Brasil: a "democracia" que o dinheiro pode comprar

Com uma das eleições mais caras do mundo, Brasil abre as portas não apenas para corrupção, mas também para produzir deficiência de representação

Por Vinícius Mendes, no Calle2

 

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Em 2002, custo de um voto individual no Brasil era de 0,63. Em 2010, aumentou para R$ 9,68 – acréscimo de 1.436% em um período de oito anos

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Como nossas eleições tornaram-se as mais caras do mundo. Por que seu preço absurdo põe “representantes” nas mãos das empresas. Primeira matéria de série sobre a Reforma Política

Por Vinícius Mendes, no Calle2

No final da tarde de 24 de junho de 2013, uma Dilma Rousseff preocupada e ansiosa anunciava, rodeada de ministros, governadores e congressistas, que enviaria ao parlamento um pacote de medidas que previam combater a corrupção e a impunidade na política brasileira. A principal delas era a criminalização da prática de caixa-dois em campanhas eleitorais.

Quatro dias antes, cerca de um milhão de pessoas haviam ocupado as ruas nas principais capitais do país para protestar contra problemas estruturais, como a má qualidade dos serviços públicos, a pesada carga de impostos e, principalmente, a corrupção crônica do segmento político.

Nem Dilma, nem os congressistas, nem a imensa maioria dos brasileiros imaginava que, dez meses depois, uma pequena operação da Polícia Federal em um posto de gasolina de Brasília se transformaria em uma investigação grandiosa, complexa e polêmica envolvendo políticos, empresários, doleiros e lobistas. Que essa ação policial instauraria quase 1.300 processos, realizaria 600 operações de busca e apreensão, 161 conduções coercitivas e prenderia 160 pessoas supostamente envolvidas na corrupção endêmica proveniente, principalmente, da maneira como se financia campanhas eleitorais no Brasil — que estão entre as mais caras do mundo.

As propostas apresentadas por Dilma foram enviadas ao Congresso em março de 2014. Estão engavetadas até hoje.

As campanhas dos candidatos nas eleições gerais de 2014, quando o país escolheu deputados federais, senadores, governadores e a presidente da República, custaram aproximadamente R$ 5,1 bilhões, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) – um aumento em 59% sobre o valor das eleições de 2010, que custaram R$ 3,23 bilhões.

Em 2002, segundo a organização Transparency Internacional, o custo de um voto individual no Brasil era de R$ 0,63. Em 2010, a escolha de cada eleitor aumentou para R$ 9,68 – acréscimo de 1.436% em um período de oito anos.

Dilma Rousseff participa de caminhada em Curitiba, em 2014, na campanha mais cara desde a redemocratização (R$ 318 milhões)

Os dados mais assustadores sobre o custo da campanha eleitoral brasileira, porém, são do estudo do brasilianista David Samuels, professor de Ciência Política da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Publicado em 2006, seu trabalho mostra que o sufrágio brasileiro é o mais caro do mundo comparando-o com o de seu país – que é mais populoso e mais desenvolvido economicamente. Em 1994, a eleição para deputados, senadores, governadores e presidente custou US$ 3,5 bilhões – 16% a mais do que o valor gasto nas eleições estadunidenses para todos os cargos federais e que levaram Bill Clinton à Casa Branca.

“Os marqueteiros adquiriram uma importância fundamental e eles recebem muito por isso. Houve uma profissionalização do marketing político: surgiram institutos e consultorias que prestam serviço aos candidatos indicando estratégias para atingir e se vender aos eleitores. Antes, as eleições eram mais dependentes da militância dos partidos, agora não mais”, avalia Glauco Peres, professor do Departamento de Ciência Política da USP, referindo-se ao aumento significativo dos custos das campanhas eleitorais brasileiras nos últimos anos.

Leia o texto na integra na revista Calle2

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