Todos os olhos na Anvisa

Agência reguladora “hoje está a serviço do governo” e pode sofrer pressão para segurar processos, dizem ex-diretores. Servidores prometem resistir, enquanto Anvisa segue negando interferências

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A Anvisa autorizou o Instituto Butantan a importar as seis milhões de doses da CoronaVac que virão prontas da China. Mas a outra parte do pedido, a importação excepcional dos insumos necessários para a produção nacional de 40 milhões de doses da candidata à vacina, não foi atendido ainda

A decisão da agência foi tomada apenas um dia depois que o diretor-geral do instituto, Dimas Covas, criticou o que considerou um atraso inexplicável na autorização. A Anvisa, aliás, nega que tenha havido demora. Segundo a agência, “foram identificadas discrepâncias” no pedido – a repórter Natália Cancian nota que a Anvisa não detalha que problemas seriam esses.

Nesse clima de suspeitas alimentado pelo presidente Jair Bolsonaro, todos os olhos estão voltados para a agência reguladora. Por um lado, a Associação dos Servidores da Anvisa afirmou que não serão toleradas pressões no desempenho dos seus trabalhos e que as vacinas contra a covid-19 serão avaliadas segundo padrões técnicos e científicos. 

Por outro, Willian Dib – que até pouco tempo comandava a agência – afirma que embora os técnicos continuem fazendo excelente trabalho, “os secretários da saúde têm de ter vários senões”. “Infelizmente, a agência hoje está a serviço do governo”, disse à Coluna do Estadão. Lembremos que Dib já havia indicado pressão no ano passado. Na época, o assunto que incomodava o Planalto eram as regras da cannabis medicinal. 

“Do ponto de vista legal, não há possibilidade nenhuma de interferência do presidente. Do ponto de vista político, claro que existe. Negar o registro a Anvisa não pode. Ela tem que entregar o que a lei exige, havendo condições técnicas, mas segurar o processo é possível”, explica ao El País Gonzalo Vecina, sanitarista que foi o primeiro diretor da agência.

E tentativas de controle externo surgem: o senador Humberto Costa (PT-PE) apresentou na sexta um projeto para a criação de uma comissão que acompanhe o registro das vacinas.

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