Semana dos 30

O olhar do Globo sobre os 30 anos da Constituição.

Sessão de promulgação da Constituição de 1988

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Essa e outras notícias aqui, em oito minutos.

01 de outubro de 2018

SEMANA DOS 30

Nesta sexta-feira a Constituição brasileira vai completar 30 anos – com ela, o SUS. O Globo deu ontem várias reportagens sobre a Carta Magna. Chamou fontes que participaram da sua elaboração como constituintes, mas todos, digamos, com posicionamentos políticos bem específicos. Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Paulo Delgado são alguns dos nomes. O tom foi o da necessidade de “reformas para abrir caminhos à saída dos impasses econômicos e políticos”.

“Três décadas depois, uma conta pesada na forma de impostos”, diz a manchete de uma das matérias, explicando, no primeiro parágrafo, que a nossa carga tributária alta é fruto dos “direitos garantidos”. Maílson da Nobrega, secretário-geral da Fazenda na época, foi entrevistado. Para ele, “Uma das alternativas seria retirar da Carta assuntos que deveriam ser objeto de lei ordinária. Uma outra solução seria fazer uma nova Assembleia Constituinte, mesmo com riscos”.

A primeira proposta é destrinchada por Nelson Jobim, constituinte e ex-presidente do STF, que chega a falar que se precisa  “lipoaspirar” a Constituição. Roberto Brant, também autor da Carta, diz que “Quem ganhar terá de fazer isso [“desconstitucionalizar temas de reformas]. Ficou impossível governar”.

O número de emendas – 99, ate agora – foi objeto de outra reportagem. A que cria o teto dos gastos não foi citada, mas as que tratam da legalização da vaqueijada e da tributação de CDs, sim.

O DEBATE DE ONTEM 

A saúde, como tem acontecido, não apareceu muito no debate da Recordcom os candidatos à presidência. Alckmin perguntou a Boulos sobre suas propostas para a área. “O primeiro passo é desfazer o estrago que o desgoverno do Temer fez com o apoio do seu partido, a emenda do Teto dos Gastos. Quem vier aqui falar de saúde e educação e não se comprometer a revogar este estrago está mentindo”, disse o candidato do PSOL, completando que se deve “enfrentar a privatização da saúde”, “fazer rico pagar imposto e enfrentar o bolsa banqueiro”.

Alckmin disse o que tem dito sempre, ou seja, que o teto só é necessário porque “o PT quebrou” o país. Garantiu que vai investir na saúde e que esta área, como a educação, está fora da emenda. Ele já tinha jogado essa frase em debate anterior, mas na ocasião ninguém o ‘corrigiu’. Só que ontem teve tréplica. “Dizer que a saúde está fora da PEC do teto é uma mentira”, falou Boulos. Ele ressaltou ainda a necessidade de fortalecer a atenção básica e as equipes de Saúde da Família.

Cabo Daciolo segue com suas participações estranhas, e falou que resolver o problema da saúde, da educação e do transporte é simples e rápido. Basta colocar os filhos de militares e políticos no hospital público e na saúde pública.  “Eles não querem resolver porque eles querem o caos. Por trás de tudo existe uma ordem, a grande ordem mundial, existe illuminati, existe maçonaria”, afirmou.

Fora do hospital, Bolsonaro não foi, mas, segundo o Estadão, começou a articular campanha para o segundo turno e possíveis formações de ministérios. O administrador do Hospital do Câncer de Barretos, Henrique Prata, e o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), são cotados para chefiar a Saúde.

AS VICES

As candidatas a vice-presidente – Ana Amélia (vice de Alckmin), Manuela D’Ávila (de Haddad), Kátia Abreu (de Ciro) e Sônia Guajajara (de Boulos) participaram de um evento promovido pelo El País e pelo Instituto Locomotiva. Foram vários os temas. Sobre aborto, Ana Amélia disse que defende a manutenção dos casos já previstos na Constituição, mas sem prisão das mulheres que abortam em outras circunstâncias – em vez de irem presas, elas deveriam “realizar trabalhos sociais”. Já Sônia Guajajara disse que “ninguém é a favor do aborto, o que a gente defende é a vida das mulheres. O Estado tem a obrigação de oferecer um atendimento gratuito e de qualidade. [O aborto seguro] tem que ser uma obrigatoriedade do Estado”. Todas apoiam o movimento #elenão, que, organizado pelas mulheres, ontem levou centenas de milhares de pessoas às ruas, nas capitais e em pequenas cidades.

OS CANDIDATOS E OS PLANOS

G1 perguntou às equipes de saúde aos cinco candidatos mais bem posicionados nas pesquisas sobre seus posicionamentos em relação à saúde suplementar, mas a campanha de Bolsonaro não respondeu. Participaram Henrique Javi (da equipe de Ciro), Arthur Chioro (de Haddad), David Uip (de Alckmin) e Márcia Bandini (Marina).

Nenhum se disse a favor de planos de saúde com franquia nem da criação de planos populares. Javi disse que a relação entre o governo e os planos deve ser para “entregar o melhor para a população”. Uip pregou a “transparência total” da ANS, enquanto Márcia defendeu a necessidade de aprimoramento da agência, evitando conflitos de interesses na direção e melhorando a representação de usuários. Chioro acredita que o governo precisa organizar o setor privado como provedor de bens e insumos e como prestador de serviços complementares.

NA CRISE

O mercado de planos de saúde encolheu um pouco, mas, segundo o Estadão, há nichos com crescimento. Como o da companhia britânica Bupa, dona da Care Plus, que vende planos para quem quer cobertura fora do Brasil. O faturamento cresceu 17% em 2017.

SERÁ QUE É CONFIÁVEL?

Neste mês, um dos até então mais respeitáveis cientistas de alimentos dos EUA, Brian Wansink, teve sua carreira encerrada de forma dramática. A revista JAMA retirou seis de seus estudos por questões sobre sua “validade científica”, outros sete trabalhos já tinham sido retirados por razões semelhantes e, por fim, uma investigação na Cornell University, onde ele atuava, mostrou  “má conduta acadêmica em sua pesquisa e bolsa de estudos, incluindo relatórios errados de dados de pesquisa”. O pesquisador, que já havia admitido erros, se demitiu. A cada ano, 1,4 mil artigos são retirados do ar, mas o caso de Wansink se destaca porque ele era um “queridinho” da mídia, já tendo sido fonte de mais de 60 matérias da Times, por exemplo.

Depois do escândalo, o New York Times fez uma matéria sobre a problemas de pesquisas na área da nutrição.  Uma prática do laboratório de Wansink, chamada de p-hacking, é comum em estudos da saúde e, especialmente, envolvendo alimentos. É “o processo de executar análises exaustivas em conjuntos de dados para identificar sinais sutis que poderiam não ser dignos de nota. Os críticos dizem que é o mesmo que lançar uma rede ampla e depois criar uma hipótese para apoiar quaisquer descobertas, escolhidas a dedo, que pareçam interessantes – o oposto do método científico”, diz o texto. Por isso é tão comum ter estudos (e manchetes de notícias) que apontem para direções totalmente opostas, tipo uns afirmando que café protege contra doenças cardíacas e, outros, que causa as mesmas doenças.

Outro problema é a necessidade de se produzir tantos artigos. A conhecida pesquisadora de nutrição Marion Nestle conta que há uma pressão enorme e uma análise recente descobriu que milhares de cientistas produzem um artigo a cada cinco dias. E o jornalismo é parte do problema, com repórteres sendo encorajados a produzir reportagens que rendam muitos cliques.

HIV NA CHINA

O número de pessoas infectadas pelo HIV na China subiu muito – 100 mil novos casos, ou um aumento de 14% no último ano. Só no último quadrimestre foram 40 mil. A matéria da Al Jazeera diz que o país já teve escândalos de infecção via transfusões de sangue, mas atualmente esse tipo de contaminação está praticamente zerada e quase todas as novas infecções se deram por via sexual.

SEM DORMIR

Partindo de dados públicos, o Guardian apurou que não para de crescer o número de crianças que chegam ao serviço de saúde com distúrbios de sono. Nos últimos seis anos, ele passou de 6,5 mil casos para quase 10 mil entre crianças e adolescentes com menos de 16 anos, e pesquisadores definiram a situação como uma “crise oculta na saúde”. O problema é mesmo nessa faixa etária – considerando todas as outras, o número se manteve mais ou menos estável, como leve declínio inclusive.

Segundo os especialistas entrevistados pelo jornal, há múltiplas explicações. Como pressões vindas da escola, de amigos e das mídias sociais. Tem também o uso crescente de telas, como de computadores e smartphones, cuja luz azulada suprime a produção do hormônio do sono.

PRECOCES

E por falar em crianças, o alto número de nascimentos prematuros está na última edição a revista da Fapesp. Entre 1978 e 2010, a proporção de bebês que nasceram na 37ª ou 38ª semana de gestação aumentou de 28% para 68%. E isso está relacionado ao número de cesarianas desnecessárias. A preocupação antigamente era com os que nasciam antes da 37ª semana, mas agora se sabe que nascidos entre ela e a 38ª têm mais risco de complicações nas primeiras semanas de vida e problemas leves no desenvolvimento cognitivo anos mais tarde.

PODE PERDER

A Opas fez um alerta: se até fevereiro de 2019 o Brasil não reverter os surtos de sarampo, vai perder o certificado de eliminação da doença.

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