A China e sua guerra cultural

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Governo lança ofensiva contra presença cultural norte-americana, reforça censura na internet e toma medidas para difundir língua e valores chineses pelo mundo 

Em Opinião e Notícia

O presidente chinês Hu Jintao afirmou que o Ocidente está tentando dominar a China espalhando sua cultura e ideologia, e que os chineses devem reforçar sua produção cultural para se defender deste ataque, segundo um ensaio publicado recentemente na revista do Partido Comunista. As palavras de Hu são o sinal de que uma grande política nacional, anunciada em outubro do ano passado, será mantida em 2012.

O ensaio, assinado por Hu e baseado em um discurso de outubro, traçou uma diferença clara entre as culturas do Ocidente e da China, e afirmou que ambos os lados estão envolvidos numa crescente guerra cultural. Suas palavras foram publicadas na Buscando a Verdade, uma revista fundada por Mao Tsé-Tung como uma plataforma para a criação dos princípios do Partido Comunista.

“Devemos enxergar claramente que forças hostis internacionais estão intensificando o plano estratégico de ocidentalização e divisão da China, e campos ideológicos e culturais são o foco de sua infiltração a longo prazo”, afirmou Hu, de acordo com uma tradução da Reuters. “Devemos compreender profundamente a seriedade e a complexidade da luta ideológica, manter os alarmes soando, permanecer vigilantes e tomar as medidas necessárias para estarmos preparados e responder à altura”, completou o presidente.

Estas medidas, disse Hu, devem se concentrar no desenvolvimento de produtos culturais que possam atrair o interesse do povo chinês, e saciar “o crescimento espiritual e as demandas culturais da população”.

Líderes chineses se lamentam há muito tempo de que as expressões ocidentais de arte e cultura popular sempre parecem superar as chinesas. Os filmes mais vistos na China foram Avatar e Transformers 3, e as canções de Lady Gaga são tão populares no país quanto as de qualquer cantor pop chinês. Em outubro, no encontro anual do Comitê Central do Partido, no qual Hu fez seu discurso, os membros do governo discutiram a necessidade de impulsionar a “segurança cultural” da China.

“A força da cultura chinesa e sua influência internacional não é compatível com o status internacional da China”, afirmou Hu em seu ensaio, de acordo com outra tradução. “A cultura internacional do Ocidente é forte, enquanto nós somos fracos”, completou.

O presidente não comentou a opinião dos artistas e intelectuais chineses de que a censura estatal é o que evita que artistas e suas obras atinjam todo seu potencial. Recentemente, Han Han, um romancista e o blogueiro mais famoso da China, discutiu o tema num ensaio online chamado Sobre a Liberdade.

“As restrições sobre as atividades culturais tornam impossível para a China exercer qualquer influência sobre a literatura e o cinema globais, ou para que nós ergamos nossas cabeças com orgulho”, escreveu Han Han.

A publicação do ensaio de Hu, e de outros artigos na Buscando a Verdade sobre impulsos para o poder cultural da China mostram que esta será uma iniciativa central em 2012, um ano de transição para a liderança política chinesa, já que sete dos nove membros mais graduados do Partido abandonarão seus postos no Politburo. Hu parece disposto a garantir que a direção cultural seja o momento definitivo de sua década à frente da presidência chinesa.

O encontro do Comitê Central em outubro estabeleceu os alicerces ideológicos para o fortalecimento de uma esfera cultural que só agora começa a se revelar. Logo após o evento, o governo anunciou uma medida para retirar programas de entretenimento da TV, o que obrigou as emissoras a criar novos programas considerados “socialmente responsáveis” pelos censores.

No mês passado, membros do governo em Pequim e outras cidades obrigaram as companhias de internet a garantir que pessoas escrevendo em blogs registrassem suas contas usando seus nomes verdadeiros. A pressão pela autocensura nas plataformas fez com que o interesse dos internautas pelos blogs diminuísse.

Ao mesmo tempo, a China vem se esforçando para aumentar sua influência cultural no exterior ou seu “poder suave”. O governo abriu filiais do Instituto Confúcio em todo o mundo para divulgar o aprendizado da língua chinesa. O Estado também está levando – em operações milionárias – suas agências de notícias, como a Xinhua, para várias cidades do planeta. Membros dessas organizações dizem esperar que suas versões para os acontecimentos mundiais se tornem tão populares quanto as dos veículos de mídia ocidentais.

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