Transmissão oculta

Pesquisa da Fiocruz aponta que novo coronavírus já circulava no Brasil na primeira semana de fevereiro

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O novo coronavírus já circulava em países das Américas e da Europa bem antes de os primeiros casos serem registrados. Por aqui, a introdução pode ter acontecido no fim de janeiro e a transmissão pode ter começado na primeira semana de fevereiro – bem antes do primeiro caso oficial, detectado no dia 25 daquele mês – e também do Carnaval. A conclusão é de um estudo da Fiocruz feito em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo e com a Universidade da República do Uruguai. 

Divulgada ontem, ainda sem revisão dos pares, a pesquisa olhou para o aumento nos registros de mortes em diversos países para concluir que havia uma “transmissão comunitária oculta” acontecendo até quatro semanas antes do SARS-CoV-2 ser detectado pelas autoridades de saúde. Portanto, enquanto os países monitoravam os viajantes e confirmavam os primeiros casos importados da covid-19, a doença já tinha se instalado em seus territórios.

Segundo o trabalho, na Europa, a circulação começou aproximadamente em meados de janeiro na Itália e entre final de janeiro e início de fevereiro em Bélgica, França, Alemanha, Holanda, Espanha e Reino Unido. O começo de fevereiro também foi o período de início da disseminação na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos.

No Brasil, os pesquisadores combinaram o exame dos registros de óbitos a outras evidências para concluir que a transmissão local da covid-19 começou no início de fevereiro. De acordo com o InfoGripe, sistema da Fiocruz que monitora as hospitalizações de pacientes com síndrome respiratória aguda grave (SRAG), já havia mais internações do que o normal desde meados de fevereiro. Além disso, divulgaram, análises moleculares de amostras de SRAG detectaram um caso de infecção pelo novo coronavírus no Brasil entre 19 e 25 de janeiro. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi avisada pela China sobre a circulação de um provável novo vírus no dia 31 de janeiro. No dia 2 de janeiro, o organismo ativou o sistema de gerenciamento de incidentes, que liga o sinal de alerta em seus escritórios regionais e nacionais. Ou seja, há problemas na vigilância epidemiológica que precisam ser reconhecidos e solucionados – inclusive nas nações mais ricas.

Ontem, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, conhecido pela sigla CDC, divulgou um relatório que aponta justamente a ineficácia da vigilância da Califórnia, estado que é a maior porta de entrada para viajantes da Ásia naquele país. Por lá, cerca de 11 mil viajantes vindos da China e, depois, do Irã foram identificados e monitorados entre 5 de fevereiro e 17 de março. Mas o esforço começou tarde demais. O documento reconhece, contudo, que é difícil investigar uma doença respiratória como a covid-19, cuja transmissão começa bem antes do surgimento dos primeiros sintomas. E também que o fluxo nos aeroportos é enorme, e não há pessoal suficiente que dê conta do monitoramento. O relatório diz ainda que tudo teria sido mais efetivo se houvesse informações mais acuradas sobre os viajantes – o que pode apontar para o início de uma era de grande devassa na vida pessoal dos cidadãos. 

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