No ar, o Blog da Redação

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Proposta: relatar e debater, com base numa nova imprensa independente, fatos e pontos de vista esquecidos pela mídia tradicional

Desenho gráfico e domínio ainda são provisórios; e incomodam alguns menus em inglês. Mas é uma satisfação apresentar, em caráter experimental, mais um elemento importante do Caderno Brasil do Le Monde Diplomatique: o Blog da Redação. Complementar às traduções do original francês e aos textos dos redatores e colaboradores brasileiros (que estrearão nas próximas semanas), o novo espaço tem dois objetivos essenciais. Chamará atenção para a possibilidade de ver os fatos nacionais e internacionais com base em relatos alternativos aos da mídia tradicional. E buscará envolver os leitores no acompanhamento dessas coberturas.

Em paralelo à crise do neoliberalismo, despontaram, nos últimos anos, duas tendências promissoras. Multiplicaram-se as organizações e movimentos que procuram construir, desde já, novos valores e lógicas sociais. O êxito, a diversidade e a capacidade de atração dos Fóruns Sociais são um dos sinais dessa efervescência. Mas espalharam-se, ao mesmo tempo, iniciativas de comunicação que procuram enxergar o mundo além da superficialidade dos jornais e TVs. O surgimento da internet é, obviamente, uma das causas do fenômeno. Mas ele só existe porque está nascendo uma nova cultura política, que reage à crise da democracia representativa não com o conformismo — mas com a multiplicação de ações autônomas por um outro mundo possível.

A comunicação transformadora está em todo canto. A antiga imprensa independente — que tem se qualificado em todo o mundo e no Brasil — tornou-se, felizmente, apenas parte do universo. As iniciativas são às vezes articuladas por organizações com longa trajetória, interessadas em tornar cada vez mais conhecidas as causas por que lutam. Em sites como os Greenpeace (global, Brasil), do IDEC brasileiro ou da rede Jubileu Sul é possível comprender temas como o aquecimento global, os direitos do consumidor ou a busca de alternativas ao atual sistema financeiro de maneira muito mais profunda que na antes chamada “grande” imprensa. Em outras situações, a própria possibilidade de difundir um tema ajuda a criar um movimento novo. Esse parece ser o caso do inovador Direito à Comunicação, que aprofundou parte do trabalho antes realizado pelo Coletivo Intervozes. Por fim, há a galáxia dos blogs. Onde é mais provável encontrar debate qualificado sobre projetos para o Brasil: nas páginas de Política e Economia dos jornais ou no Projeto Brasil, de Luís Nassif?

Do caos criativo a espaços de debate: Um dos problemas mais instigantes para um jornalismo em sintonia com a nova tendência é: como construir, a partir do imenso volume de informações disponíveis na internet, espaços de debate. Muitas vezes, informação e análises disponíveis na rede estão redigidos em linguagem de especialistas, em outros idiomas, ou apoiando-se em referências (fatos, personagens, locais) pouco conhecidos de um público mais amplo. Faz falta um trabalho que o sociólogo português Boaventura Santos Souza gosta de qualificar como tradução política.

O Blog da Redação vai procurar, modestamente, participar da solução desse desafio. Ao longo dos últimos anos, a edição eletrônica Le Monde Diplomatique Brasil recolheu e examinou um amplo acervo de fontes da nova comunicação transformadora. São cerca de 500 sites, blogs e listas de informação. Nossa aposta é: com base no material fornecido por essas fontes, já é possível produzir um conteúdo útil a quem procura enxergar, em profundidade, a realidade do mundo e do país — e caminhos para transformá-la.

O blog não pretende substituir a leitura dos jornais diários, nem a de seus cadernos internacionais. É provável que as novas mídias possam fazê-lo, no futuro, mas será preciso contar com vastas redes de colaboradores, equipes de redação nutridas e soluções editoriais que serão construídas ao longo do tempo e por muitas cabeças. Nossa ambição, muito mais limitada, é mostrar a possibilidade de pesquisar e construir, desde já, novas visões de mundo. Nesse sentido, o blog será um pouco menos pessoal que a maioria, e terá certa queda para a reportagem. Marca própria: ao final de cada postagem haverá sempre explicitação das fontes em que se baseou nossa apuração. A idéia é compartilhar com os leitores tanto nosso acervo quanto o prazer de pesquisá-lo.

Um projeto em construção: As matérias publicadas abaixo são um primeiro teste. As quatro primeiras postagens compõem, juntas, uma análise sobre os impasses na Bolívia, cuja Assembléia Constituinte está paralisada há quase um mês, e deverá prosseguir assim por mais 30 dias. Seguem-se textos sobre a polêmica em torno dos biocombustíveis; o caráter de dumping da “ajuda” alimentar oferecida pelos Estados Unidos a nações do Sul; e a próxima conferência da ONU sobre aquecimento global, que tem como meta buscar metas mais ambiciosas para redução das emissões de CO2, após o fim do Protocolo de Kioto, que expira em 2012. Uma nota de agenda fecha a primeira fornada.

O blog é aberto à participação dos leitores. Para postar, usa-se o último link ao final de cada texto. Os comentários serão muito bem-vindos, porém moderados. São banidos spams, ataques pessoais, egocentrismos exagerados e violações de princípios éticos. Sobre esses, nossa referência é a Carta do Fórum Social Mundial. Além de comentar postagens da redação, os leitores poderão, em breve, sugerir livremente temas e pautas num Mural, renovado todos os dias e moderado segundo os princípios acima.

Desenho gráfico, ferramentas de alimentação do blog (no momento, estamos testando uma visão do WordPress, que pode permitir, mais adiante, criar diversos blogs ligados ao domínio www.diplo.org.br) quanto a definição detalhada do projeto editorial estão em aberto. Será um prazer construí-los com a sua participação.

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