco minutos, pedindo paz e um pacto nacional. O presidente Santos também falou em união entre apoiadores do Sim e do Não, e Timochenko já havia sido o primeiro em dizer que o diálogo seguia. Mas há consenso possível entre essas três forças e as vítimas do conflito, depois do naufrágio de uma negociação de quatro anos?

As principais discordâncias de Uribe e dos apoiadores do “No” são a participação política e a Justiça de transição para os líderes das Farc. Ou seja, que o secretariado da guerrilha possa se candidatar a eleições e participar de um processo de julgamento especial para os crimes que cometeu nas últimas décadas, trocando um rebaixamento de pena por contar a verdade sobre os acontecimentos.

Diferentes possíveis cenários se formam para os próximos meses na Colômbia, e nenhum deles aponta para uma solução rápida. O governo e a oposição já iniciaram uma aproximação, mas não se sabe até onde cada ator está disposto a ceder.

O ponto mais sensível do novo pacto deve ser a Justiça, de acordo com Juan Carlos Chaparro, professor de Ciências Políticas da Universidad Nacional de Colombia. O secretariado das Farc pode até renunciar a cotas de participação política, mas não deverá aceitar ser o único culpado por uma guerra de 50 anos, nem ser tratado como um grupo de criminosos comuns. Chaparro afirmou ainda acreditar que o Centro Democrático irá estender as negociações até pelo menos meados de 2017, quando se costumam lançar as candidaturas para as eleições do ano seguinte, com a intenção de capitalizar politicamente o seu protagonismo nos rumos da guerra, sejam eles quais forem.

Leia o texto na integra na revista Calle2

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