Obama: de costas para o novo?

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214 200x300 Promessas quebradas são obstáculo para reeleição de ObamaPreocupado em aproximar-se do centro conservador, presidente pode estar se distanciando dos grupos sociais e étnicos que mais crescem – e mais cobram mudanças. Por Kania D’almeida, da IPS

Washington, Estados Unidos, 11/4/2011 – Para ser reeleito, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, terá como principais obstáculos suas próprias promessas não cumpridas feitas às minorias, cujo apoio foi fundamental para sua vitória em 2008. Obama acaba de anunciar, pelo site de vídeos Youtube, sua intenção de disputar novo mandato em 2012. Após a divulgação dos resultados do Censo 2010, comentaristas políticos de todas as cores disseram que o presidente está à beira de uma fronteira irregular.

“Em 1º de abril de 2010, a população norte-americana era de 308,7 milhões de habitantes, 27,3 milhões (9,7%) a mais do que no Censo de 2000”, disse à imprensa Marc Perry, chefe de distribuição populacional do Escritório de Censos. Após o que a revista National Journal qualificou de “Novo Estados Unidos”, constata-se uma simultânea explosão populacional das minorias de origem asiática e latino-americana, acompanhada de uma firme redução do que o Censo define como “brancos não hispanos”.

Isso poderia parecer beneficiar Obama, cuja margem de 8,5 milhões de votos a favor sobre seu rival republicano, John McCain, em 2008, foi obtida graças a um aumento de 20% nos votos das minorias. Uma análise da iniciativa sem fins lucrativos Project Vote estimou que em 2008 o número de eleitores das minorias cresceu cerca de 5,8 milhões com relação a 2004, enquanto 1,2 milhão a menos de brancos foram às urnas. Dos 27,3 milhões de pessoas que se juntaram à população norte-americana na última década, mais da metade é de hispanos e outra grande parte de origem asiática. Apenas 2,3 milhões são considerados “brancos”.

Outro fator importante é o padrão imigratório dentro do próprio território norte-americano. “A grande notícia para os políticos este ano é a dispersão dos hispanos para regiões do país onde antes não estavam presentes em grande número”, destacou o demógrafo William Frey, do Brookings Institute. Ele acrescentou que a população afrodescendente também evidenciou um gradual mas consistente padrão de reassentamento desde a década de 1990, mostrando um pronunciado “regresso ao Sul”. Crescentes metrópoles do Sul, como Atlanta, Dallas, Houston e Raleigh,  presenciaram o surgimento de uma classe média negra.

Frey destacou em entrevista, no dia 5, que a expansão das minorias é responsável pelo aumento populacional em 33 Estados, incluindo Flórida, Texas e Califórnia. Arizona e Geórgia também assistiram um aumento das minorias, bem como Utah, Minnesota, Idaho e inclusive Dakota do Sul. Este é o tipo de matemática que agrada David Axelord, provável estrategista de campanha de Obama para 2012.

“Uma de nossas fortalezas durante a campanha de 2008 foi que havia um amplo campo de batalha”, disse em entrevista ao National Journal na semana passada. “O que estes números sugerem é que essas mesmas oportunidades estarão presentes em 2012”, acrescentou. Além destes números favoráveis, o governante Partido Democrata deveria acrescentar aos cálculos as promessas que não cumpriu em setores importantes, como a classe trabalhadora negra e as comunidades de imigrantes, que constituem uma grande porcentagem da força de trabalho.

Neste momento político importante, não faltam as lutas trabalhistas e de imigrantes diante das drásticas reduções orçamentárias e severas leis contra a entrada de ilegais em todo o país. O protesto dos trabalhadores públicos no Estado de Wisconsin contra uma lei antissindical aprovada pelo governador é o que atrairá mais a atenção da mídia, e não será a única.

No aniversário da morte do histórico líder pelos direitos civis Martin Luther King Jr., várias centenas de trabalhadores,  fundamentalmente afrodescendentes, paralisaram os portos de Oakland e São Francisco, no dia 4, em protesto por medidas antissindicais em todo o país. Duas semanas antes, mais de cinco mil trabalhadores fizeram uma marcha por Wall Street, em Nova York, exigindo o fim das reduções no orçamento e das isenções de impostos para os mais ricos, que constituem 1% da população.

No dia 5, o Condado de Hidalgo, no Texas, deu os primeiros passos em um processo contra o governo federal por violar um protocolo ao se negar a enviar formulários do censo a 95% dos residentes em moradias instaladas na fronteira com o México. Segundo o New American Media, cerca de 300 mil pessoas que vivem na fronteira foram ignoradas pelo censo, o que implicaria perda de US$ 1 bilhão para os cofres do Estado. Isso faz supor uma continuação da velha política que priva de serviços públicos os que mais precisam deles.

Por outro lado, o congressista Luis Gutiérrez, do governante Partido Democrata, deu o alerta sobre o fracasso de Obama no cumprimento de suas promessas sobre reformas migratórias. Segundo Gutiérrez, no primeiro ano de governo de Obama foram deportados mais de 400 mil trabalhadores imigrantes e jovens sem documentos legais nascidos nos Estados Unidos, mais do que em qualquer período de governo de qualquer presidente anterior. Trata-se de uma flagrante violação das promessas que fez durante sua campanha.

“Aos dois partidos interessa apenas tomar medidas retrogradas e punitivas, como deportação maciça de trabalhadores inocentes e gastar o dinheiro dos contribuintes para militarizar a fronteira e enriquecer as empresas de prisões privadas”, disse à IPS o diretor-executivo da organização de trabalhadores Brandworkers International, Daniel Gross. “O sistema neste país está construído para manter uma subclasse de trabalhadores cujo único crime é ter nascido em países destroçados por empresas multinacionais e seus agentes no governo”, acrescentou.

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