Sônia Fleury analisa os compromissos de Lula com a Saúde

• Margareth Dalcolmo reflete sobre o futuro • Corte de verba de atenção a gestantes • Grande alta na emissão de gases-estufa • Idosos em presídios brasileiros •

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Sônia Fleury vê os compromissos de Lula com a Saúde

Uma das principais teóricas da reforma sanitária, Sônia Fleury elogiou as propostas concretas da campanha de Lula para o SUS, em fala para o Outra Saúde. “Isso inclui o aumento do financiamento e a volta de programas importantes como Mais Médicos e Farmácia Popular. Como inovação, o investimento no Complexo Econômico e Industrial da Saúde.” Ela também reflete sobre o enorme espaço aberto deixado pela falta de coordenação do governo federal no combate à pandemia: “o maior papel dos Estados já havia se iniciado com a estratégia de regionalização mas, com certeza, foi potencializado na pandemia”. Vê espaço para os estados fazerem planejamentos regionais, como foi com iniciativas como o Consórcio do Nordeste, que “alcançaram formas de coordenação que se mostraram muito eficientes para o enfrentamento da pandemia”. Continua: “Os municípios, na maioria, não têm recursos suficientes para atender plenamente às demandas de saúde. Os estados podem planejar formas de organizar a oferta em polos regionais mais efetivos. Não é para esvaziar a coordenação do ministério, é para acrescentar”.

Maior desafio será relação do público com o privado

Sônia preocupa-se, principalmente, com o impacto que terá o grande arco de alianças estabelecido em nome da defesa da democracia e para garantir a vitória nas eleições: “Inclui atores e instituições com claros interesses no fortalecimento dos serviços privados em articulação ao SUS, em clara e desleal disputa por recursos públicos. Questões sobre a gestão dos serviços, em um federalismo mais horizontalizado que emergiu no vazio deixado pelo governo federal no combate à pandemia, certamente serão importantes e exigirão uma repactuação do nosso federalismo na saúde”. 

Margareth Dalcolmo: estamos prontos para recuperar o Brasil

Em sua coluna no jornal O Globo, a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo analisou, a partir do direito à saúde, sofrimentos vividos na pandemia e envelhecimento da população. Ela pede uma repactuação nacional em torno das necessidades prementes da população e aponta o sistema público de saúde como um dos setores chaves. “O país que é capaz de realizar quase 150 mil procedimentos cardíacos por ano, (e que durante a pandemia se reduziu para 40 mil) hoje enfrenta cerca de 60 mil pessoas com doenças crônicas ou agravadas ou consequentes da covid-19 à espera de procedimentos.” Continua: “Sabemos os gravíssimos problemas a enfrentar e recuperar. Profissionais da saúde, estamos prontos. As instituições públicas brasileiras, leia-se universidades federais e estaduais, Fiocruz, Butantan, e inclusive organizações privadas, estiveram à frente e de modo consistente, produzindo conhecimento, estudos nacionais e em colaboração com prestigiosos grupos internacionais, nos colocando nesse patamar competitivo, e sendo o 11º país em publicações científicas sobre a pandemia entre os milhares de referências sobre a covid-19 em diferentes domínios, desde a medicina, sociologia e economia”.

Com mortes maternas em alta, governo corta verba de atenção a gestantes

Era ainda construção e já é ruína: o programa Rede de Atenção Materna e Infantil (Rami) foi desenhado no final de 2021, mas já está sofrendo cortes pelo governo Bolsonaro. A estimativa é do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), que calculou perda de R$ 18 milhões no orçamento. Outras áreas da Saúde que também sofreram diminuições são o HIV/aids, a pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação em saúde e o programa Médicos pelo Brasil. O ministério da Saúde nega os cortes, mas a redução de 63% na pasta e a análise feita pelo Ieps no custeio da implementação de políticas da Rami contrariam o que está sendo anunciado. O Rami foi elaborado para substituir a Rede Cegonha, e alguns de seus atributos, como a previsão de ambulatórios e leitos para gestações de alto risco, eram vistos como uma luz no fim do túnel para a grave situação em que se encontram os números de morte materna no Brasil. Em 2019, registrávamos 57 mortes a cada 100 mil nascidos vivos – em 2021 o número saltou para 107.

Efeito estufa: Brasil tem alta recorde nos gases, em especial pelo desmatamento

O crescimento de emissão de gases do efeito estufa em 2021 foi o segundo maior em todos os tempos – alta de 12% em relação a 2019, que perde apenas para o ano de 2003. A descoberta foi feita pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima. Essa já seria mais uma notícia terrível do governo de Jair Bolsonaro, mas piora: quase metade dessas emissões se deu por conta do desmatamento, que está em crescimento em todos os biomas brasileiros. No entanto, outros setores da economia também tiveram alta nas emissões: 12,2% na energia, 8,2% nos processos industriais e 3,8% na agropecuária. Os números da indústria se aproximam aos de 2014, o que indica, segundo pesquisadores responsáveis que falaram à reportagem do Valor, que há um baixo ganho de eficiência nessas atividades. Os gases do efeito estufa são aqueles capazes de absorver a radiação infravermelha refletida pelo planeta, causando o aquecimento global. Entre os principais, estão o dióxido de carbono, metano e óxido nitroso.

Como vivem os idosos encarcerados?

Segundo a pesquisa Condições de saúde e qualidade de vida dos presos idosos do estado do Rio de Janeiro, realizada pela ENSP/Fiocruz, as pessoas com mais de 60 anos que estão presas passam por dificuldades acentuadas, causadas por problemas de saúde. No RJ, entre os entrevistados, 74% têm problemas de visão não acompanhados, dificultando atividades; 60% não têm a maioria dos dentes, dificultando a alimentação. A incontinência urinária também é agravada pela superlotação de celas, que dificulta a ida ao banheiro durante a noite, por exemplo. A alimentação não é adequada, segundo 92% dos entrevistados, tampouco o acesso a medicamentos, para 89% deles. A pesquisa conclui que seria recomendável um presídio próprio para maiores de 60 anos, que pudesse oferecer melhores condições de saúde e profissionais treinados para atendê-los.

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