Uma história de conflito de interesses

Um instituto de pesquisa dos EUA retirou seu financiamento do maior estudo sobre o consumo de álcool jamais realizado

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O NIH, que reúne institutos nacionais de saúde e é vinculado ao governo dos Estados Unidos, anunciou na sexta sua decisão de cancelar o financiamento do maior estudo sobre consumo de álcool jamais realizado. O motivo: conflito de interesses

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UMA HISTÓRIA DE CONFLITO DE INTERESSES

O NIH, que reúne institutos nacionais de saúde e é vinculado ao governo dos Estados Unidos, anunciou na sexta sua decisão de cancelar o financiamento do maior estudo sobre consumo de álcool jamais realizado. É que a pesquisa estava sendo considerada suspeita mesmo antes de começar pra valer. A fundação do NIH recorreu à indústria de bebidas para financiá-la.

A ideia era acompanhar pessoas que bebem uma vez por dia com as abstinentes para descobrir se afirmações como “uma taça de vinho no jantar faz bem” são verdadeiras ou não. Pela primeira vez, isso seria feito em grande escala: a ideia era testar sete mil pessoas escolhidas aleatoriamente em quatro continentes do planeta. E com elas consumindo as bebidas de sua escolha por seis anos seguidos (estudos anteriores, bem menores, encontraram dificuldades no engajamento do público por obrigarem as pessoas a beber o que não queriam, tipo compostos alcóolicos preparados pelos cientistas). Cinco empresas, entre elas as multinacionais InBev e Heineken, toparam doar as bebidas, poupando ao estudo um custo de US$ 67 milhões. Com isso, se tornaram as maiores financiadoras da pesquisa que custava US$ 100 milhões.

Mas a participação das empresas nem sempre foi informada pelo instituto que coordena o estudo, o NIAAA, aos seus parceiros ao redor do mundo. E o pesquisador-chefe e professor de Harvard Kenneth Mukamal negou para repórteres da Wired e do New York Times ano passado que soubesse desse financiamento – mas eis que um pesquisador da África do Sul tornou públicauma troca de e-mails com Mukamal de dois anos atrás em que justifica sua recusa em participar do estudo por conta do conflito de interesses. Outras trocas de e-mail vazaram, mostrando que Mukamal chegou a discutir a metodologia da pesquisa com a InBev e a Diageo.

Por fim, um vídeo mostrou diretores do NIH fazendo propaganda para um projeto da InBev durante uma reunião da empresa. A repercussão de tudo isso foi enorme na comunidade científica. E isso fez com que o NIH abrisse a investigação que levou à decisão de cancelar o estudo. Mas a instituição vai levar muito tempo para recuperar sua imagem, dizem pesquisadores.

NO BRASIL…

“Explicamos que o SUS é gratuito, porque muita gente acha que precisa pagar. Também falamos onde dá para tirar os documentos, onde tem posto da Polícia Federal, escola, hospital”. A explicação é de Jorge Lopez, boliviano que trabalha como agente comunitário de saúde em São Paulo. Ele foi ouvido pela BBC Brasil que conta histórias de imigrantes que trabalham no serviço público na capital paulista. E está lotado numa unidade básica de saúde do Bom Retiro onde 40% dos usuários cadastrados também são estrangeiros. O bairro é conhecido pela concentração de confecções que empregam imigrantes, principalmente bolivianos (e, não raro, são denunciadas por trabalho análogo à escravidão). “Os brasileiros visitavam as casas e as pessoas abriam só uma frestinha da porta”, conta outra entrevistada da matéria, a boliviana Jeanneth Orozco. Na mesma unidade, há ainda uma médica boliviana que conseguiu revalidar seu diploma (e a matéria aborda que esta é uma barreira importante para imigrantes vivendo por aqui).

… JÁ NA ESPANHA

O direito à saúde gratuita para imigrantes sem documentos havia sido revogado em 2012, quando o governo de centro-direita restringiu, por decreto, o acesso aos serviços, afetando cerca de 150 mil pessoas. O novo presidente Pedro Sánchez anunciou na sexta que vai rever isso. E deu um prazo de seis semanas para que o direito seja restituído.

MAIS DINHEIRO 

O governo britânico vai aumentar em £ 20 bilhões o financiamento anual do NHS, o sistema nacional de saúde. São quase R$ 100 bilhões, na cotação da libra hoje. O plano é de médio prazo, e deve começar a valer a partir de 2023. A maior parte dos recursos virão do aumento dos impostos. E, talvez, uma parte menor venha do dinheiro que o país destina para a União Europeia (a saída do bloco está marcada para março do ano que vem). Embora um dos argumentos mais fortes da campanha pelo Brexit fosse exatamente colocar mais dinheiro no NHS (£ 350 milhões por semana), a economia britânica deve perder dinheiro sem os acordos comerciais da UE e ainda não está claro quanto. O ministro da Saúde, Jeremy Hunt, garantiu que os £ 20 bilhões virão com ou sem dinheiro do Brexit.

Enquanto isso, entidades independentes fazem as contas e uma delas alertaque o aumento pode não ser suficiente. O ideal seria aumentar a verba do sistema 4% acima da inflação todos os anos (o anúncio significa um aumento de 3,4%). Segundo pesquisa feita pela entidade, 82% dos britânicos aprovamaumento nos gastos públicos para financiar áreas sociais.

Os detalhes vão ser revelados no começo de julho, quando o NHS completa 70 anos. Por lá, o jornal The Guardian começou uma campanha: quer que os leitores enviem seu “muito obrigado” ao sistema de saúde, compartilhando suas histórias.

TRISTES NÚMEROS

Cresce o debate público sobre o suicídio. Coincidência ou não, este mês o CDC, agência dos Estados Unidos, lançou um relatório em que afirma que, por lá, a taxa aumentou nada menos do que 25% entre 1999 e 2016. Quase 45 mil pessoas cometeram suicídio em 2016; é uma saída buscada quatro vezes mais por homens do que por mulheres e, entre eles, os brancos têm as taxas mais altas – e elas vem subindo em comparação com homens de outras etnias. A Economist leu outros estudos e aponta que o aumento pode ser analisado do ponto de vista da perda de privilégios dos homens brancos no país. Desemprego, perda de poder aquisitivo e até aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, sugerem pesquisas, são variáveis que devem ser levadas em conta ao analisar o fenômeno.

Forbes listou as mais recentes estatísticas sobre o assunto ao redor do mundo. Eis uma que nos interessa: países pobres e em desenvolvimento detém 78% dos suicídios. Estima-se que 30% dessas mortes são causadas por autoenvenenamento pela ingestão de pesticidas e ocorrem no campo.

SEGUNDA ONDA

Artigo da pesquisadora Ligia Kerr publicado pela Abrasco aborda o crescimento de casos de infecção pelo HIV entre homens que fazem sexo com homens, fenômeno mundial que vem sendo chamado de “segunda onda da Aids” e está sendo confirmado no Brasil. Kerr compara os dois estudos nacionais, coordenados por ela em 2009 e 2016, para mostrar que a prevalência da infecção nessa população subiu de 12,1% para 18,4%, um número 46 vezes maior do que o verificado na população em geral. Segundo a pesquisadora, está faltando prevenção para esse público. E, embora hoje o quadro seja crítico, com o governo Temer cortando a zero em 2017 o financiamento de programas de combate à homofobia e as bancadas legislativas conservadoras barrando projetos, o país foi vítima do seu próprio sucesso, já que indicadores positivos eram comemorados pelo governo de maneira pouco crítica, o que fez com que as políticas de prevenção fossem perdendo a centralidade. Um dos desafios atuais, diz Kerr, é fazer campanhas voltadas para os jovens. O estudo de 2016 registra um crescimento de relações sem camisinha de 24% nesse público que não conviveu com a epidemia de Aids.

CAMPEÃS NACIONAIS

A Unicamp é a campeã do ranking de instituições brasileiras em número de pedidos de patentes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Foram 77 pedidos em 2017. Além dela, no top cinco estão: Universidade Federal de Campina Grande (70), Universidade Federal de Minas Gerais (69), Universidade Federal da Paraíba (66) e Universidade de São Paulo (53).

NÃO ERA

A OMS descartou pólio como causa da paralisia da criança de dois anos, moradora de uma comunidade indígena na região do Delta Amacuro, na Venezuela. A confirmação veio na sexta, através de testes.  A área, contudo, vem enfrentando lacunas na cobertura de vacinação, que precisa estar acima de 95%.

FIQUE DE OLHO

Mais tarde acontece o lançamento do relatório de Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas. Foram visitados simultaneamente 28 estabelecimentos, nas cinco regiões do país. Além da infraestrutura e da verificação de documentos, os mais de cem profissionais envolvidos no esforço entrevistaram usuários, trabalhadores e gestores dessas comunidades. Privação de liberdade, trabalho forçado e sem remuneração, violação à liberdade religiosa e à diversidade sexual, internação irregular de adolescentes e uso de castigos foram algumas das irregularidades encontradas. O projeto é resultado de uma parceria entre Ministério Público Federal, Conselho Federal de Psicologia e Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. O evento, que começa às 15h, terá transmissão ao vivo.

COFFEE SHOPS

O governo francês anunciou domingo que quer regulamentar e fiscalizar as lojas (conhecidas como coffee shops) que começaram a ser inauguradas no país depois que, em novembro passado, a lei passou a permitir a comercialização de produtos com taxa de THC menor do que 0,2%. Os franceses estão fazendo fila para comprar. Segundo a ministra da Saúde, Agnés Buzyn, essas lojas hoje estão em uma “zona cinzenta”.

RESULTADOS 

A reunião dos ministros de saúde do Mercosul rendeu algumas decisões. Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Brasil vão mudar a rotulagem dos alimentos, que terão um aviso frontal sobre a composição nutricional, chamando atenção para as quantidades de açúcar, sódio e gorduras. Além disso, fecharam três acordos de fortalecimento da vigilância epidemiológica e da cobertura vacinal para evitar a reintrodução de doenças já erradicadas na região: sarampo, rubéola e poliomielite. Também assinaram uma declaraçãoelaborada pela OMS para eliminar o comércio ilegal de tabaco.

MP DOS AGENTES 

Deve ser votado na terça o relatório da medida provisória que reajusta o piso salarial dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias. A informação é da Confederação que representa a categoria. De acordo com a presidente da Conacs, Ilda Correa, o texto foi construído “em sintonia” com as demandas dos agentes em uma “maratona de reuniões” com os relatores, deputado Raimundo Gomes e o senador Cássio Cunha Lima.

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