Assim os bilionários sonegam — e o Estado ajuda

Incrível: depois de subtrair, da Previdência, R$ 25 bi em impostos, banco Itaú participou, na Receita Federal, do “julgamento” em que a operação foi considerada regular…

Por Paulo Kliass, Carta Maior

 

Roberto Setúbal (Itaú, à esq.) e Pedro Moreira Sales (Unibanco, incorporado ao primeiro), em rara aparição midiática de banqueiros no Brasil

Roberto Setúbal (Itaú, à esq.) e Pedro Moreira Sales (Unibanco) celebram a fusão de seus bancos. País jamais recebeu os R$ 25 bi de que seriam gerados na operação

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Incrível: depois de subtrair, da Previdência, R$ 25 bi em impostos, banco Itaú participou, na Receita Federal, do “julgamento” em que a operação foi considerada regular…

Por Paulo Kliass, Carta Maior

A seletividade e a parcialidade com que os grandes meios de comunicação tratam as decisões de política econômica em nossas terras são impressionantes. Apesar de já estarmos habituados a essa forma peculiar de (des)tratar a realidade do dinheiro e dos negócios, a cada nova semana parece que as “famiglie” da grande imprensa tentam se esmerar ainda mais nessa busca incansável pelo absurdo.

No mesmo dia em que enchem as telas e páginas com informações privilegiadamente vazadas de forma criminosa pelo Ministério Público e pelo Judiciário  a respeito da delação premiada de Marcelo Odebrecht, os oligopólios dos jornais e televisão se esquecem de noticiar um escândalo de R$ 25 bilhões na esfera do Ministério da Fazenda. No mesmo dia em que, mais uma vez, entulham os leitores com as ameaças lançadas por Meirelles e Temer a respeito de uma suposta catástrofe nacional caso a Reforma Previdência não venha a ser aprovada, as empresas de Marinho, Civita, Frias, Mesquita i altri não mencionam uma peculiar decisão do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF).

Grande sonegação e impunidade

Em nosso caso concreto, trata-se de um escândalo de R$ 25 bilhões. Um escãndalo que deveria ser até mesmo motivo para derrubar qualquer governo ou ministro em um país em que a impunidade aos donos do poder não fosse tão escancarada como por aqui. Estamos diante de um valor enorme, que muito contribuiria para aliviar um pouco a crise fiscal que o governo alardeia com traços de apocalipse. Uma decisão de um órgão vinculado ao Ministério da Fazenda e que atinge diretamente figuras do primeiro escalão do governo Temer.

Em termos gerais, o CARF trata de recursos impetrados por empresas contra decisões do governo em matéria de tributação. Em tese, trata-se de uma instituição importante, pois permitiria espaço para que contribuintes (indivíduos e empresas) pudessem questionar a legalidade dos impostos e similares deles exigidos pelo Estado. Na verdade, os primeiros conselhos do imposto de renda foram criados ainda na década de 20 do século passado. Houve uma longa evolução desse tipo de órgão na administração federal e o atual desenho remonta a uma Medida Provisória de 2008 e que foi convertida na Lei  11.941 de 2009.

Ocorre que o funcionamento do colegiado sempre foi uma verdadeira caixa preta. Apenas os grandes grupos econômicos logram acesso aos seus corredores e instâncias deliberativas. Os conselheiros e os processos se dividem em seções, turmas e câmaras. Ao que tudo indica, sua importância estratégica é quase tão grande quanto a falta de luz e oxigênio em seu cotidiano. Há um sem número de denúncias envolvendo a compra de decisões e pareceres de processos tributários. Em um dos casos mais recentes, a Operação “Quatro Mãos” da Polícia Federal prendeu um conselheiro do CARF, supostamente por cobrar propina para que oferecesse parecer favorável na condição de relator de um processo naquele conselho.

Itaú & CARF: promiscuidade total

 

Com o afastamento do encarregado pelo parecer, houve uma substituição na tramitação do dossiê. Trata-se de um processo movido por prática de sonegação tributária de R$ 25 bilhões que teria sido praticada pelo Banco Itaú. Quando de sua fusão com o Unibanco ocorrida em 2008, os especialistas em “planejamento tributário” ofereceram à direção do grupo a janela do crime contra a tributação e deixaram de recolher tributos devidos de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

O novo relator do caso Itaú veio a ser o conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado. Pasmem, mas ele atua no colegiado como representante indicado pela Confederação Nacional das Instituições Financeiras. Profissional com larga folha de serviços prestados a diversas instituições do sistema financeiro privado, não chega a espantar a natureza de sua posição. Ele defendeu a ilegalidade da cobrança dos tributos, óbvio. E na reunião do dia 10 de abril último, quando finalmente o relatório foi a voto na sua turma de atuação, sua opinião foi vencedora e a sonegação tributária do banco foi travestida de ares de legalidade. A matéria será objeto de recurso e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional vai acionar a instância superior para questionar a decisão.

Ora, é amplamente sabido que o Presidente do Banco Central foi nomeado por Temer para o cargo exatamente por ser diretor do Banco Itaú. O governo se vangloriava por ter um legítimo representante da banca privada no comando da economia. O conflito de interesses é mais do que explícito. Um dos tributos bilionários sonegados pela negociata da fusão com o Unibanco vem a ser justamente um dos pilares da receita da seguridade social – orçamento que inclui a previdência social, a saúde e a assistência social. A sonegação bilionária de recursos para a CSLL compromete a receita do sistema que comporta também o Regime Geral da Previdência Social (RGPS). Mas a visão do Ministro da Fazenda Henrique Meirelles talvez seja distinta. Muito provavelmente por ter ocupado durante décadas seu tempo a defender os interesses dos bancos privados, ele também deve estar de acordo com o voto do Relator.

Diante de tamanho escândalo econômico, político, fiscal e financeiro, o governo Temer faz cara de paisagem, desconversa e escapa pela tangente. E segue em sua labuta incansável pelo desmonte do Estado brasileiro. Insiste na tecla que os principais responsáveis pelo “rombo” da previdência são os privilegiados que recebem a fortuna de um salário mínimo todos os meses. Já esses R$ 25 bilhões surrupiados pelo Itaú aos cofres públicos, bem, isso deve ser matéria por demasiado complexa e que só pode ser bem compreendida e debatida pelos especialistas técnicos em tributação. Por fim, os meios de sonegação vêm oferecer sua singela colaboração ao assunto e cumprem seu papel – ora por esquecimento, ora por introduzir ainda mais confusão na cabeça das pessoas comuns.

* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.

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2 comentários para "Assim os bilionários sonegam — e o Estado ajuda"

  1. NÃO SOU PETISTA E NUNCA TIVE QUALQUER VINCULO A PARTIDOS POLÍTICOS, MAS:
    Com Lula e Dilma não haveria a reforma absurda da previdência, não haveria terceirização irrestrita (Lula já havia mandado arquivar), não haveria repasse de bilhões para mídia de massa, não haveria essa “promiscuidade” com direitos da CLT garantidos e conquistados com suor e sangue, não haveria perdão dos maiores devedores da previdência e da receita federal, como o caso da OI, Itaú-Unibanco, Friboi… o Pré-sal e a Petrobras nunca seriam “doadas” para as grandes corporações petrolíferas Americana, não teriam entregue aeroportos para nações estrangeiras, não dariam previlegio para estrangeiros comprar nossas terras, nenhum programa social seria cancelado ou prejudicado, os melhores médicos do mundo (Cubanos-isso é real, pesquise) nunca seriam enviados de volta ao seu país, a indústria naval continuaria ativa e gerando empregos, nunca permitiriam que a fome voltasse a assombrar, PRINCIPALMENTE o Norte e Nordeste do país e, muito menos, permitir que crianças percam a vida por inanição… … O que mais???
    Isso é o que lembrei nesse momento, o tempo é curto.
    haaaaaaaa -o único partido que todos deputados e senadores votaram contra a retirada do símbolo “T” de transgênicos – alimentos geneticamente modificados, contra a reforma da previdência, contra o impeachment da Dilma, contra a PEC 241 e 55… todos são deputados e senadores do PT, todos votaram contra FIESP, MONSANTO, BANQUEIROS, CORPORAÇÕES AMERICANAS…
    Meus objetivos nunca tiveram e nada tem haver com carreira política ou semelhante, porém levando para o lado da suposição, por favor, me digam:
    SE EU FOSSE ME VINCULAR A ALGUM PARTIDO OU MESMO ME CANDIDATAR A ALGUM CARGO PÚBLICO, QUAL PARTIDO VOCÊ ACHA QUE EU ESCOLHERIA?
    p.s. trabalhei como bancário por mais de 20 anos para esses dois BANQUEIROS CANALHAS, inclusive a família Moreira Salles (Unibanco) também enriqueceu com a exploração ilegal do nióbio, minério mais valioso do mundo que só se encontra no BraZil e particularmente no estado de MG. Ambos são pessoas… digamos… sujas, inescrupulosos, e são esses que os golpistas estão ajudando.
    Mas atenção, (deixo aqui claro que em nenhum momento julguei ou desprezei Pedro Moreira Salles pela sua terrível e cruel doença), ele é um ser humano, nesse aspecto merece todo meu respeito e compaixão, mas como profissional, ASSIM COMO QUALQUER OUTRO BANQUEIRO, são canalhas, psicopatas e usurpadores malditos!!!
    E aí, a ficha caiu?
    Talvez lhe falte uma dose de humildade para assumir que se deixou levar pela lavagem cerebral, e serviu como massa de manobra. Precisamos unir forças para derrubar os GOLPISTAS E OS VERDADEIROS CORRUPTOS DA NAÇÃO, E RETOMAR O CAMINHO DA DEMOCRACIA!
    PENSEM NISSO!
    GRATIDÃO
    Ed

  2. Gilda Braga disse:

    Excelente Paulo Klias conheço seu trabalho. Fostes um excelente Secretário se Previdência complementar do MP.

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