São tantas emoções…

Ministro da Saúde diz saber pela imprensa que secretários rejeitaram sua diretriz sobre isolamento social

.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 12 de maio. Leia a edição inteira.
Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Não foi só o presidente Bolsonaro que pegou Nelson Teich de surpresa. Também na coletiva de ontem, o ministro da Saúde disse que soube pelos jornais que os secretários estaduais e municipais de saúde haviam rejeitado sua aguardada diretriz sobre medidas de isolamento social.

A orientação, prometida no dia 24 de abril, foi finalmente divulgada ontem, mas ainda não por completo. Prevê cinco níveis de restrições e distanciamento, desde “distanciamento social seletivo I” até “restrição máxima” (mas eles não foram detalhados). Cada nível deve ser adotado a partir das respostas a um questionário que envolve quatro eixos: capacidade instalada de leitos, indicadores epidemiológicos (número de casos, internações, mortes), velocidade de crescimento e mobilidade urbana.

Para ser publicado como portaria, o documento precisaria de consenso com o Conass e o Conasems, conselhos que reúnem os secretários. Só que isso não aconteceu: “Para mim foi uma surpresa enorme. No sábado, a discussão foi absolutamente técnica. O que me foi passado é que havia um consenso. Naquele momento, não tinha um posicionamento, um questionamento, alguma crítica, como a que a gente teve hoje do Conass em relação ao modelo”, disse o ministro.

Estadão tinha dado mais cedo a notícia da rejeição. Os conselhos argumentam que é inoportuno lançar essas regras em meio ao aumento de casos e mortes, porque fazer a discussão poderia dar a entender que já é possível falar em flexibilização. Eles colocam também outra dificuldade de ordem prática: para seguir a matriz, devem se basear em dados como o número de servidores com sintomas de gripe, a disponibilidade de equipamentos de proteção individual para cada um deles . De acordo com os secretários, seria inviável levantar esses dados porque eles mudam diariamente.

Depois da declaração de Teich, o presidente do Conass Alberto Beltrame disse que a apresentação feita pelo Ministério foi “incompleta e titubeante” e que a Pasta “esquivou-se das perguntas, adiando maiores detalhes para quarta-feira”. Falou ainda sobre a falta de dados: “O Ministério da Saúde não tem capacidade de monitoramento das informações em tempo real”.

Teich disse à imprensa que também não esperava a crítica porque “havia quase uma cobrança para o Ministério se posicionar”. Essa cobrança vinha desde a época do ex-ministro Mandetta, que até chegou a divulgar critérios às pressas e tardiamente, pouco antes de ser demitido. Há muito tempo, com o novo coronavírus começando a avançar mais depressa, gestores e também pesquisadores de fato criticavam a falta de orientações do governo federal sobre como, quando e o quanto estados e municípios deveriam se fechar. Agora, quando já reina o caos, a pressão tem sido outra – no sentido de a Pasta dizer claramente que apoia o isolamento.

O ministro não quis publicizar o texto inteiro antes de uma nova conversa com os secretários: “Hoje eu estou assumindo que vamos chegar num consenso. Se isso não acontecer, vamos ver como vai encaminhar“. A reunião será amanhã.

A propósito, enquanto milhões de famílias se contentaram com um Dia das Mães por videochamadas para não colocar ninguém em risco, o ministro decidiu visitar a sua, de quase 90 anos. Na véspera, tinha ido ao Hospital Federal de Bonsucesso, no Rio. Quando entrou no elevador do prédio, ouviu de uma menina de seis anos que ele não poderia entrar ali. Perguntou então qual a capacidade do elevador, e a criança prosseguiu com a bronca: não se tratava disso, mas da necessidade de entrar só uma família de cada vez.

Leia Também: